16 de dez. de 2008

David contra os Golias


Após tumultuados nove meses de preparação, David Neeleman finalmente colocará para funcionar sua companhia aérea brasileira, a Azul - e a parte mais difícil começa agora.


Por Melina Costa
Revista EXAME - 11.12.2008


Aos 49 anos, o empresário brasileiro David Neeleman vê metáforas bíblicas para onde quer que olhe. Ao definir o funcionário ideal, Neeleman pensa em Jó, personagem do Antigo Testamento que perdeu fortuna, filhos e saúde, mas manteve inabaladas a fé e a atitude positiva na vida. Ele usou essa imagem para pautar as milhares de contratações que fez na JetBlue, a principal das companhias aéreas que criou. Mórmon convicto, Neeleman não bebe, não fuma e tem nove filhos com a mesma mulher. Aos domingos, desliga o telefone e dedica o dia inteiro à Igreja e à família. Em 2008, decidiu que ele mesmo protagonizaria uma metáfora bíblica. Em 15 de dezembro, começa a operar no Brasil a companhia aérea Azul, fundada por ele no início do ano. A história de Davi e Golias, porém, não chega a ser perfeita para ilustrar o tamanho do desafio que Neeleman enfrentará a partir de agora. O Davi bíblico, jovem e franzino, enfrentou um gigante e o matou com uma pedrada na testa. David Neeleman terá de bater dois ao mesmo tempo - as líderes TAM e Gol, que dominam quase 90% do mercado aéreo nacional. A Azul começará a funcionar com apenas três aviões. TAM e Gol têm, juntas, mais de 220 aeronaves. Esse desproporcional choque de forças representa a empreitada mais difícil da carreira de Neeleman.


Sua atitude diante desse desafio combina com sua história de vida. Ainda adolescente e morando nos Estados Unidos, Neeleman voltou para o Brasil para trabalhar como missionário mórmon nas favelas do Rio de Janeiro. Era proibido de ligar para os pais e vivia sob absoluta privação - mas diz que a sensação de que cumpria um dever amenizava os rigores do dia-a-dia. Neeleman conseguiu batizar mais de 200 pessoas. Trinta anos depois, ele enfrenta a dificuldade de sobreviver ao duopólio formado por TAM e Gol de maneira semelhante.


Com trânsito invejável entre grandes fundos de investimento, Neeleman poderia começar sua trajetória no cenário empresarial brasileiro com pompa, circunstância e, sobretudo, uma estrutura de primeira - mas optou por começar de forma um tanto mambembe. Inicialmente, as reuniões de trabalho da equipe da Azul eram realizadas na casa do diretor de marketing. Neeleman cochilava no sofá e acabou contratando a cozinheira da casa como encarregada de serviços gerais da Azul.




Após a mudança para a sede, Neeleman passou a comer no bandejão freqüentemente. Ele mora em hotéis e mal consegue tempo para ver a família, que ficou nos Estados Unidos. Como em sua época de missionário, ameniza o desconforto atribuindo a si mesmo uma missão. "O Brasil precisa de concorrência", disse ele a EXAME. Desde março, Neeleman já fez dezenas de palestras para convencer os brasileiros de que ele é a pessoa certa para aumentar a competição no mercado aéreo nacional. De acordo com seus planos, até o final de 2011 a empresa deve alcançar uma frota de 42 aeronaves, todas produzidas pela Embraer. Segundo projeções apresentadas pela Azul a investidores, a companhia deverá atingir um faturamento de 2 bilhões de dólares em 2013. Até agora, a empresa já anunciou quatro de seus destinos: Curitiba, Porto Alegre, Vitória e Salvador. Todas essas rotas terão origem no aeroporto de Viracopos, em Campinas, no interior de São Paulo. A empresa não revela seu plano de expansão de rotas, mas afirma que mais de 50 cidades médias e grandes poderão ser atendidas. Ainda segundo as projeções de Neeleman, a Azul começará a dar lucro já em 2011.


Como se sabe, planos de negócios têm por hábito parecer perfeitos no papel, para logo depois se provarem irreais. No caso da companhia aérea de David Neeleman, porém, os problemas começaram muito antes da execução do plano. O primeiro deles foi a barafunda burocrática brasileira. Mesmo depois de receber o contrato de concessão que permite o funcionamento da companhia, a Azul ainda teve de esperar uma semana por mais um documento, o horário de transporte (Hotran). Para liberar a autorização, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) dependeu de dois outros órgãos: a Infraero, que administra os aeroportos, e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, ligado ao Ministério da Defesa. Nos Estados Unidos, não existe burocracia semelhante. Além disso, Neeleman vem penando para entender a legislação trabalhista brasileira. Na JetBlue, ele ficou conhecido por cultivar relações criativas com os funcionários. As telefonistas trabalhavam de casa e estudantes podiam ser comissários de bordo por um ano. Na Azul, ele espera adotar soluções semelhantes para economizar na mão-de-obra, mas será mais difícil. Inicialmente, sua intenção era organizar um esquema em que os pilotos trabalhassem 15 horas por dia e folgassem até 14 dias por mês, como acontece nos Estados Unidos. Segundo Neeleman, pilotos com jornadas maiores e, em compensação, mais dias em casa trabalham mais descansados. A lei que regulamenta a profissão de aeronauta, porém, determina que os pilotos brasileiros só podem trabalhar até 11 horas por dia. E não se muda essa regra. Ponto final. Para piorar as coisas, o sindicato ainda estuda fazer uma manifestação em que acusará a Azul de adotar práticas trabalhistas que colocam em risco a segurança dos passageiros.


Nos últimos meses, Neeleman também foi apresentado ao vaivém dos interesses de políticos brasileiros. Em discussão, as restrições ao uso dos aeroportos Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e Pampulha, em Belo Horizonte. Hoje, apenas aviões pequenos podem operar nesses aeroportos (salvo uma exceção no Santos Dumont para a ponte aérea Rio de Janeiro-São Paulo). O objetivo da regra é forçar o aumento do tráfego nos aeroportos mais distantes do centro de ambas as cidades - Galeão e Tancredo Neves, respectivamente. Em meados deste ano, porém, a Anac acenou com a possibilidade de liberar a operação de aeronaves maiores nos dois aeroportos. A Azul viu aí uma oportunidade única e começou a negociar o direito de usar o Santos Dumont como base de operações. Segundo executivos próximos à Azul, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mostrou-se favorável à abertura do aeroporto para a companhia. Logo depois, porém, voltou atrás. "Essa foi a maior decepção de Neeleman", diz um amigo. Cabral alega que a liberação do Santos Dumont vai esvaziar o Galeão - o que atrapalharia um possível processo de privatização do aeroporto. Já o governador mineiro, Aécio Neves, que acabou de concluir a obra de acesso rodoviário ao Tancredo Neves, afirma que todo projeto de desenvolvimento para a região do aeroporto ficaria comprometido. Diante disso, a Azul foi forçada a basear suas operações no aeroporto de Viracopos, em Campinas - um enorme baque. A Anac afirma que ainda vai rever as limitações.


Neeleman e sua equipe vêem justamente nas maquinações das rivais as razões por trás dos obstáculos criados pelo governo do Rio. "Não podemos subestimar o poder do lobby de TAM e Gol nessa questão", diz Pedro Janot, presidente da Azul. A lógica é que as duas empresas teriam muito a perder com as mudanças, já que a Azul poderia entrar em dois aeroportos estratégicos. Oficialmente, a TAM informou que a abertura dos aeroportos é uma decisão que cabe apenas às autoridades aeronáuticas, e a Gol negou o lobby. Em outras frentes, porém, as concorrentes começaram seu ataque à iniciante Azul de forma bastante clara. A Gol anunciou no início de dezembro que dará grandes descontos nas rotas em que a Azul começará a operar. No dia do fechamento desta edição, a passagem Campinas-Curitiba custava 51 reais. A Gol nega que a promoção seja uma resposta à Azul. Em outras épocas, quando surgiu uma novata que ameaçou o duopólio, as duas líderes não hesitaram em baixar os preços. Foi assim, por exemplo, com a BRA, maior ameaça recente (e que acabou implodindo sozinha). Diante da reação das concorrentes, a Azul já admite que não conseguirá, de imediato, oferecer tarifas mais baixas - o plano inicial era ter passagens 35% mais baratas.


Engana-se, porém, quem pensa que os problemas de Neeleman se resumem a burocracia, ira sindical e guerra de tarifas. Isso porque há enormes dúvidas quanto à viabilidade do modelo de negócios proposto por ele. "Se a estratégia de Neeleman vingar, rasgo meu diploma de aeronauta", diz um alto executivo do setor que não quis ser identificado. O motivo para tanta descrença é o fato de que a Azul oferecerá vôos sem escala entre cidades médias e grandes - um nicho de mercado pouco explorado pelas duas maiores companhias brasileiras. TAM e Gol estruturaram um intrincado modelo de conexões em que seus aviões param em aeroportos intermediários antes de chegar ao destino final. Essa foi a maneira encontrada para encher os aviões e, portanto, tornar os vôos rentáveis. Executivos de ambas as companhias ouvidos por EXAME afirmaram que não há demanda para vôos sem escalas no Brasil, especialmente aqueles que ligam cidades médias.


Neeleman, claro, discorda. Segundo o empresário, a Azul tem o modelo de avião certo para vôos sem escala: os jatos da Embraer com capacidade para pouco mais de 100 passageiros. Os menores aviões das rivais levam até 144 pessoas. O que se verá, a partir de agora, é um choque entre duas visões opostas. Investidores como Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio do fundo Gávea, acreditam nos planos de Neeleman. "Ele entende do assunto e tem um histórico vencedor", diz Fraga, um dos investidores da Azul. O cenário que se aproxima, porém, não é exatamente o que Neeleman esperava. Quando anunciou a criação de sua companhia, no início do ano, o número de passageiros crescia a uma taxa anual de 13% no Brasil. Esse ritmo diminuiu para 10% no decorrer de 2008, devido à crise global. E as estimativas apontam para 5% no ano que vem.

Para Neeleman, porém, esse obstáculo é contornável. Em 2007, o conselho da JetBlue forçou sua saída da presidência da companhia, naquela que é a maior derrota de sua carreira. Depois disso, fracassar de novo não é uma opção. "Minha saída não foi nada boa", diz ele. "Mas Deus fecha uma porta e abre outra."


11 de dez. de 2008

Turma Mestrado em Ciências Contábeis - FACC/UFRJ


Último dia de aula: Turma Mestrado em Ciências Contábeis - FACC/UFRJ

Sped: uma revolução no país do "jeitinho"!

Sped: uma revolução no país do "jeitinho"!
Sou um entusiasta do projeto Sped. Acredito que hoje todos os que lêem este artigo sabem que Sped significa Sistema Público de Escrituração Digital, que engloba três projetos: Nota Fiscal Eletrônica, Escrituração Fiscal Digital e Escrituração Contábil Digital, também conhecidos como NF-e, Sped Fiscal e Sped Contábil.
São projetos bastante complexos e, conseqüentemente, muito onerosos, tanto para a União e para os estados quanto, principalmente, para as centenas de milhares de empresas que têm de se adaptar. O custo total está na casa de bilhões de reais. Algo em torno de R$ 100 bilhões nos próximos dois anos.
O custo é alto, mas e os benefícios? No meu entender, são muitos no médio prazo e muitíssimos no longo. O principal objetivo do projeto Sped é, sem disfarces, forçar os agentes econômicos a cumprir seus deveres estipulados em lei, induzir agentes informais ou semiformais (ou seja, sonegadores) a "andar na linha" e, em última análise, aumentar a arrecadação.
Leis existem para serem cumpridas. Não faltam leis para melhorar o Brasil, o que falta é o seu cumprimento e punição para os infratores. O Brasil é conhecido internacionalmente e, infelizmente, se orgulha disso, como o "país do jeitinho". Aqui tudo se contorna, se ajeita, é dando que se recebe, seu guarda eu não sabia, alivia pra mim, toma aqui sua cervejinha, deixa por isso mesmo, também quero essa boquinha, para vender para governo tem que pagar propina, corromper não é imoral, imoral é ser corrompido, e por aí vai.
A Justiça deveria fazer valer as leis, mas é morosa, burocrática e humana também, ou seja, corruptível. Mas isso é outro capítulo, sobre o qual eu não saberia discorrer, a não ser como espectador incapaz, frágil e impotente como qualquer brasileiro.
Pois bem, e onde entra o Sped? O Sped entra porque é o agente que obriga as empresas a se abrirem, a serem transparentes em sua operação. Com o Sped as empresas terão que informar, em "real time", seu faturamento, sua geração de impostos, sua contabilidade. É como se você estivesse em permanente fiscalização on-line. Isso dificulta, em muito, a sonegação, as operações "não contabilizadas" (termo consagrado atualmente), enfim, a venda sem nota, a maracutaia, o "caixa 2" e outras baixarias tão comuns nos países atrasados.
Posso parecer ingênuo. Não é uma aposta, é uma esperança. Mas é uma esperança bem fundamentada na tecnologia, na disponibilização on-line de informações que possibilitam o cruzamento de dados, a auditoria imediata pelos computadores da Receita Federal e das secretarias de Fazenda. É como se milhares de fiscais estivessem escrutinando seus dados à velocidade da luz e, se algo parecer estranho, não usual, fora dos padrões, então manda um fiscal humano investigar de perto. Meu entusiasmo, mais do que uma aposta, é um desejo. Desejo de ver o Brasil melhorar, tornar-se mais seguidor das regras de negócio, mais desenvolvido, mais competitivo. Mais honesto.
Com mais gente pagando impostos, com aumento de arrecadação (nunca vi nenhum número oficial, mas estimo que possa ser da ordem de brutais 20%), nós, empresários, esperamos e exigiremos também uma diminuição da carga tributária que, de tão alta, é o maior estímulo à sonegação. Creio e espero que isso forme um círculo virtuoso de maior base de contribuintes - menos sonegação - mais arrecadação - que possibilita menor carga tributária -; mais contribuintes - menos sonegação -; maior arrecadação.
Como brasileiro, como cidadão e como contribuinte, quero acreditar que o maior ganho que teremos com o projeto Sped será didático. Assim como aprendemos a usar e confiar no cinto de segurança porque ele nos foi imposto, o Sped poderá ensinar os agentes econômicos a serem mais corretos, mais cumpridores, menos subdesenvolvidos. Pode moralizar nosso estilo de negócios, nos tornar mais parecidos com os vencedores, nos fazer mais competitivos no mercado global. Pode, e isto é apenas um sonho meu, promover uma mudança cultural no sentido da lisura e da ética. Espero que o Sped seja mesmo uma revolução.
Abaixo o jeitinho!
Fonte: Gazeta Mercantil - 11/12/2008 - Caderno A - Pág. 3 -WERNER DIETSCHI

Convergência em Português

O Ibracon prepara guia para convergência
Gazeta Mercantil – 3/12/2008
Em apoio a esta ação, o Ibracon está preparando a tradução oficial do Manual do IASB 2008.
O documento terá os pronunciamentos originais desse organismo, conjuntamente com exemplos ilustrativos e as bases de conclusão. E, por isso, servirá de importante fonte de consulta no processo de adoção das normas emitidas pelo CPC.
Dentro desse mesmo projeto de tradução de normas, há um ponto que interessa bastante às pequenas e médias firmas de auditoria. Trata-se de um guia de aplicação de normas de auditoria quando o objeto do exame é um jogo de demonstrações financeiras de pequenas e médias empresas, clientes "naturais" dessas firmas de auditoria.
O guia, chamado oficialmente de "Guide to Using International Standards on Auditing in the Audits of Small - and Medium-sized Entities", foi produzido pelo Small and Medium Practices Committee da IFAC e é um manual prático para a aplicação das normas contidas no manual principal, quando o auditor examina demonstrações financeiras de pequenas e médias empresas.
Ricardo Rodil - Diretor de desenvolvimento profissional do Ibracon

10 de dez. de 2008

Sped e a Segurança

O spead contábil é seguro?
Por Hugo Amano
Jornal do Comércio do Rio de Janeiro - 10/12/2008
É inegável que a adoção do sped contábil representa um grande avanço da Receita Federal no que se refere à desburocratização e automatização de todo o processo de prestação de contas e transparência nas empresas brasileiras. Suas vantagens, bem como as dificuldades iniciais de adaptação ao novo sistema, já foram amplamente discutidas. Mas as vulnerabilidades também pegam carona neste novo modelo.
O que as companhias e os seus departamentos de contabilidade devem pensar ao terem de colocar em ambiente on line todas as informações contábeis e fiscais da empresa? Qual a segurança que a Receita oferece para isto? Até o momento, as questões ainda não foram respondidas de forma clara. (...)
O cenário causa-nos certo pânico. Quais as medidas tomadas para coibir o roubo, extravio ou vazamento de informações? Sabemos que na rua Santa Ifigênia ou na 25 de marco, temos venda de cadastros empresariais atualizados. Se nem os computadores da Nasa e do Pentágono são seguros, devemos confiar nos da Receita? Para que as empresas deixem os seus dados lá, é necessário haver uma maior garantia de segurança. (...)

Férias chegando!


Fonte: Site

Para que servem os analistas?

Para que servem os analistas?
Por Tiago Lethbridge
Revista EXAME (27.11.2008)
Parece que foi num passado distante, mas há apenas seis meses uma espécie de euforia coletiva tomou conta do mercado acionário brasileiro. Para a premiada equipe de análise do banco de investimento UBS Pactual, as ações de empresas brasileiras eram uma pechincha em maio de 2008. As razões para tanto otimismo eram de uma clareza científica. As economias de países emergentes, como se sabia, descolavam-se do desempenho dos países ricos. O Brasil havia acabado de receber o tão sonhado selo de país com grau de investimento, e o investidor estrangeiro invadiria a bolsa local na nova fase. A expansão do crédito garantia dinheiro a todos, dos compradores de carros àqueles que financiavam seu primeiro apartamento. O futuro, portanto, sorria para a bolsa brasileira. O UBS Pactual, então, cravou sua previsão para o fim do ano. O Índice Bovespa, que reúne as principais empresas do país e estava em seu recorde histórico, de 70 000 pontos, chegaria a 85 000 pontos até o fim de dezembro.
Entre as dez empresas que se destacariam no período estavam as varejistas Lojas Americanas e B2W, bancos e companhias do setor imobiliário. Por alguns dias, a coisa pareceu fazer um baita sentido. A bolsa brasileira continuou subindo até meados de maio - quando começou a descer a ladeira e não parou mais. Quem acreditou no sonho do "Ibovespa 85 000" perdeu dinheiro de gente grande. Das ações recomendadas, todas caíram até o fim de novembro. A que caiu menos despencou 50%. A pior, a construtora Rossi, perdeu mais de 80% do valor de mercado desde então. E o Índice Bovespa rastejava em 34 000 pontos no dia do fechamento desta edição. A projeção se provou errada da premissa à conclusão.
Esse, infelizmente, é apenas um exemplo do circo de horrores que vem sendo o trabalho dos analistas do mercado financeiro em 2008. Seguir recomendações de oráculos das finanças tem sido um péssimo negócio. Não importa se essas avaliações vêm de economistas agraciados com o prêmio Nobel, magos das planilhas ou investidores bilionários. A crise financeira global varreu do mundo trilhões de dólares em investimentos e levou junto a reputação de analistas econômicos de toda espécie. O macho alfa da turma, o apresentador de TV americano Jim Cramer, destacou-se nos últimos meses por sua capacidade de errar bisonhamente. Em outubro, quando o índice Dow Jones ficou abaixo de 10 000 pontos, Cramer berrou: "Peguem todo o seu dinheiro e comprem ações! Agora!". No dia seguinte, o índice caiu outros 500 pontos - no final de novembro, beirava os 8 000 pontos, queda de 20% em relação ao fundo do poço identificado por Cramer. Por onde se olhe, pipocam exemplos de trapalhadas de calibre semelhante feitas por iluminados que deveriam entender do que estavam dizendo. O analista Arjun Murti, do Goldman Sachs, virou celebridade ao prever, em 2005, que o barril de petróleo atingiria 100 dólares. Pois em maio o "Sr. Petróleo", como é (ou era) chamado, olhou em sua bola de cristal e viu o futuro - o barril subiria para entre 150 e 200 dólares no curto prazo. Hoje, compra-se um barril abarrotado de petróleo por 50 dólares ou menos. A verdade é que os mais bem pagos analistas do mundo estão, essencialmente, tão perdidos em meio à crise quanto qualquer um de nós.
O futuro atrapalhou
No Brasil, porém, ninguém errou tão feio - e com conseqüências tão dramáticas para milhões de pessoas - quanto os "especialistas" em ações. Esses profissionais estudam uma empresa, avaliam suas perspectivas futuras e dizem se os investidores devem comprar suas ações ou vendê-las, estipulando um preço-alvo para os próximos 12 meses. Nos últimos anos, os analistas brasileiros foram de um otimismo contagiante. Segundo um levantamento da agência Bloomberg, 55% dos mais de 7 000 relatórios disponíveis no mercado no início do ano recomendavam a compra de ações de empresas brasileiras. E míseros 3,8%, a venda. Os outros 41% recomendavam a misteriosa "manutenção" (mais sobre ela depois). Nos meses seguintes, a Bovespa e suas principais ações atingiriam seu pico histórico. Acertar o momento em que o mercado atinge o ápice é praticamente impossível. Mas, com as nuvens negras se aproximando da maior economia do mundo, não seria prudente orientar os investidores a embolsar o lucro dos anos anteriores? A proporção de recomendações de compra, porém, manteve-se inalterada durante o ano todo. E quem comprou ações em 2008 perdeu, e muito. Empresas como Vale, Petrobras e Gerdau perderam cerca de 50% de seu valor de mercado no ano. Mas essa é a parte amena da história. Ações de companhias como Agrenco, Tenda e Inpar, recomendadas pelos analistas no início do ano, desvalorizaram- se mais de 90%. Em alguns casos, a diferença entre o preço-alvo estipulado pelo analista e a cotação em novembro ultrapassou os 500%. Parece uma oportunidade de ouro. Mas, na verdade, números dessa magnitude indicam um micaço que havia sido vendido como barbada.

Nos últimos quatro anos, os investidores brasileiros foram apresentados a um fenômeno muito conhecido em mercados financeiros mais maduros - o excesso de otimismo dos analistas de ações. Como se vê pelos números do parágrafo anterior, é praticamente impossível encontrar recomendações de venda em relatórios. E a razão para isso é uma mistura potencialmente explosiva de conflitos de interesses que envolve o trabalho desses profissionais. Para que servem os analistas? Eles são funcionários de bancos e corretoras, pagos para orientar clientes a investir (alguns são muito bem pagos. Analistas seniores podem ganhar até 2 milhões de dólares num bom ano). Cada analista pode cobrir mais de 15 empresas. O problema é que, como os relatórios são distribuídos de graça aos clientes, a análise de ações não gera um tostão de receita para os bancos. Os empregadores podem, então, ganhar de duas formas com o trabalho dos analistas. A primeira é gerando negócios diários para suas corretoras, o que começa a explicar a mania de recomendar a compra de ações de maneira frenética. É na segunda forma, porém, que as coisas começam a se complicar um pouco mais. Uma das maiores fontes de receitas de bancos é a assessoria a empresas em processos de abertura de capital, emissões de dívida ou fusões e aquisições. E essas empresas são cobertas pelos analistas. "Bancos querem fazer negócios com empresas de capital aberto", diz Ricardo Rochman, professor da Fundação Getulio Vargas e um dos poucos pesquisadores brasileiros que estudam o desempenho de analistas. "Fazer uma cobertura favorável dessas empresas é um passo essencial para conseguir isso."
A influência desse conflito na qualidade das recomendações dos analistas foi estudada a fundo nos Estados Unidos - e o resultado não é nada bom. Um estudo de Harvard com 50 000 relatórios mostra que os bancos são muito mais otimistas com empresas que usam seus serviços com freqüência. Durante ondas de aberturas de capital, quando bancos lucram alucinadamente levando empresas à bolsa, esse viés atinge seu patamar máximo. Uma pesquisa da Universidade Cornell aponta que os bancos que coordenaram o IPO de uma empresa são péssimos na hora de avaliar o desempenho futuro da ação. Eles sempre erram para cima. De acordo com o estudo, o nível de erro dos analistas desses bancos chega a 50% em comparação às projeções de outras instituições. Há duas razões possíveis para isso. Segundo uma teoria, os bancos mais otimistas ganham os mandatos de abertura de capital, já que eles prometem aos empresários que irão à bolsa um valor maior que o oferecido pelos concorrentes. A outra tese é mais maldosa - os banqueiros simplesmente prometeriam ao cliente uma cobertura favorável para ganhar o mandato. Há muito a perder num caso de "excesso de independência" . O Merrill Lynch estava na disputa pelo mandato da petrolífera OGX, de Eike Batista. Mas Frank McGann, analista de energia do banco, não concordou com o preço estipulado por seus colegas. Os banqueiros temeram que ele recomendasse a venda das ações assim que iniciasse a cobertura e desistiram do negócio. O Merrill Lynch deixou de ganhar 40 milhões de dólares. "Você tem de aplaudir quando isso acontece", diz André Gordon, fundador da GT Investimentos.
Conselho de inimigo
A onda de IPOs brasileiros está repleta de casos que levantam dúvidas sobre o trabalho dos bancos de investimento (veja quadro acima). Todos eles foram vendidos pelos analistas com perspectivas de ganhos enormes, mas se provaram um mau investimento. Das 115 empresas que foram à bolsa desde 2004, 99 valem hoje menos do que valiam no dia do IPO. "Houve análises indecentes nesse período", diz Aquico Wen, diretor do fundo americano Legg Mason. O incidente mais polêmico envolveu a companhia do agronegócio Agrenco. O Credit Suisse, banco que levou a empresa à bolsa, recomendava em maio a compra das ações da Agrenco, indicando preço-alvo de 19 reais. Enquanto isso, a instituição se desfazia de ações da empresa. Pouco depois da divulgação do relatório, os donos da Agrenco foram presos e as ações caíram até chegar a 22 centavos em novembro. Mais uma vez, a relação dos bancos com as empresas de Eike Batista fornece dados interessantes. Na abertura de capital de suas três empresas (MMX, OGX e MPX), Eike pagou aos bancos quase 400 milhões de reais em comissões. Até hoje, a cobertura de suas empresas é amplamente otimista entre os bancos que ganharam esse dinheiro todo - isso apesar da queda superior a 80% das ações de todas elas no ano. Apenas o Itaú rebaixou a recomendação de MPX e OGX para neutro. Os outros bancos mantêm sua fé no toque de midas de Eike Batista, mesmo que a diferença entre os preços-alvo e a realidade continue aumentando. "Os analistas conhecem a verdade", diz Lucy Souza, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) de São Paulo. "Mas, para proteger seus empregos, não diziam o que achavam e acabavam esticando os preços."
O que torna esses conflitos mais perigosos é o fato de que o pequeno investidor não está atento à sua existência. Segundo uma pesquisa feita nos Estados Unidos, 87% dos investidores institucionais vêem um viés excessivamente otimista no trabalho dos analistas - e conseguem dar o desconto necessário na hora de seguir ou não suas recomendações. De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, grandes fundos compram moderadamente após recomendações de "forte compra", mas não seguem recomendações de compra. Já os pequenos investidores reagem imediatamente a todas as recomendações. Um dos motivos para isso, segundo os pesquisadores, é um problema de comunicação. Relatórios são escritos num código específico, feito para ser entendido por seu público-alvo, os grandes investidores. Com o passar dos anos, ficou combinado entre eles que uma recomendação de manutenção é uma forma educada de dizer: "Venda esta ação". Dessa maneira, o analista evita enraivecer a administração da empresa que cobre, o que poderia atrapalhar seu trabalho de coleta de informações e, também, os possíveis negócios do banco com a empresa. Quase 80% dos gestores de fundos americanos entendem dessa maneira. Já os pequenos entendem o "manter" como, bem, manter mesmo - ou seja, quem não tem a ação não deve comprar; e quem tem não deve vender. Analistas comemoram quando rebaixam uma ação para "manter" e o papel cai 50% em alguns meses. Pequenos investidores não conseguem entender de onde veio a pancada. "O trabalho deles não é feito para gente ingênua", diz o professor Ravi Jagannathan, especialista em finanças da Universidade Kellogg.
Os pré-analistas
No Brasil, os principais clientes dos bancos e das corretoras são os fundos estrangeiros, que não contam com equipes dedicadas à análise de ações brasileiras e, muitas vezes, têm perfil de investimentos de curto prazo. "Eles são úteis para captarmos a percepção do mercado", diz o diretor de um fundo estrangeiro no Brasil. "Leio todos os relatórios e converso diariamente com meus analistas favoritos, mas depois eu mesmo decido o que fazer com o dinheiro, sem prestar muita atenção no preço-alvo." Se têm um grande mercado nos gestores de hedge funds, por exemplo, os analistas encontram desprezo absoluto de investidores que pensam no longo prazo. O mais famoso deles é Warren Buffett, o homem mais rico do mundo, que ignora a fábrica de projeções que é o mercado financeiro. Buffett cunhou a famosa frase "Wall Street ganha dinheiro com a atividade. Você ganha dinheiro com a inatividade" . Ou seja, investindo e esquecendo que os analistas existem. E a outra: "Wall Street é o único lugar para onde as pessoas vão de Rolls-Royce pedir conselhos a quem pega metrô".
O desempenho dos analistas brasileiros chamou a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia pretende endurecer a regulação sobre o trabalho deles. "Detectamos um problema de falta de independência e qualidade", diz Carlos Alberto Rebello, superintendente da CVM. Alguns bancos já começaram a modificar seus departamentos de análise. O Itaú, por exemplo, instituiu que o número mínimo de recomendações de venda tem de ficar entre 20% e 30% do total. Antes, o número não chegava a 8%. Goldman Sachs e Merrill Lynch adotaram política semelhante recentemente. "Se nossa função é servir ao investidor, isso tinha de mudar", diz Ricardo Araújo, diretor de análise da Itaú Corretora. Depurações são comuns após momentos de excessos. Depois da explosão da bolha da internet, os departamentos de análise dos bancos de investimento passaram por uma transformação muito mais dramática. Durante a bolha, as análises feitas pelos bancos eram tão escandalosamente favoráveis às empresas clientes que os analistas se tornaram alvo de uma investigação liderada pelo então procurador Elliot Spitzer (que depois se tornou governador e se viu envolvido em escândalos de outra natureza). Foram encontrados e-mails internos em que analistas desmentiam as próprias análises. Os maiores bancos em operação nos Estados Unidos foram forçados a pagar uma multa de 1,4 bilhão de dólares em razão de suas análises distorcidas e tiveram de criar sistemas de controle para tentar evitar que o trabalho dos banqueiros de investimento contaminasse as projeções.
Em defesa dos analistas, é preciso dizer que eles não são o primeiro elo da cadeia de previsões econômicas que levou os investidores a afundar em 2008. Em seus cálculos para chegar ao que consideram o valor adequado de uma ação, dados como projeções de taxas de juro nos próximos anos, câmbio e crescimento econômico são de importância fundamental. "Antes de me criticar, você deveria perguntar ao departamento de macroeconomia do banco por que eles erraram do jeito que erraram", diz o diretor de análise de um dos maiores bancos de investimento do país. Em janeiro, as instituições consultadas pelo boletim Focus do Banco Central previam o dólar a 1,80 real no fim do ano. No fim de novembro, a moeda americana oscilava entre 2,30 e 2,40 reais - diferença suficiente para bagunçar qualquer projeção.
O samba do analista doido de 2008 serviu para mostrar a fragilidade dos modelos de previsão do futuro usados por economistas, analistas, grafistas e o resto da patota. Futurólogos do passado usaram diversos equipamentos para prever o que vinha por aí. Nostradamus dizia ver o futuro numa bacia de água. Os antigos usavam as entranhas de animais mortos para pressentir o que se avizinhava. Não há dúvida de que os modelos econômicos são muito mais complexos que 1 litro e meio de água do poço. O problema é que, por mais sofisticados que sejam, esses modelos não conseguem antever as mudanças que as decisões de bilhões de pessoas podem causar ao ambiente econômico. "Nós nunca teremos um modelo de risco perfeito", escreveu recentemente o ex-presidente do banco central americano Alan Greenspan, explicando por que foi tão difícil prever o tamanho da atual crise financeira. "Infelizmente, a economia é uma ciência social, embora os economistas finjam que não é", diz Jim ONeill, economista-chefe do Goldman Sachs, criador do termo Bric e futurólogo incorrigível. "Nós gostamos de achar que sabemos mais que os outros, mas esse claramente não é o caso."
Um dos problemas clássicos das previsões econômicas é a tendência de tratar o futuro como uma continuação das atuais regras do jogo. Assim, é praticamente impossível para um analista recomendar a venda de uma ação que só sobe há quatro anos. Durante a bolha da internet, os mais deslumbrados com a exuberância irracional achavam que a bolsa continuaria subindo indefinidamente - o livro Dow 36 000 foi um marco nesse aspecto. As previsões do Clube de Roma, grupo de cabeças notáveis que se reuniram no fim da década de 60 para discutir o futuro, são um exemplo desse tique. Na época, o consumo de matérias-primas vinha crescendo mais rapidamente que a oferta. Os notáveis concluíram que o fenômeno se perpetuaria, causando fome, pânico e crise em escala global. De certa maneira, ecoaram as previsões do pensador inglês Thomas Malthus. Segundo Malthus, a população mundial cresceria em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos evoluiria em progressão aritmética. Claro, sabe-se que não foi o que aconteceu. Os futorólogos do Clube de Roma (e muito menos Malthus) não anteviram a revolução alimentar da segunda metade do século 20 porque era simplesmente impossível. Isso porque fenômenos transformadores são quase sempre imprevisíveis. Não há entranha animal que faça mágica. Finalmente, economistas têm um forte incentivo a se manter dentro do consenso do mercado, principalmente em momentos menos voláteis. Analistas de ações, inclusive, manipulam o modelo financeiro para fazer sua projeção caber dentro da média estipulada por seus concorrentes. "Quem erra sozinho fica estigmatizado e corre o risco de perder o emprego", diz o analista de mineração de um banco estrangeiro. Parafraseando o economista inglês John Maynard Keynes, pode-se dizer que é melhor estar meio errado do que arriscar estar totalmente certo.
Claro, essa tendência universal de se esconder no meio da manada faz com que economistas do contra ganhem imensa popularidade durante uma crise que ninguém previu (ou quis prever). O popstar econômico da vez é Nouriel Roubini, o "Sr. Catástrofe", que teve a fama catapultada por ter previsto que a bolha imobiliária americana se transformaria numa crise sistêmica. Não é a primeira vez que isso acontece. Em 1928, Charles Merrill, fundador do Merrill Lynch, enviou uma carta a seus investidores em que recomendava vender ações e pagar suas dívidas. Merrill viu que o mercado iria virar. Em 1987, a economista Elaine Garzarelli, do Lehman Brothers, anunciou o iminente colapso da bolsa. Acertou em cheio e virou celebridade. O problema para esses gurus da catástrofe é que suas novas previsões são colocadas no microscópio - e, claro, eles erram com freqüência desconcertante. A Elaine Garzarelli pós-1987 é um caso simbólico. O estudo de suas projeções mostrou uma absoluta incapacidade de prever para onde o mercado iria. Suas previsões estavam certas apenas 38% das vezes. Acabou demitida em 1994. Se cuida, Roubini.
"O mercado enfrentará um período de muita volatilidade. Quando a confiança voltar, os investidores respirarão e voltarão às compras, de olho nas pechinchas. O risco, porém, é que uma recessão longa demais atrapalhe os resultados das empresas, pressionando as ações no médio prazo." Previsões como essa são tão comuns e ineficazes quanto prognósticos sobre a próxima rodada do Campeonato Brasileiro. Isso porque ignoram a palavrinha mais importante de todas - "quando". Nostradamus era um mestre na matéria. Nenhuma de suas centúrias indica quando se tornará realidade (seria muito dar uma idéia do milênio, ao menos?). O alemão Karl Marx previu que o capitalismo seria inexoravelmente substituído pelo comunismo. Mas não deu data. É por isso que os dons premonitórios de Nouriel Roubini devem ser colocados em seu devido contexto. O economista vem prevendo uma catástrofe americana desde o início da década. Quem acreditou nele há cinco anos e colocou seu dinheiro embaixo do colchão deixou de aproveitar um dos maiores ciclos de alta de que se tem notícia. "Em qualquer momento da história vai ser possível encontrar alguém dizendo que o caos vem aí", diz o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, do Ibmec. E, como a única certeza que se tem é que um ciclo de alta será seguido de um ciclo de baixa e vice-versa, o catastrofista acaba acertando uma hora ou outra.
Se economistas e analistas erram tanto, por que insistimos em ouvir suas previsões e atribuir a elas um caráter científico? (Os jornalistas de EXAME são réus confessos no caso.) Uma história ajuda a ilustrar a resposta.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o economista americano Kenneth Arrow (que ganharia um Nobel em 1972) foi convocado para liderar um grupo de pesquisadores. A missão era prever as condições meteorológicas nos campos de batalha com um mês de antecedência. Os estatísticos do grupo logo perceberam que as previsões não tinham o menor valor - ou seja, não eram diferentes de um chute qualquer. O grupo mandou um relatório a seus superiores informando que não enviaria as inúteis previsões. Veio, então, a resposta. "O comandante-geral sabe que as previsões não são boas. No entanto, ele precisa delas para fins de planejamento. " Tomamos decisões baseadas em previsões o tempo inteiro. Aceito aquela oferta de emprego? Devo ter filhos agora? Faço um financiamento? As empresas dependem de cenários para tomar decisões de investimento, contratações ou aquisições. Governos precisam de previsões para formular políticas. E o mercado financeiro usa expectativas para sua formação de preços. O futuro, portanto, vale muito dinheiro. "Previsões econômicas constituem parte vital do dia-a-dia de empresas e famílias", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Diante das incertezas que o futuro apresenta, é preciso avaliar os cenários, assumir o risco e decidir. Ou seja, apesar da crise atual, os economistas vão seguir tentando adivinhar o que vai acontecer. Os analistas continuarão recomendando ações. E empresários, jornalistas e consumidores continuarão levando essas previsões a sério - essa é a única previsão que esta reportagem se arrisca a fazer.

O Mercado de trabalho para profissionais de Contabilidade







Para contabilistas, crise é substantivo quase desconhecido
Por Marleine Cohen (Jornal Valor) - São Paulo, 29/09/2008 (Página G6)

O profissional de ciências contábeis está sendo caçado a laço pelas empresas. A terceira carreira no ranking nacional das mais procuradas (com 11,2% da oferta de vagas) - precedida apenas por engenharia e administração de empresas (com 22,9% do total) - é contemplada, de acordo com dados da Manager, com a oferta de 2.178 postos de trabalho em pequenas, médias e grandes empresas no primeiro semestre. Em 2006, foram abertas 3269 vagas em ciências contábeis. Em 2007, foram 3439, um aumento de 5,20%. Até o primeiro semestre de 2008, o número foi 40,97% maior que o do primeiro semestre de 2007.

O curso de ciências contábeis é um dos líderes também na oferta de estágios, segundo o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Em todo o país, a instituição mantém atualmente 5.601 estudantes de nível superior em ciências contábeis em programas de estágio e 232 alunos de nível técnico, havendo 70 outras vagas em aberto.
A demanda por jovens talentos da contabilidade está sendo impulsionada pela equiparação das normas brasileiras para balanços financeiros aos padrões internacionais. A procura é tamanha que nas chamadas big four - as quatro maiores firmas de auditoria do mundo - a contratação de jovens contabilistas acabou sendo antecipada este ano. Cada uma das empresas admitiu, em média, 500 novos trainees. Só na Ernst & Young, uma das maiores auditorias do Brasil, a absorção de recém-formados cresceu 30% em 2008, segundo Sérgio Romani, sócio de auditoria da empresa.

E há boas perspectivas para a carreira, num leque de mais de 30 especializações: investigador de fraudes contábeis, planejador tributário, auditor, consultor, contador internacional, entre outras. Em resumo, a nova fase sinaliza "uma nova profissão, que fala uma língua universal e mantém interlocução com os maiores investidores de qualquer lugar do mundo", de acordo com Antoninho Marmo Trevisan, presidente do conselho da BDO Trevisan.

"É uma reviravolta na contabilidade das empresas, nas próprias corporações e no dia-a-dia dos profissionais de ciências contábeis capazes de conferir à profissão uma projeção e uma valorização jamais vistas", avalia Fernando Henrique Almeida Marangon, diretor da Associação das Empresas de Serviços Contábeis do Estado de São Paulo (Aeson/SP) e sócio da Pena de Ouro Contabilidade e Assessoria Empresarial. Há anos, porém, Fernando Marangon, que também coordena o Núcleo de Jovens Empresários do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon/SP), vem identificando uma crônica erosão da mão-de-obra especializada, por conta da expansão da legislação brasileira. "Há tempos, a falta de mão-de-obra especializada é uma preocupação para o setor. A grande complexidade das nossas leis, assim como o crescimento econômico do país, têm esgotado no mercado a figura do profissional de contabilidade especializado", resume.

Ao todo, de acordo com dados fornecidos pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), referentes ao mês de julho, existem no Brasil 208.347 contadores atuando em mais de 67 mil organizações contábeis. Na região Sudeste concentra-se mais de metade desta mão-de-obra: 104.500 profissionais. É também o lugar em que se verifica o maior número de empresas contábeis em funcionamento: mais de 26.500. A região Norte, por sua vez, reúne o menor número de contabilistas, 13.533, e de empresas contábeis - pouco mais de 2.400.

Segundo Geuma Campos do Nascimento, sócia da Trevisan Outsourcing, se já havia oferta reduzida de profissionais de contabilidade no mercado nacional, a introdução do IFRS só veio agravar as coisas e servir de trampolim para o profissional da área. "A carreira de contabilidade está com forte demanda, principalmente depois da aprovação da Lei 11.638, que alterou normas e procedimentos contábeis, exigindo investimentos por parte das escolas e empresas na preparação e atualização de profissionais", explica. "São Paulo é o Estado que mais possui contadores e, mesmo assim, temos uma enorme demanda por profissionais na área. Com isso, podemos vislumbrar um grande mercado em outras localidades, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde a quantidade de contadores chega a ser a metade das outras regiões."

Por um lado, a premência das novas exigências legais; por outro, a falta de mão-de-obra especializada e, mais grave, uma verdadeira corrida ao modus operandi internacional. Afinal, como interpretar o IFRS, avalia Alfried Plöger, vice-presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), "um calhamaço de quase 2 mil páginas de preceitos contábeis", usado em uma centena de países com o objetivo de uniformizar as demonstrações financeiras? "Trata-se de um trabalho hercúleo."

Em todo o Brasil, a largada já foi dada: em entidades como o Conselho Regional de Contabilistas de São Paulo e o Sescon/SP, multiplicam-se os cursos; na Federação das Indústrias de São Paulo sucedem-se as palestras. Na Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), a ordem é o intercâmbio. "Convidamos preparadores, auditores, contadores, para que cada qual nos dê sua impressão; promovemos seminários com consultores porque somos os usuários de primeira hora deste instrumento", explica Reginaldo Alexandre, vice-presidente da entidade.

No Conselho Federal de Contabilidade, "o objetivo é capacitar", segundo Nelson Mitimaza Jinzenji, vice-presidente técnico. "Ciente de que a maioria dos profissionais de contabilidade regularmente registrados não está preparada para lidar com a nova escrituração contábil, porque a matéria de que trata a lei não está incluída na matriz curricular do curso de formação, o CFC adotou uma série de providências, atuando nas diversas áreas de formação." A entidade promoveu este ano um curso de contabilidade internacional direcionado aos professores de ciências contábeis indicados pelos Conselhos Regionais de Contabilidade de todo o país e estes, por sua vez, assumiram o compromisso de se tornarem disseminadores do conhecimento nos seus respectivos Estados. Também foram feitos seminários tratando dos assuntos abordados pela 11.638/2007 em diversos Estados e houve oferta de treinamento a distancia, através do sistema EAD. "Estudamos, ainda, em parceria com o Ministério da Educação, uma forma de poder influenciar na formulação das matrizes curriculares e opinar sobre os projetos de abertura de novos cursos de ciências contábeis, o que certamente adequará a formação aos novos desafios", diz Jinzenji.

O déficit de mão-de-obra especializada em balanços não é um problema apenas do Brasil. Uma pesquisa sobre escassez de talentos realizada em janeiro último em 32 países e junta a 43 mil empregadores pela empresa Manpower, da área de RH, apontou que os profissionais de ciências contábeis aparecem na lista das dez profissões mais requisitadas em 17 países. No Canadá, a mão-de-obra contábil de alto nível é a quarta mais procurada no mercado; nos EUA, a sexta. Em Hong Kong, aparece em terceiro lugar e na Índia está na quarta posição.

Espelho dessa demanda por especialistas em escrituração contábil de âmbito internacional é o intercâmbio de profissionais da área que poderiam assumir a função de multiplicadores na Ernst & Young do Brasil. A troca de quadros entre os escritórios da empresa, em todo o mundo, aliás, ganhou o nome de Global Exchange Program e, por conta da implantação do IFRS no país, está a todo vapor na filial brasileira, segundo Sergio Romani, sócio da empresa.

"Desenvolvemos um programa em três etapas: fazemos a certificação interna em IFRS dos sócios, gerentes e sêniors; mandamos nossos quadros para países como Canadá, Suíça, França, Inglaterra e Espanha para que trabalhem localmente em projetos de IFRS e sejam treinados no exterior e, por fim, tentamos identificar profissionais brasileiros ou estrangeiros que falem português nos escritórios da Europa para convidá-los a trabalhar no Brasil como multiplicadores internos, fazendo uma réplica, aqui, do que viveram lá fora", explica o auditor.

Inglaterra, Peru e Chile já forneceram talentos à E&Y brasileira. Paralelamente, a partir do último mês de abril, a empresa deu início à especialização de 140 novos profissionais recém-formados ou em formação, submetendo-os a um treinamento de cerca de 60 a 100 horas anuais.

Para o auditor, o setor passará por um período de adaptação até 2010-2011, quando as demonstrações financeiras consolidadas pelo padrão internacional se tornarão obrigatórias no Brasil. "Até lá", avalia Romani, "o ritmo acelerado de contratação de mão-de-obra especializada será constante".

O processo de adequação e de capacitação, segundo o diretor da Abrasca, Alfried Plöger, "não deve poupar nem mesmo o pequeno contador individual que trabalha no interior de Minas Gerais ou do Rio Grande do Sul." Este hiato também deve ser entendido como uma preciosa oportunidade de preparar escolas e alunos para as novas exigências da profissão. "As modificações devem ocorrer igualmente na grade curricular das universidades. Se não houver um programa de formação e treinamento por parte das empresas, associações e universidades, muito em breve o problema vai se agravar e poderá haver falta de profissionais com capacidade técnica e especialização", observa Fernando Marangon, da Aescon/SP.

A mesma aplicação compulsória das normas internacionais de contabilidade que deve valorizar a competência do profissional no Brasil, pode colocá-lo em cheque.

Mudanças no Ensino de Contabilidade

Escolas têm desafio de repensar ensino
Por Gleise de Castro (Jornal Valor) - São Paulo, 29/09/2008 (Página G4)

Para adequar-se ao novo mundo dos International Financial Reporting Standards (IFRS), os principais cursos de contabilidade do país estão empenhados em treinar professores e promover mudanças em seus currículos. Em comum, eles já dispõem há alguns anos, em sua grade curricular, de uma ou duas disciplinas sobre contabilidade internacional, que vêm abordando os novos padrões de demonstrações financeiras.

É o caso da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), que há cinco anos mantém em seu curso de graduação duas disciplinas desse tipo: uma básica e obrigatória, com duração de um semestre, onde são discutidos os conceitos econômicos necessários para a contabilidade internacional, com o entendimento dos mercados financeiro, de capitais e futuro, e outra optativa, um semestre depois, sobre tópicos especiais de contabilidade internacional.

"A demanda do mercado por profissionais competentes está absolutamente aquecida, tanto que a primeira disciplina, que tem 65 alunos no curso diurno e 150 em duas turmas no noturno, está sendo freqüentada até por alunos já formados, como ouvintes", diz Nelson Carvalho, professor do curso de contabilidade da FEA/USP e presidente do Conselho Consultivo de Normas do International Accounting Standards Board (IASB), organismo que emite as IFRS, em Londres. "Face à verdadeira revolução decorrente do IFRS será preciso repensar o ensino, uma vez que o balanço deixa de ser uma simples radiografia do passado, ou seja, passa a ser prospectivo."

A FEA agora está procurando redirecionar seu curso de contabilidade. "Os primeiros meses passarão a ser destinados a inculcar na cabeça dos alunos a noção de como se dá o processo de tomada de decisão empresarial para que ele possa, posteriormente, entender como identificar, mensurar e divulgar o evento econômico", diz Carvalho, que também é diretor de pesquisas da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). A mudança completa no currículo, segundo ele, é um processo de longa gestação, que levará de um a três anos.

O Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA conta ainda com um laboratório de pesquisas em contabilidade internacional, destinado a promover apoio a teses de mestrado e doutorado e investigação acadêmica, que também montou um curso de contabilidade internacional no nível de pós-graduação dentro das empresas. Trata-se de um curso fechado de 140 horas-aula (em torno de dois a três semestres) que já atende a 20 empresas de médio e grande portes, incluindo estatais. "O objetivo é treinar os profissionais, com os fundamentos, para que seu trabalho fique facilitado", diz Carvalho.

Já a Fipecafi, órgão de apoio institucional ao Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA, junto com o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), colocou online uma palestra virtual com duas horas de gravação, dos professores Eliseu Martins e Ariovaldo dos Santos, sobre a nova Lei das S.A. e a internacionalização da contabilidade, que tem como público-alvo principalmente contadores de todo o país. No ar desde agosto, já contabiliza mais de 11 mil participantes e cerca de trezentos internautas que entram nos debates promovidos pelo site.

"É importante que se dissemine ao máximo essas mudanças para contadores, empresas e a sociedade em geral. Esse é o objetivo, de divulgá-las de forma democrática e irrestrita, já que a palestra é totalmente gratuita", diz Maria Rosa Trombetta, gerente de e-learning da Fipecafi. Ela observa que os reflexos da Lei 11.638 nos currículos das escolas de contabilidade vão acontecer de forma mais lenta, já que são mudanças mais permanentes e precisam ser amadurecidas, enquanto a iniciativa da Fipecafi visa informar rapidamente os contadores, que vão precisar de muito apoio porque as mudanças da nova lei se refletem já neste exercício.

Por um golpe de sorte, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul adiantou-se e hoje já tem todo seu currículo atualizado de acordo com a nova lei. As mudanças curriculares em seu curso de ciências contábeis levaram cerca de um ano. "Estávamos em plena reestruturação curricular quando surgiu a deliberação da CVM, de julho de 2007, determinando que a partir de 2010 teríamos que converter as demonstrações contábeis das companhias abertas para os padrões internacionais, de forma que reestruturamos o currículo em função disso", explica João Marcos Leão da Rocha, chefe do Departamento de Ciências Contábeis da UFRGS. "Agora, que entrou em vigor a Lei 11.638, todas as nossas disciplinas ligadas a contabilidade societária estão atualizadas."

Segundo Rocha, o treinamento de professores foi rápido, até porque a maioria é constituída de profissionais que atuam no mercado como contadores e auditores, que já conviviam com a nova realidade. Para reforçar o treinamento de professores, a UFRGS promove seminários na própria instituição, incluindo palestras de auditores, contadores corporativos, como o da Gerdau, e profissionais de empresas de auditoria.

Outras escolas, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), recorrem ao curso para professores universitários de todo o país promovido em Brasília pelo Conselho Federal de Contabilidade, que já treinou até agora cerca de 80 pessoas. O objetivo é fazer com que cada um deles multiplique em suas instituições de origem os aspectos internacionais da nova lei. Estima-se que cada um passe a treinar pelo menos mais 40 professores.

Além desse treinamento, o curso de contabilidade da UFRJ introduziu, desde o ano passado, duas matérias no curso de graduação: contabilidade internacional e combinação de negócios. "A idéia é mudar as demais disciplinas, dar um cunho internacional a todas elas, principalmente na parte de teoria da contabilidade, para que os alunos estudem os princípios contábeis na nova visão internacional. Já estamos caminhando para isso", diz Natan Szuster, professor titular do curso de contabilidade da UFRJ. Seu curso de mestrado já conta, há dez anos, com a disciplina contabilidade internacional. No começo, predominavam as normas americanas United States Generally Accepted Accounting Principles (US Gaap), que de um ano para cá cederam espaço às IFRS.

Também o curso de ciências contábeis da Trevisan Escola de Negócios inclui em seu currículo uma disciplina obrigatória de 80 horas-aula sobre contabilidade internacional, em que são discutidos os principais pronunciamentos das IFRS e seus reflexos. A disciplina é oferecida no sexto semestre e conta, hoje, com 35 alunos, segundo Sérgio Alexandre de Souza, diretor de graduação e coordenador do curso da Trevisan.

Para que o futuro administrador conheça o processo de convergência às IFRS, a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (Ebape/FGV) oferece, no curso de graduação em administração e economia, uma disciplina obrigatória, no terceiro semestre, de introdução à contabilidade, em que se aborda a contabilidade societária.

9 de dez. de 2008

No início da carreira, vale mais trabalhar em empresa grande ou pequena?

Quando um jovem entra no mercado de trabalho, geralmente carrega dentro de si muitas dúvidas.Uma das mais comuns diz respeito ao porte da empresa. É mais interessante, no início da carreira, trabalhar em uma empresa grande ou em uma pequena?
O presidente da Curriculum.com.br e especialista em recolocação profissional, Marcelo Abrileri, respondeu à pergunta, destacando os pontos positivos de cada situação.
Pequenas x grandes
Em pequenas empresas:
Geralmente, o jovem exerce mais funções, tendo a oportunidade de aprender mais, se tornando um generalista;
Possui um contato mais próximo com diretores da empresa;
Se a empresa crescer, tem a oportunidade de evoluir junto com a empresa e pode, em pouco tempo, ser promovido. Mas vale lembrar que as chances de crescimento são mais limitadas, já que empresas pequenas costumam ter menos cargos e faixas hierárquicas;
Em grandes empresas:
No lugar de exercer várias funções, normalmente, o jovem foca em uma só, se tornando um especialista;
Tem mais benefícios;
Não fica na dependência do crescimento da empresa, pois possui um plano de carreira estruturado, com metas e prazos;
Pode contar com o status de ter feito parte do staff de uma empresa reconhecida no mercado. "Nessa hora, o jovem deve ter em mente quais são seus objetivos e o que pretende na sua carreira profissional. Ambas as experiências são importantes, e é saudável passar, ao longo da carreira, pelas duas circunstâncias descritas", aconselha Abrileri.

Governo Brasileiro regulando o futebol

O governo estuda a criação de uma agência reguladora específica para o futebol, com o objetivo de fiscalizar os negócios envolvendo os clubes brasileiros e as movimentações de centenas de milhões de reais no exterior. A criação dessa agência entrou na pauta das discussões dos órgãos públicos responsáveis por combater a lavagem de dinheiro no Brasil, em particular do Banco Central, que alertou duas vezes, em reuniões internas neste ano, para a necessidade de um órgão com funções fiscalizadoras específicas para o setor esportivo. Segundo o BC, 119 correntistas fizeram 546 contratos de câmbio envolvendo o futebol, que movimentaram US$ 222 milhões, apenas em 2007. Esse número deve ser bem maior, pois o BC acredita que parte dos recursos é mantida em contas no exterior e, portanto, foge à sua fiscalização. Hoje, qualquer pagamento recebido por clube no exterior deve ser submetido ao controle dos bancos, mas isso só ocorre se o dinheiro for internalizado no país.Os clubes informaram ao Ministério da Justiça que não possuem conta fora do Brasil. Mas o BC suspeita que existem transações, como venda de jogadores, cujo dinheiro ou parte dele não chega ao país. Os clubes também prestam informações fiscais à Receita e ao INSS. Num dos encontros sobre lavagem de dinheiro no setor esportivo, técnicos do BC reclamaram que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) possui todas essa informações, mas não há coerção para entregá-los com regularidade às autoridades de fiscalização. A CBF registrou 1.085 transações de jogadores para o exterior em 2007, mas o BC só identificou 546 contratos. De acordo com o BC, US$ 1,2 bilhão entraram no Brasil entre janeiro de 1998 e abril deste ano, por meio da transferência de jogadores. O valor médio pago por transferência de jogador é de US$ 455 mil. (...)
Matéria: Governo quer fiscalizar futebol
Jornal Valor Econômico de 27/11/2008

O princípio da Oportunidade em tempos de Fair Value





















Princípio da Oportunidade:
Refere-se, simultaneamente, à tempestividade e à integridade do registro do patrimônio e das suas mutações, determinando que este seja feito de imediato e com a extensão correta, independentemente das causas que as originaram.

Oportunidade ou Oportunismo?


O princípio da (des)Continuidade aplicado à classe média



Mudanças na Lei n. 11.638/2007

Com MP 449, CVM espera baixar mais 7 normas contábeis ainda em 2008

Com a publicação da Medida Provisória 449, que garante a separação clara entre aspectos societários e tributários nos demonstrativos financeiros das empresas, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) espera conseguir baixar, até o final de dezembro, mais sete normas contábeis. Dessa forma, todas as alterações introduzidas pela Lei 11.638 estariam reguladas ainda neste ano e as empresas já adequariam seus demonstrativos de 2008 às novas regras. "Temos mais sete normas para baixar e há tempo hábil para isso", comentou o superintendente de Normas Contábeis e de Auditoria da CVM, Antonio Carlos de Santana.Conforme ele, a expectativa era a de que a chamada neutralidade tributária fosse tratada em uma medida provisória específica, publicada até o final deste ano. "Esperávamos que essa MP específica viesse ainda em 2008, mas os artigos que tratam especificamente sobre a leis 6.404 e a 11.638 acabaram inseridos nessa MP, a 449, que é bem mais ampla", comentou. "Assim, há apenas um pedaço da 449 que se refere ao tratamento fiscal das alterações introduzidas pela 11.638", acrescentou.Embora o teor dos artigos tenha vindo conforme o esperado pelo órgão regulador, a CVM teve de entrar em contato com o Planalto em razão de um "pequeno problema de edição" na MP.Segundo Santana, uma parte de um parágrafo amplo e relativo a notas explicativas, que deveria constar do artigo 176, foi parar também como parágrafo 5º do artigo 177. "Com isso, suprimiu-se um parágrafo do artigo 177, o que provoca distorções", comentou o superintendente. "Mas já entramos em contato com Brasília para que isso seja corrigido", acrescentou.Segundo o superintendente, a partir da publicação da MP, é provável que a CVM tenha de acelerar "um pouco" seu cronograma, de forma a ter todas as normas que cobrem a Lei 11.638 editadas neste ano e aplicadas aos balanços que começam a ser divulgados em janeiro. Há pouco mais de 20 dias, cinco normas contábeis que vão nesse sentido foram publicadas pela autarquia e outras duas deliberações já haviam sido baixadas. "Dessa forma, até 2010, o mercado poderá estar totalmente alinhado aos padrões contábeis internacionais", explicou.Em 12 de novembro, a CVM editou deliberações referendando pronunciamentos sobre Ativos Intangíveis, Operações de Arrendamento Mercantil, Subvenções e Assistências Governamentais, Custos de Transação e Prêmios na Emissão de Títulos e Valores Mobiliários e Demonstração do Valor Adicionado (DVA), todos em linha com os padrões contábeis internacionais.O primeiro pronunciamento, segundo a CVM, define o tratamento contábil de ativos intangíveis e especifica como deve ser apurado o valor desses ativos. O segundo regula a contabilização das operações de arrendamento mercantil no Brasil. Os demais versam sobre o registro contábil e a divulgação das subvenções e assistências governamentais; sobre o tratamento contábil aplicável ao reconhecimento, mensuração e divulgação dos custos de transação incorridos e dos prêmios recebidos no processo de captação de recursos por intermédio da emissão de títulos patrimoniais e/ou de dívida; e sobre a Demonstração do Valor Adicionado (DVA), cujo principal objetivo é demonstrar o grau de envolvimento da empresa com a sociedade.

Um bom contador...

Nunca diga que um contador é um crédito para sua profissão; um bom contador é um débito para sua profissão.
Sir Charles Lyell , American Accountant, 1797-1875
Fonte: Blog Contabilidade Financeira

Contas de Compensação no Sistema de Contabilidade Pública

Esclarecimento dado pelo Prof. Lino Martins sobre as Contas de Compensação no Sistema de Contabilidade Pública:
Alguns estudiosos entendem que tais contas foram expurgadas da Contabilidade somente porque a Lei das Sociedas Anonimas não tem previsão legal para sua existência.
Outros entendem sua necessidade com o objetivo precípio de controle inclusive para facilitar a elaboração de notas explicativas quando do encerramento das demonstrações do exercício. Para estes as contas de compensação seriam melhor denominadas de contas do patrimonio condicionado e compreendem as seguintes caracteristicas:
a) contas de responsabilidade
b) contas de empenho (relações contratuais)
c) contas de riscos (contratos tácitos ou expressos)
Assim, quando se trata de entidades sem fins lucrativos em que o orçamento aprovado corresponde ao fluxo de caixa é preciso estabelecer a existencia do sistema compensado que corresponde a um controle segregado do sistema patrimonial, ou seja, enquanto este último engloba as contas que compõem o patrimônio da entidade como um todo (ativo, passivo e patrimonio liquido), aquele abrange contas que servem exclusivamente para controle, sem fazer parte do patrimônio.
Sua utilidade, embora questionável por alguns, pode surgir a partir da implementação de certos controles que objetivem o registro de possiveis alterações patrimoniais futuras alem de servir de fonte de dados para a elaboração das notas explicativas, estas sim, obrigatórias por lei.

Fonte:
Blog do Prof. Lino Martins

NBCASP: A grande reforma na Contabilidade Pública

Com a aprovação no dia 21 de novembro das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público - (NBCASP) - o Conselho Federal de Contabilidade dá inicio a uma verdadeira revolução na Contabilidade Governamental brasileira.
A ênfase passa a ser o patrimônio como objeto de estudo da contabilidade enquanto ciência. O orçamento deixa de ser o protagonista da histórica da administração pública para se tornar um coadjuvante importante que trata do fluxo de caixa do Governo com base em autorização legislativa para arrecadar receitas e realizar despesas.
A mudança é grande e os profissionais de Contabilidade do serviço público terão que ficar preparados para essa virada de postura. Todos os fatos administrativos serão examinados e registrados não porque tem origem no orçamento, mas sim porque produzem alterações em algum elemento do ativo, passivo e patrimônio líquido.
Os Contadores que ainda crêem ser o orçamento o único input da Contabilidade e que as variações patrimoniais devem refletir o que foi “resultante da execução orçamentária” precisarão ler muitas vezes os artigos da Lei 4.320/64 a partir do número 83 que trata do processo de evidenciação dos elementos patrimoniais.
Trata-se de mudança radical que será vitoriosa na medida em que todos os Contadores do setor público passem a registrar em primeiro lugar as movimentações do patrimônio e posteriormente os reflexos de tal registro no sistema orçamentário pois somente a Contabilidade pode traduzir a riqueza patrimonial segundo o principio da competência vez que o orçamento esta intimamente ligado ao regime de caixa, para não falar do obscurantismo a que pode estar submetido por força das relações institucionais entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo. Rui Barbosa
[1] tratou do tema orçamento e emitiu em determinada época a seguinte opinião:
“….os orçamentos são escandalosas mentiras, que escondem sob o nome de “receita” os empréstimos que a nossa pobreza nos obriga a contrair, e dissimulam com a expressão de saldos os déficits tenebrosos que assoberbam as nossas finanças”.
Após longas reflexões teóricas os Profissionais de Contabilidade com o apoio do Conselho Federal de Contabilidade concluíram pela autonomia da Ciência Contábil a partir do conhecimento mais profundo do patrimônio como seu objeto de estudos.
Tais estudos tem origem no inicio do século XX quando a contabilidade teve rápido desenvolvimento assumindo definitivamente a sua posição entre as ciências do conhecimento humano. Na atualidade podem ser encontradas as seguintes teorias contábeis:
a) De orientação meramente jurídica em que o Balanço é uma demonstração de direitos e obrigações de essência eminentemente jurídica.
b) De orientação instrumental em que o Balanço é uma recapitulação de contas, síntese final da Contabilidade.
c) De orientação econômica em que o Balanço tem o objetivo de evidenciar a real e verdadeira situação do patrimônio da entidade sem menosprezar as questões anteriores.
Portanto, é preciso levar em conta que no setor público as bases do orçamento e condições da contabilidade são primariamente consideradas em termos de caixa e de compromissos assumidos, embora em alguns casos como o registro da receita na fase da arrecadação, em que os recursos ainda não estão disponíveis, ou da inscrição na divida ativa em que o registro é efetuado como variação ativa com o propósito de identificar tais direitos e por conseguinte aumentar o patrimônio líquido.
Temos que reconhecer que a base de apropriação de caixa é muito mais em decorrência da tradição e do conservadorismo do que da racionalidade. Basicamente, o sistema orçamentário é visto como instrumento que indica os recursos e os limites de gasto autorizado para o período a que se refere. No passado tinha o objetivo de dar maior relevância ao Poder Legislativo em especial quando inexistiam as vinculações ou a vedação de emendas sobre certos assuntos. Naquela época cabia aos parlamentares, após as discussões e emendas, determinar a destinação dos recursos aos programas e projetos a serem executados durante todo o exercício.
Ocorre que muitas apropriações têm seu próprio ciclo de vida e não estão limitadas a um ano fiscal específico conforme, inclusive, esta previsto nos artigos 16 e 17 da Lei Complementar n. 101/2000 da Responsabilidade Fiscal. Será normal, portanto, que tais programas ou projetos, uma vez iniciados e apropriados tenham uma vida própria de mais de quatro ou cinco anos podendo ser estendidos, no caso de projetos até que no devido tempo eles se tornem componentes regulares do orçamento anual dando cobertura a atividades de caráter continuado.
Por isso o sistema de caixa foi modificado dando origem ao de compromissos que permite ao Poder Legislativo verificar a relevância de continuar um projeto ou um programa e determinar seu futuro. Entretanto, os limites do sistema orçamentário, em contraste, focam a quantia a ser gasta ou o limite que não poderá ser ultrapassado durante o ano fiscal. O objetivo é reconhecer anualmente o papel supremo do legislativo em matéria de orçamento dotando-o - a seu critério - de requisitos para a necessária flexibilidade por intermédio dos créditos adicionais.
Na medida em que estes sistemas evoluíram, seja pelas vinculações constitucionais ou pela inclusão na Lei de Responsabilidade Fiscal do conceito de despesas obrigatórias de caráter continuado ou, ainda, pela limitação de assuntos que não podem ser emendados pelo legislativo é comum observar uma redução gradativa do peso das implicações monetárias do orçamento, principalmente, pela necessidade cada vez maior de um fluxo de caixa projetado que exige conhecer os recebíveis e os compromissos de médio, curto e longo prazo, independentemente de sua passagem pelo orçamento.
Neste último aspecto é bom lembrar ainda que as vinculações orçamentárias ou a aprovação de projetos e atividades de caráter continuado são na realidade compromissos legais estabelecidos pelo próprio legislativo ao votar leis e orçamentos anteriores. Mais uma vez temos que render homenagem aos legisladores da Lei 4.320/64 ao definirem no § 1° do art. 12
Classificam-se como Despesas de Custeio as dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis.
Estabelecendo o que poderíamos denominar principio da anterioridade para o custeio da máquina pública que combinado com o artigo 16 e 17 da Lei de Responsabilidade Fiscal indica claramente que legislaturas anteriores podem criar vínculos futuros para os recursos e, neste sentido, as legislaturas futuras ou se submetem a isso ou devem tomar iniciativa legislativa que rompa com esse comprometimento.
Este seria o caminho natural da Contabilidade Governamental, entretanto tal referencia foi abandonadas nos anos 70 tendo em vista que a ênfase durante toda essa década e a seguinte foi a perseguição das metas estabelecidas pela política macroeconômica apontada como necessária para a estabilização. É bom lembrar que na metade dos anos 80 o Governo Sarney não honrou a divida externa brasileira ficando submetido ao receituário do respectivo credor. Não é preciso lembrar que o sistema contábil com base em caixa estava intimamente comprometido com esta idéia e, desta forma, possibilitava melhor conciliação dos dados monetários com o objetivo de medir mais precisamente o impacto das operações orçamentárias na situação do crédito público e na economia em geral.
Depois de muitos anos fazendo os registros contábeis como reflexos da execução orçamentária de caixa com algumas exceções já tratadas acima, diversos países reiniciaram a preocupação com patrimônio público e conseqüentemente estão implantando o principio contábil da competência. Deve ser notado que estas alterações estão sendo realizadas em países que anteriormente tinham uma visão do orçamento como limitador de gastos
É preciso considerar que os termos obrigações, compromissos, sistema de caixa ou de competência não estão imunes a interpretações diversas, sob enfoques diversos e, conseqüentemente, não estão livres da ambigüidade. É sempre bom lembrar que para definir esses termos, é necessário recapitular as diversas etapas do processo orçamentário:
a) Quando o orçamento é concebido e encaminhado ao Poder Legislativo refere-se a uma provável arrecadação de receita e uma possível quantia a ser desembolsada durante o período anual a que se refere.
b) Uma vez aprovado o orçamento verifica-se a implementação de uma série de etapas que didaticamente são denominados estágios da receita e da despesa:
Na receita
i. Estabelecimento da base tributária (receita derivada) e das demais receitas (receita originária) e administração cadastral.
ii. Aprovação da Receita por rubricas, sub rubricas, etc. (Previsão)
iii. Lançamento tributário (nas suas diversas modalidades)
1. Direto (ex oficio)
2. Por declaração
3. Por homologação
iv. Arrecadação (recebimento por parte da Rede Bancária)
v. Recolhimento (a Rede Bancária entrega os recursos ao Tesouro).
Na Despesa
i. Distribuição das dotações orçamentárias (créditos orçamentários),
ii. Alocação dos recursos através do Quadro de detalhamento da Despesa e do Quadro de Detalhamento da Receita
iii. Contratação de uma transação mediante um pedido ou uma solicitação com o registro do compromisso (empenho).
iv. Nascimento da obrigação quando o fornecedor ou prestador do serviço entrega o material ou o serviço (implemento de condição)
v. Despesa indicando a conta onde o uso dos materiais ou serviços é registrada (liquidação da despesa).
vi. Desembolso para registrar o pagamento;
Examinando as etapas acima é possível afirmar, sem sombra de dúvida, que todos os sistemas de contabilidade, independentemente da origem ou orientação e prática atual, permitem o registro das várias fases. Entretanto, tais eventos ou fatos administrativos, tanto podem ter seu registro efetuado com base em caixa como em obediência ao princípio da competência.
Em um sistema de contabilidade baseado em caixa, são registradas somente as receitas e despesas quando o dinheiro é recebido ou pago. O sistema não leva em conta o período a que tais transações se referem. Já a contabilidade por competência refere-se à aquisição de bens e serviços independentemente da afetação do caixa da entidade.
Porque competência?
É preciso reconhecer que a contabilidade por caixa facilita a avaliação do impacto na atividade fiscal, a reconciliação dos dados monetários e o controle dos recursos disponíveis. Porem, o sistema de caixa é insuficiente para indicar de forma imediata e mesmo a médio e longo prazo as responsabilidades obrigacionais dos governos como é o caso das responsabilidades previdenciárias, geralmente suavizadas e muito freqüentemente (ou sempre) com valores incluídos no orçamento de cada ano bem menores do que os valores efetivamente executados. Além disso, na contabilidade baseada em caixa, são registradas transações relativas a pagamentos sem informar de modo imediato se o pagamento efetuado refere-se a serviços executados durante o exercício corrente ou de anos anteriores.
Ocorre que o equilíbrio entre os pagamentos com a receita e o custo dos serviços num mesmo prazo (ano fiscal) é tarefa bastante difícil tendo em vista que a informação sobre responsabilidades (passivo) não é captada completamente. Neste sentido cabe a todos que atuam no setor público refletir que a contabilidade com base em caixa pode, de modo involuntário, contribuir para distorcer a decisão de natureza fiscal do volume e valor das obrigações assumidas e que precisam ser realizadas. Em face disso não é improvável que o legislativo seja chamado para prover aprovação de desembolso de obrigações já incorridas.
Em contraste com o sistema de caixa, o sistema contábil da competência procura fornecer um quadro com todos os recebíveis e responsabilidades do governo e, em conseqüência, constitui uma ferramenta de auxilio na formulação de políticas fiscais mais realísticas. Também facilita a gestão de caixa por permitir o conhecimento de todos os ativos geradores de caixa e do universo das obrigações que pesam sobre esse mesmo caixa.
Alem disso, o sistema de competência auxilia os tomadores de decisão a enxergar além do ano fiscal atual e do orçamento do próximo ano. Durante períodos de crise fiscal aguda, o sistema de contabilidade por competência permite para os tomadores de decisão ver além das transações da semana ou do mês e enxergar um horizonte de tempo maior e, em particular, focalizar as responsabilidades contingentes e passivos omitidos, que afetem períodos futuros. Com isso é mantida a consistência e evita-se que a Contabilidade Governamental fique submetida aos ciclos políticos de curto prazo levando o cidadão e os novos administradores a conhecerem todos os ativos e passivos da entidade. Subsidiariamente permite que os novos governantes identifiquem situações na qual governantes em final de mandato armem bombas com espoletas de retardo para serem acionadas no inicio de novos períodos de governo.
Por outro lado, no gerenciamento dos programas constantes das ações orçamentárias a contabilidade por competência pode demonstrar os custos totais incorridos, além dos fluxos de caixa, os custos indiretos e seu rateio, inclusive o valor do ativos tangíveis utilizados na prestação dos serviços à população. Da mesma forma, estimativas dos recursos totais, alem de auxiliar na alocação dos recursos orçamentários também facilita a tomada de decisões sobre quais os serviços que devem ser prestados pela própria administração publica e quais os que devem ser fornecidos por empresas privadas.
A discussão do assunto tende a focalizar os méritos relativos de uma forma de contabilização sobre a outra (Caixa x Competência). Na realidade, as relações entre os dois é simbólica e tanto um como outro não podem ser considerados isoladamente. O sistema de caixa é menos complexo e mais fácil de gerenciar e estamos certos que sua primeira escolha ou preferência decorre muito mais do número de anos em que foi ensinado e praticado. Também é verdade que tem vários pontos obscuros e, alem de não informar sobre questões futuras, não atende a demandas mais complexas dos tomadores de decisão. Precisa ser completado pela contabilidade baseada na competência para fornecer um quadro mais completo das responsabilidade e do custo das operações.
Quando são registrados pagamentos em um sistema de caixa, é assumido que bens e serviços foram entregues e que as responsabilidades associadas estão sendo liquidadas. Reciprocamente, um sistema de competência assume que quando os passivos são registrados, estão sendo feitos esforços para seu financiamento. Juntos, os dois sistemas fornecem uma informação completa, e o gerente responsável pela arrecadação de receitas e realização das despesas será melhor servido por demonstrativos com foco na gestão de caixa e com foco na gestão do patrimônio da entidade.
Finalmente, a leitura atenta da Lei de Responsabilidade Fiscal já estabelece a preferência pelo regime de competência, mas em caráter complementar determina a apuração dos fluxos financeiros pelo regime de caixa (orçamento). Tal redação consta do inciso II do artigo 50 e representa, para nós, a materialização da importância da evidenciação do patrimônio com objeto de estudos da contabilidade.
[1] Discursos e Conferências: Porto: Emp. Literária e Tipografia, 1907, p. 13. Apud. Ricardo Lobo Torres, Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e Tributário. Ed. Renovar, Vol. 5, p. 31/32

Normas de Contabilidade para o Setor Público

As dez primeiras Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASPs), que já estão disponíveis no campo Legislação do site do CFC, foram aprovadas, na Reunião Plenária, no dia 21 de novembro. A construção do texto dessas normas contou com processo amplamente participativo, coordenado por um Grupo Assessor instituído pelo CFC em 2006. A partir daí, uma série de ações foi desenvolvida, incluindo-se audiências públicas eletrônicas e seminários regionais em vários Estados para recebimento de sugestões dos contabilistas.

A presidente do CFC, Maria Clara Cavalcante Bugarim, ao colocar em apreciação as dez primeiras NBCASPs, manifestou satisfação por ter contribuído para uma ação tão importante para os profissionais da Contabilidade Pública. A elaboração das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público era uma das metas do mandato da presidente.

A conselheira do CFC e coordenadora do Grupo Assessor, Verônica Souto Maior, fez um breve relato aos conselheiros sobre o trabalho da comissão, destacando o caráter democrático e a ampla mobilização do processo, que reuniu o CFC, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), os Tribunais de Contas Estaduais, as Instituições de Educação Superior (IESs), algumas entidades paraestatais e muitos representantes dos governos federal, estaduais e municipais. “Foi um processo surpreendente do ponto de vista do envolvimento dos profissionais contábeis do setor público”, afirmou a conselheira.

O Grupo Assessor é formado por Verônica Souto Maior, Diana Vaz de Lima, Domingos Poubel de Castro, Inaldo da Paixão Santos Araújo, Joaquim Osório Liberalquino Ferreira, João Eudes Bezerra Filho, José Francisco Ribeiro Filho, Lino Martins da Silva, Luiz Mário Vieira, Paulo Henrique Feijó da Silva e Sandra Maria de Carvalho Campos.

Conjunto de Normas
Para servir aos contadores públicos e, inclusive, outros profissionais da área, o CFC publica o seguinte conjunto de Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC T 16):

NBC T 16.1 - Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação;
NBC T 16.2 - Patrimônio e Sistemas Contábeis;
NBC T 16.3 - Planejamento e seus Instrumentos sob o Enfoque Contábil;
NBC T 16.4 - Transações no Setor Público;
NBC T 16.5 - Registro Contábil;
NBC T 16.6 - Demonstrações Contábeis;
NBC T 16.7 - Consolidação das Demonstrações Contábeis;
NBC T 16.8 - Controle Interno;
NBC T 16.9 - Depreciação, Amortização e Exaustão; e
NBC T 16.10 - Avaliação e Mensuração de Ativos e Passivos em Entidades do Setor Público.

Pesquisa: O que os executivos de finanças pensam sobre a IFRS

Veja o link:
Um estudo revela: O que os executivos de finanças pensam sobre a IFRS
“... nunca [...] plenamente maduro, nem nas idéias nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.” (Gilberto Freire)