29 de set. de 2011

Vedação do Deemed Cost pela ANS


Essa matéria foi comentada pelo professor Eliseu Martins da aula de Teoria do Lucro e da Avaliação Patrimonial. Essa posição da ANS destaca uma tentativa de sobrepor os interesses regulatórios a um true and fair disclosure!
Se as normas contábeis teoricamente são elaboradas para proporcionar informação útil (compreensível, comparável, confiável e relevante) para os diversos usuários, as informações regulatórias devem ser elaboradas à parte e não em detrimento de uma evidenciação que prejudique a adoção plena das normas.
Vale destacar que até o mês de junho de 2011, o site do CPC continha explicitamente a aprovação da ANS para interpretação técnica ICPC 10 e outras interpretações. No entanto, a aprovação das interpretações técnicas  foi "misteriosamente" retirada do site do CPC no mês seguinte.

Normas contábeis no setor de saúde

Texto de Pedro Cesar da Silva, publicado no Valor Econômico em 16/09/2011

Em dezembro de 2009, a Agência Nacional de Saúde (ANS) publicou a Instrução Normativa (IN) nº 37 pela qual incorporou à legislação de saúde as diretrizes dos pronunciamentos técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).
Na adoção inicial das normas internacionais de contabilidade é recomendável que as sociedades avaliem seu ativo imobilizado pelo valor justo (valor de mercado), assumindo esse valor como o novo custo desses ativos.
Nesse sentido, o CPC editou a Interpretação Técnica - ICPC 10, o qual inclui orientações sobre a adoção do custo atribuído (deemed cost) como critério de avaliação para o ativo imobilizado (CPC 27).
Trata-se de procedimento tecnicamente recomendável visando eliminar a distorção provocada pela inflação acumulada, já que a possibilidade de corrigir as demonstrações contábeis foi extinta a partir do ano-calendário de 1996.
As operadoras de planos de saúde foram surpreendidas com a edição, pela ANS, da Súmula nº 18 e da IN nº 47 no fim de julho, deliberando pela inaplicabilidade para as entidades sujeitas à sua regulação da opção de avaliação do ativo imobilizado pelo custo atribuído.
Assim, as operadoras que se utilizaram do custo atribuído deverão efetuar ajustes em seus registros contábeis retroativamente, retornando para o critério de custo de aquisição, como se este tivesse sempre sido aplicado, inclusive tocante aos efeitos decorrentes de investimentos sujeitos à avaliação pela equivalência patrimonial.
Os documentos e informações periódicos que sofreram os efeitos do reconhecimento do custo atribuído devem ser retificados até o final do terceiro trimestre. Felizmente não se faz necessário a reapresentação das demonstrações contábeis do exercício encerrado em 31 de dezembro de 2010.
Um dos argumentos utilizados pela ANS foi que a IN nº 37, de 2009, não determinou a observância pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde das interpretações técnicas emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
Destaca-se que, segundo o regimento interno do CPC, as interpretações são emitidas para esclarecer, de forma mais ampla, os pronunciamentos técnicos, evidente, portanto, que as interpretações não inovam em relação aos CPC's interpretados pelas mesmas.
Assim, uma interpretação de lógica indiscutível é que o ICPC 10 foi recepcionado pela ANS quando a mesma incorporou todos os pronunciamentos do CPC, dentre os quais o CPC 27, que trata da avaliação do ativo imobilizado, e o CPC 37, que trata do reconhecimento inicial dos CPCs, sendo que este último menciona, explicitamente, o custo atribuído como critério opcional de avaliação do ativo imobilizado.
O prejuízo das operadoras é cristalino, tanto na impossibilidade de considerar os ajustes a valor de mercado como parte de seu patrimônio líquido para fins de determinação dos índices técnicos quanto aos custos já incorridos com a contratação de especialistas para elaboração dos laudos de avaliação, seja pela insegurança jurídica provocada pela revisão tardia de normas cujos efeitos já se verificaram.
Do ponto de vista técnico, podemos afirmar que a vedação impede que as operadoras se alinhem às melhores práticas contábeis e na maior parte das vezes apresentem demonstrações contábeis distorcidas pelo efeito acumulado sobre o valor dos ativos de vários anos de inflação.
Sabemos que o objetivo da ANS foi o de evitar que o reconhecimento do valor justo dos ativos aumentasse o patrimônio das entidades influenciando no atendimento da margem de solvência e, eventualmente possibilitando a distribuição de lucros ou sobras (no caso das cooperativas de trabalho médico) maiores em relação àqueles que seriam distribuídos sem referido ajuste.
Podemos entender essa motivação, especialmente se considerarmos a preocupação quanto a eventuais abusos na avaliação dos ativos. No entanto, lembramos que já existem mecanismos para evitar eventuais abusos, nesse sentido, podemos citar a exigência de auditoria independente.
Ademais, lembramos, para demonstrar a incoerência da posição adotada pela ANS, que até 2007 era possível e admitido pela agência a constituição de reservas de reavaliação.
Tecnicamente não podemos afirmar que custo atribuído e reavaliação de ativos são institutos idênticos, no entanto, os efeitos são semelhantes, assim, não há justificativa para admitir a reserva de reavaliação e vedar o custo atribuído.
Assim, ao invés de vedar a adoção do custo atribuído seria mais adequado estabelecer exigências semelhantes àquelas previstas para o reconhecimento da reserva de reavaliação, enquanto tal procedimento era permitido.
Adicionalmente, foi mencionado pela ANS como argumento para não admitir o custo atribuído que o inciso V do artigo 183 da Lei nº 6.404, de 1976, determina que os direitos classificados no imobilizado sejam avaliados pelo custo de aquisição, deduzido do saldo da respectiva conta de depreciação, amortização ou exaustão.
Caso esse entendimento estivesse correto todas as empresas, mesmo aquelas não sujeitas à regulação pela ANS, não teriam amparo para o reconhecimento do custo atribuído, o que por si só demonstra a fragilidade do argumento.
Ademais, o inciso V do artigo 183 da Lei nº 6.404, de 1976, não está dentre os que sofreram modificação pela Lei nº 11.638, de 2007, e Lei nº 11.941, de 2009. No entanto, a ANS nunca utilizou o mesmo para colocar-se contra a reavaliação de bens do ativo imobilizado, procedimento permitido até o ano-calendário de 2007. (...)

28 de set. de 2011

Seguro de crédito de carbono


A Contabilidade ainda não definiu a natureza contábil dos créditos de carbono, mas o mercado está na frente e já tem opção de fazer seguro das receitas a serem obtidas com a venda dos créditos!

Seguro de crédito de carbono chega ao Brasil

Texto de Thais Folego publicado no Valor Econômico - 28/09/2011

Em parceria com a Munich Re, maior resseguradora do mundo, a Fator Seguradora está lançando um seguro para projetos de crédito de carbono e instrumentos de redução de gases de efeito estufa. A apólice cobre a perda de receita caso o projeto não gere os créditos de carbono previstos e comercializados.

O Brasil é o terceiro país com o maior número de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), instrumento criado pelo Protocolo de Kyoto que traz a possibilidade de utilização de mecanismos de mercado para que os países desenvolvidos possam cumprir seus compromissos de redução de emissão de gases de efeito estufa. Nele, países emergentes podem, voluntariamente, desenvolver projetos de redução de emissão (conhecidos como "crédito de carbono") para posterior venda dessas reduções para países desenvolvidos.
"São projetos caros que geralmente precisam de financiamento. Um seguro que garante a receita desse projeto vai melhorar a aceitação do financiamento", afirma André Gregori, presidente da Fator Seguradora. Ele lembra que, no ano passado, foi aprovada no Brasil a lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima, que deve impulsionar a realização desses projetos. Na política, o país assume meta para reduzir entre 36,1% a 38,9% suas emissões de gases de efeito estufa até 2020, com ações no âmbito federal, estadual e municipal por entidades públicas e privadas.
"Além disso, a maioria dos bancos mundiais exigem projetos de captura de CO2 para conceder financiamento para obras de infraestrutura", ressalta Gregori.
A apólice indeniza a perda de receita de projetos de redução de gases numa eventual ineficiência ou dano físico do projeto, insolvência do fornecedor ou do comprador dos créditos, além de problemas provenientes de variação climática. Gregori explica, porém, que o risco de eventos naturais é uma cobertura extra, que pode ser incluída na apólice. Ele explica que o preço do seguro varia de acordo com o projeto de redução e com as coberturas contratadas, mas varia, em média, entre 2% a 5% do valor do projeto.
"Este não é um produto de prateleira, ele é montado de acordo com a particularidade de cada operação", explica Tânia Amaral, superintendente de riscos financeiros da Munich Re. A resseguradora já comercializa o produto em outros países e tinha o interesse de trazer a cobertura para cá por conta do Brasil ser um dos países que podem desenvolver instrumentos de redução de gases.
O Brasil possui 499 projetos do tipo, equivalente a 6% dos 7.742 projetos espalhados pelo mundo, segundo dados de junho deste ano do Ministério da Ciência e Tecnologia. Isso coloca o país no terceiro lugar em número de projetos de MDL no mundo. A China é a líder do ranking, com 3.056 projetos (39%) e, em segundo lugar, a Índia com 2.098 projetos (27%).
O lançamento do produto faz parte da estratégia de diversificação do portfólio da seguradora, que trabalha basicamente com seguros ligados a obras de infraestrutura. Há três anos, quando foi criada, a companhia atuava apenas com seguro garantia. Nesta ano, passou a atuar com seguro de engenharia, responsabilidade civil, riscos diversos de equipamentos, eventos e aeronáutico.

Divulgação de Evento: VII EGEPE

O EGEPE - Encontro de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas 

Realizado desde o ano 2000, o EGEPE é um evento consolidado no país e se firma como o principal espaço para o debate sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas. Em sua sétima edição, o EGEPE 2012 terá como temática Internacionalização e Sustentabilidade.
Os objetivos do Encontro: reunir pesquisadores e estudantes das áreas de empreendedorismo e gestão de pequenas empresas visando o intercâmbio de estudos, idéias e experiências.
Destaques do VII EGEPE: será a parceria com revistas acadêmicas da área para a publicação dos melhores trabalhos em sistema de fast track. As revistas terão seus editores convidados a participar do evento assegurando um processo ágil na avaliação e resposta aos autores.

Evento: VII EGEPE 
Onde: Florianópolis, Santa Catarina.
Quando: 28 a 30 de março de 2012
Prazos:
Último dia para submissões:  27 de outubro de 2011
Publicação dos resultados:  10 de dezembro de 2011
Prazo de inscrição para publicação em anais: 02 de março de 2012
Maiores informações: http://anegepe.org/ 

26 de set. de 2011

Contabilista Campeão


Bom dia!
Esse final de semana estive em Fortaleza - CE discutindo o tema Reconhecimento e Mensuração de Ativos Não Circulantes. Especificamente, discutimos as normas de Ativo Imobilizado (CPC 27/IAS 16), Redução ao Valor Recuperável de Ativos – Impairment (CPC 01/IAS 36), Arrendamento Mercantil (CPC 06/IAS 17), Propriedade para Investimento (CPC 28/IAS 40) e  Ativo Não Circulante mantido para venda e Operações descontinuadas (CPC 31/IFRS 5).
O curso foi uma proposta do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Ceará, atualmente sob a presidência do incansável Cassius Coelho, junto com uma equipe muito ativa, simpática e motivada, a quem agradeço o convite, a oportunidade e a receptividade.
Durante as horas do curso os profissionais e estudantes que participaram mostraram-se bastante motivados em atualizar-se para os novos desafios de fazer Contabilidade em tempo de convergência às normas internacionais de Contabilidade.
Registro ainda que no mesmo final de semana o CRC-CE promoveu a 1ª Corrida dos Contabilistas, oportunidade de interação entre profissionais e convidados e também uma iniciativa pioneira entre os conselhos para o incentivo à prática de esportes.
Parabéns a toda equipe que faz o CRC-CE na atual gestão. O exemplo do trabalho desse Conselho poderia ser seguido por outros estados.
Blog do Projeto Contabilista Campeão: http://contabilistacampeao.blogspot.com




21 de set. de 2011

Um tempo para a Convergência [2]

Convergência adiada
Texto de Fernando Torres, publicado no Valor Econômico em 21/09/2011



Um dos principais argumentos usados para justificar o processo de convergência do padrão contábil brasileiro para o modelo internacional IFRS sempre foi a facilidade para comparar os balanços de empresas nacionais com os de estrangeiras.
Como os investidores internacionais estariam habituados ao padrão, usado em mais de cem países e considerado confiável e de boa qualidade, isso reduziria o custo de capital das companhias.
Por ora, entretanto, o que se vê é que mesmo entre empresas brasileiras não há uma uniformidade nas práticas contábeis.
Isso ocorre porque o IFRS é baseado em princípios, e não em regras detalhadas, e também porque ele permite escolhas por parte das empresas.
Ao exercer seu poder de julgamento sobre qual a melhor forma de reconhecer determinado evento, algumas companhias acabam chegando a conclusões diferentes, o que pode dificultar a comparação simples dos números dos balanços.
O sócio de auditoria da Ernst & Young Terco Paul Sutcliffe cita, por exemplo, o tratamento que se dá a empréstimos no âmbito do Programa de Sustentação do Investimento do BNDES, com juros próximos de 5% ao ano. Algumas empresas, como Vivo e TIM, consideram isso uma subvenção do governo e, por isso, contabilizam a diferença entre a taxa paga ao banco e a praticada no mercado, bem mais alta, como uma receita na demonstração de resultado. Mas a maior parte das empresas não faz assim.
Há divergência também na forma de se registrar o pagamento de outorga em contratos de concessão. Algumas empresas colocam o valor devido dentro de uma conta do passivo, como OHL e Ecorodovias, enquanto outras informam o montante apenas em nota explicativa, caso da CCR.
Entre as administradoras de shopping centers também há práticas distintas para se contabilizar o valor dos empreendimentos imobiliários. Enquanto BR Malls e Sonae Sierra avaliam seus imóveis a preço de mercado, Multiplan, Iguatemi, Aliansce e General o fazem pelo custo. O IFRS permite escolha nesse caso.
De forma geral, especialistas citam diferenças também em relação a taxas de depreciação de prédios, máquinas e equipamentos usadas pelas empresas e em relação ao método utilizado pelas companhias para apuração do valor justo de ativo biológico, como florestas, plantações e rebanho bovino.
Ao ser questionado sobre o tema, o diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Alexsandro Broedel disse que considera os casos de divergência de prática como "pontuais". Ele afirmou ainda que não tinha a expectativa de que os balanços ficassem uniformes em todos os aspectos, mas sim de que o nível de transparência fosse o mesmo.
"A maioria das práticas deve convergir com o passar dos anos, mas algumas diferenças devem persistir", avalia o representante do órgão regulador do mercado, para quem isso exigirá uma atenção cada vez maior para as notas explicativas dos balanços.
Na opinião de Reginaldo Ferreira Alexandre, presidente da regional São Paulo da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec -SP), se a situação é diferente, o julgamento realmente pode mudar de uma empresa para a outra. "As situações podem variar. E se é assim, é importante que haja distinção."
Nos casos em que um mesmo evento econômico é registrado de forma divergente, Alexandre destaca que o importante é a divulgação. "Aí os analistas podem ver qual prática eles preferem, o que levará a um processo de equilíbrio", diz.
A divergência de julgamentos dentro do IFRS não ocorre só no Brasil. A forma de cálculo do valor justo dos títulos da dívida grega acaba de gerar polêmica na União Europeia.
Os bancos alemães e britânicos, como o Royal Bank of Scotland, usaram os preços de mercado para registrar o valor dos papéis, com perda de 50% contra o resultado do período. Na França, bancos como o BNP Paribas julgaram que a liquidez dos papéis caiu tanto que o valor de negociação não seria uma boa referência para o valor justo. Usando modelos internos, eles registraram baixa de 21%.
Os auditores emitiram parecer sem ressalva nos dois casos, sendo que a Deloitte checa os números do RBS e é uma das três que avalia o balanço do BNP Paribas.
A divergência levou Hans Hoogervorst, presidente do Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB, na sigla em inglês), que é o órgão que emite as regras do IFRS, a escrever uma carta aos reguladores europeus para manifestar sua discordância quanto ao julgamento de que os mercados não estariam líquidos.
Segundo Amaro Gomes, único brasileiro no conselho do Iasb, o IFRS pede que as empresas divulguem a melhor informação possível dentro do seu julgamento. Apesar de reconhecer que pode haver tratamentos distintos em determinados momentos, ele avalia que a "disciplina de mercado" levará a práticas semelhantes. "Não é a norma que vai resolver, mas a reação do mercado, de analistas, reguladores, auditores e administradores" [CONTADORES...], afirma.


Um tempo para a Convergência

Um texto que põe um pouco de freio no rolo compressor do processo de convergência. As empresas são entidades complexas, com conceitos e rotinas institucionlizadas, que não podem ser mudadas colocando os empregados em uma sala para algumas horas de treinamento. Embora algumas pesquisas constatem que a imagem da contabilidade é de algo estático e burocrático, na prática o profissionais contábeis têm de lidar com situações cada vez mais dinâmicas, influenciadas por normas, particularidades específicas do negócio, cultura, variáveis de mercado e outros fatores. Por isso não dá para adotar plenamente ou de forma satisfatória um conjunto de normas, como as emitidas pelo IASB da noite para o dia!
Segue a matéria! Meus comentários estão em lilás, entre colchetes!

Adaptação plena ao padrão IFRS ainda vai demorar

Texto de Fernando Torres, publicado no Valor Econômico em 21/09/2011



Ainda vai levar no mínimo de dois a três anos para que as empresas comecem a trabalhar com as normas contábeis internacionais IFRS no piloto automático. "Mesmo as empresas de capital aberto ainda têm dificuldade grande para incorporar os conceitos no dia a dia", afirma o professor Edmir Lopes de Carvalho, sócio da consultoria Virtus e vice-presidente responsável pela área de contabilidade da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Na visão dele, não é que as empresas não queiram dedicar mais atenção aos conceitos trazidos pelo IFRS. "Mas a rotina da empresa não permite. É como se o contador tivesse que trocar o pneu do carro com ele andando."
Edison Fernandes, especialista em contabilidade e sócio do Fernandes, Figueiredo Advogados, encontrou alguns pontos chamados por ele de "críticos" em um levantamento com balanços publicados por 64 companhias de grande porte neste ano.
Nas notas explicativas sobre práticas contábeis, ele encontrou o seguinte texto para explicar como é feita a provisão para devedores duvidosos [Agora é PECLD - Perdas Estimadas com Créditos de Liquidação Duvidosa!!!! As normas do IAS não recomendam chamar de "provisão" expectativas de redução em contas representativas do Ativo]: "A baixa dos créditos vencidos é efetuada conforme determina o art. 9º, § 1º, inciso II da Lei nº 9.430/96." "Essa é a regra fiscal. Não foi feita uma análise do risco de inadimplência", diz Fernandes.[Isso é cultural! Precisa de tempo para mudar!]

Em outro caso, a explicação sobre transações com partes relacionadas era esta: "As transações entre a controladora e as empresas controladas são realizadas em condições e preços estabelecidos entre as partes".
"Não é isso, tem que ser igual ao preço de mercado", diz o advogado, destacando que a maior parte dos balanços dá aulas de contabilidade nas notas explicativas, com resumo dos pronunciamentos, em vez de detalhar o impacto da regra na empresa. [Se uma norma é adotada a toque de recolher é nisso que dá. Ainda não houve tempo suficiente para as empresas internalizarem alguns detalhes das normas]

Em relação às diferenças de práticas contábeis entre as companhias, Fernandes considera que isso não é um problema. "Uma empresa pode fazer o ajuste a valor presente com uma taxa diferente da concorrente. O importante é que as taxas sejam divulgadas para permitir a comparação", diz ele como exemplo.
Edmir Carvalho, da Anefac, fez um levantamento sobre o impacto do IFRS no patrimônio líquido das companhias abertas brasileiras. Em uma amostra de 115 empresas, o patrimônio aumentou 7,2%, passando de R$ 290 bilhões para R$ 310 bilhões. [Como assim? Em média? No total das 115 empresas?]

Com folga, a norma que teve o maior impacto positivo foi a do ativo imobilizado, que são os prédios, máquinas e equipamentos das empresas [Esse ponto na verdade refere-se apenas à adoção inicial, previstos no CPC 37, 43 e ICPC 10, que tratam do Deemed Cost, ou atribuir um valor mais condizente com a realidade dos ativos quando da adoção inicial das normas internacionais]. O IFRS permitiu que as empresas atribuíssem um novo valor para esses ativos, caso e custo registrado no balanço estivesse defasado. O impacto positivo dessa regra, antes de impostos, foi de R$ 23,7 bilhões.

15 de set. de 2011

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Neuroeconomics & Neuroaccounting


A matéria trata de um estudo inovador e muito interessante: a busca de entender o cérebro humano nas decisões econômicas, contábeis, adminstrativas, de investimentos... Na matéria foi denominada de Neuroeconomia, mas já existe também a Neuroaccounting! No III Congresso ANPCONT (Associação Nacional do Programas de Pós Graduação em Ciências Contábeis) realizdo em São Paulo, foi apresentado o trabalho NEUROACCOUNTING: MODELANDO A TOMADA DE DECISÃO EM AMBIENTESCONTÁBEIS. Mas já existem diversas outras publicações sobre o tema no exterior e também pesquisas em andamento no Brasil sobre o assunto.

 Neuroeconomia busca desvendar a cabeça do investidor

Matéria de Nikhil Hutheesing ( Bloomberg) publicada no Valor Econômico em 12/09/2011

John Coates, um pesquisador sênior de neurociências e finanças da Universidade de Cambridge, tem uma teoria. Ele diz que haveria menos bolhas e crashes no mercado de ações se mulheres e homens mais velhos conduzissem a maioria dos negócios. "Há menos diversidade no mundo financeiro que no militar", ironiza ele. "Em Wall Street, temos uma parcela da população - homens jovens - conduzindo os pregões. Isso leva a um comportamento extremo: eles ficam selvagens."
Isso não é bom para as ações. Tal comportamento provavelmente contribuiu para o crash da internet em 2000 e o crash de 2008-2009, alimentado pelas hipotecas subprime. Portanto, Coates, que passou 12 anos negociando derivativos de renda fixa para o Goldman Sachs e o Deutsche Bank em Nova York, está agora examinando os hormônios dos operadores, em busca de pistas sobre o grau de risco que as mulheres e os operadores mais velhos se dispõem a assumir.
Em 2007 Coates dirigiu-se a um pregão e recolheu repetidas vezes amostras de saliva de 250 operadores, a maioria homens jovens. Ele constatou que no período da manhã, quando seus níveis de testosterona estão altos, a confiança dos operadores também é alta. Na medida em que fazem negócios bem-sucedidos, seus níveis de testosterona sobem ainda mais, levando a lucros na parte da tarde.
Os homens jovens começam a se sentir infalíveis, assumindo um comportamento cada vez mais arriscado, como comprar ações a preços sobrevalorizados. Mas, em algum momento, testosterona demais e um excesso de julgamentos equivocados levam os mercados a níveis de alta insustentáveis. Então o ciclo termina. As ações sobrevalorizadas sofrerão um crash e os níveis de testosterona voltarão ao normal. "A testosterona é a molécula que explica a exuberância irracional", afirma Coates. "Uma certa quantidade de testosterona pode ser saudável, mas o excesso pode levar a uma bolha."
Para a maioria dos pesquisadores que trabalham com a neurociência, o "Santo Graal" é descobrir como regenerar os neurônios do cérebro. Tal feito ajudaria os cientistas a acabar com doenças como o mal de Parkinson e o mal de Alzheimer. Mas outros estão usando as técnicas desse campo em crescimento nas finanças comportamentais, que por si só é uma mistura de economia com psicologia. O resultado é um novo campo chamado neuroeconomia, que tenta explicar como as pessoas gerenciam riscos e por que elas sempre tomam decisões irracionais.
A importância das emoções não é nenhuma novidade. Benjamin Graham, considerado o pai do "value investing", certa vez disse: "Os indivíduos que não conseguem dominar suas emoções estão mal adaptados para lucrar com o processo de investimento". Mas as principais teorias do campo hoje conhecido como finanças comportamentais foram desenvolvidas por Richard Thaler, professor de economia e ciências comportamentais da Booth School of Business da Universidade de Chicago, e Daniel Kahneman, da Universidade Princeton, cujos trabalhos sobre essas questões, com o falecido Amos Tversky, lhes renderam o Nobel em Ciências Econômicas em 2002.
Kahneman e Tversky constataram que as pessoas sofrem mais com a perda de dinheiro do que sentem prazer ganhando dinheiro. Portanto, elas tendem a se agarrar a ações perdedoras, ao invés de vendê-las e evitar uma perda maior.
A irracionalidade também pode assumir a forma de um afeiçoamento emocional a um determinado ativo. R. J. Weiss, o fundador de 26 anos do blog Gen Y Wealth, recentemente postou que foi pego em uma armadilha de comportamento. Quando seu avô faleceu, ele herdou ações que eram negociadas a US$ 25. As ações caíram para US$ 20, US$ 10 e depois para US$ 5, mas Weiss não conseguiu se desfazer do presente que recebeu do avô. Finalmente, em abril, ele vendeu as ações por US$ 3,04, arcando com uma perda de 90%. "O tempo todo que o mercado caía eu sabia que manter as ações era a coisa errada a ser feita, mas eu não conseguia vendê-las", escreveu Weiss.
Dan Ariely, um economista comportamental do Massachusetts Institute of Technology (MIT), diz que as pessoas precisam ser cautelosas com essa irracionalidade, e que talvez seja até mesmo preciso estabelecer mecanismos que impeçam as pessoas de agir de maneira imprudente. "Sabemos que precisamos criar um mecanismo que impeça as pessoas de enviar mensagens de texto pelo celular enquanto estão dirigindo", afirma Ariely. "Mas, no mercado, não estamos levando em conta o caráter humano, e isso está nos levando para o mau caminho."
Primeiro, porém, os neuroeconomistas precisam entender o papel da emoção nas tomadas de decisões. Brian Knutson, um neurocientista da Universidade Stanford, e Camelia Kuhnen, uma professora de finanças da Kellog School of Management da Northwestern University, rastreiam os cérebros dos investidores enquanto eles tomam decisões de compra e venda. Eles constataram que os investidores com o maior apetite pelo risco aumentam a atividade cerebral em uma área chamada núcleo acumbente. Esta é a parte que é ativada em um animal quando ele encontra comida, ou em um predador quando ele parte para uma caçada.
Ao mesmo tempo, há um aumento da dopamina, responsável pela sensação de bem-estar. Ela inunda nosso cérebro quando antecipamos algo prazeroso ou excitante como ouvir música, fazer sexo ou pular de paraquedas. Um aumento da dopamina pode levar os investidores a adotar comportamentos de risco.
Os investidores que são mais avessos ao risco - e menos inclinados a comprar uma ação em grande demanda - mostram um aumento da atividade em uma parte diferente do cérebro, a ínsula anterior, que tem um papel muito importante em emoções como ansiedade e dor. Ela é a parte que é ativada quando sentimos o cheiro de um ovo podre ou o silvo de uma cobra. "Ao desconstruir os motivos que levam os investidores a ficarem entusiasmados, e por que eles fazem o que fazem, vamos desenvolver ferramentas que poderão ajudar as pessoas e tomar decisões melhores", afirma Knutson.
Uma das ferramentas em que Knutson está trabalhando é uma maneira de ajudar a impedir os investidores de se tornarem vítimas de fraudes financeiras. Knutson, cujo trabalho é bancado pela Financial Industry Regulatory Authority (FINRA), está usando a tecnologia de imagens cerebrais para ver o que acontece quando os investidores são seduzidos por golpistas. Ele diz que pode parecer que as vítimas são simplesmente pessoas ignorantes. No entanto, pode ser que as vítimas sejam pessoas cujos cérebros ficam tão animados com os ganhos em potencial que não conseguem evitar a tomada de risco. Ou talvez essas vítimas não sintam medo. Suas constatações poderão levar a uma ferramenta para salvaguardar os investidores.
Para onde tudo isso vai? Talvez um dia investidores e operadores tenham um dispositivo biométrico conectado aos seus computadores. Ele poderá escanear o córtex pré-frontal do cérebro, determinar os níveis de testosterona e medir a quantidade de suor nas palmas das mãos em microssegundos, antes de alertar você para não fazer determinado negócio. Ou as pesquisas atuais poderão resultar em medicamentos que tornarão as pessoas mais racionais.
"Dentro de poucas décadas, medicamentos que reforçam o desempenho serão uma parte integrante de nosso mundo", afirma Hersh Shefren, professor de finanças comportamentais da Santa Clara University. "No momento isso é ficção científica, mas a ficção científica sempre acaba virando ciência."
“... nunca [...] plenamente maduro, nem nas idéias nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.” (Gilberto Freire)