27 de abr. de 2011

Questões sobre Método da Equivalência Patrimonial

Pessoal, apresento a seguir algumas questõs dos temas discutidos essa semana na disciplina Contabilidade Societária. Contribuições e dúvidas podem ser postados como comentários para discutirmos.

As questões a seguir sobre Método de Equivalência Patrimonial (MEP) devem ser respondidas com base no CPC 18 - Investimento em Coligada e Controlada, CPC 19 – Investimento em Empreendimento Controlado em Conjunto (Joint Venture), CPC 15 - Combinação de Negócio, CPC 36 - Demonstrações Consolidadas, CPC 38 - Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração e no Manual de Contabilidade Societária (FIPECAFI), além da Lei nº 6.404/1976 e atualizações:

1) Em que consiste o método de equivalência patrimonial?

2) Qual o efeito das distribuições recebidas da investida no investimento da entidade investidora?

3) Investimentos em coligada ou controlada classificados como ativo não circulante mantido para venda e operações descontinuadas podem ser avaliados pelo método de equivalência patrimonial?

4) Exemplifique uma situação em que o investidor deve suspender o uso do método de equivalência patrimonial.

5) Na data em que a investida deixa de ser coligada ou controlada e, ao invés de ser contabilizada pelo método de equivalência patrimonial assume a figura de instrumento financeiro (CPC 38), qual deve ser o valor de contabilização inicial do ativo financeiro?

6) Quais as situações em que se pode presumir a existência de influência significativa?

7) Quando uma entidade pode perder a influência significativa sobre a investida?

8) Se a controlada teve alteração em contas do Patrimônio Líquido por conta de diferenças de conversão em moeda estrangeira, ou reavaliação (quando permitido por lei), a empresa Controladora deve reconhecer essa variação no resultado ou no Patrimônio Líquido?

9) Quando uma entidade investidora deve suspender o uso do Método de Equivalência Patrimonial?

10) Controladora e Coligada encerram seus exercícios em datas diferentes. Nesse caso, fica impedida a controladora de fazer o Método de Equivalência Patrimonial? Existe um prazo máximo que permita que possa ser utilizada as demonstrações da coligada para apuração da equivalência patrimonial?

Questões sobre Pagamento Baseado em Ações

Pessoal, apresento a seguir algumas questõs dos temas discutidos essa semana na disciplina Contabilidade Societária. Contribuições e dúvidas podem ser postados como comentários para discutirmos.

As questões a seguir devem ser respondidas com base no CPC 10 (IFRS 2) - Pagamento Baseado em Ações e no Manual de Contabilidade Societária (FIPECAFI), além da Lei nº 6.404/1976 e atualizações:

1) O que é Pagamento Baseado em Ações?

2) Qual tratamento contábil (lançamento) deve ser dispensado para os eventos em que são recebidos ou adquiridos produtos ou serviços em transações de Pagamento Baseado em Ações que, no seu reconhecimento, não se qualificam como ativo?

3) Quais são os fatores que, no mínimo, devem ser considerados pelos modelos de precificação? E quais os modelos de precificação mais utilizados?

4) O que se entende por Vesting Period?

5) Quais os benefícios que a entidade possui ao adotar Pagamento Baseado em Ações aos empregados?

6) No caso de transações mensuradas de forma indireta, ou seja, com base no valor justo dos instrumentos patrimoniais outorgados, a entidade deve mensurar o valor justo desses instrumentos com base no preço de mercado na data da mensuração. E não havendo um preço de mercado disponível, o que a entidade deve fazer?

7) Nas transações de Pagamento Baseado em Ações liquidadas em dinheiro a entidade irá mensurar o passivo pelo seu valor justo do passivo. Até o momento da liquidação do passivo a entidade deve reavaliar a valor justo o passivo no fim de cada exercício social e na data da liquidação. Se houver alguma mudança de valor reconhecida nesse período, o valor deverá ser lançado no resultado do período ou na conta de ajustes de avaliação patrimonial?

8) No caso de transações de Pagamento Baseado em Ações liquidadas pela entrega de instrumentos patrimoniais, a entidade deve mensurar os produtos ou serviços recebidos e o aumento correspondente no patrimônio líquido de forma direta, pelo valor justo dos produtos ou serviços recebidos. No caso de não ser possível estimar esse valor com confiabilidade, o que deve fazer a entidade?

9) No caso de transações de Pagamento Baseado em Ações liquidadas pela entrega de instrumentos patrimoniais, a entidade deve mensurar os produtos ou serviços recebidos e o aumento correspondente no patrimônio líquido de forma direta, pelo valor justo dos produtos ou serviços recebidos, a menos que não se possa estimar com confiabilidade. Se essa transação for realizada com empregados ou outros prestadores de serviços similares como a entidade deve mensurar o valor da operação?

10) O pagamento de bens ou serviços baseado em ações pode ser aplicado entre partes relacionadas? Por exemplo, a Cia Controladora Alfa, tem 75% das ações da empresa Coligada Beta, nesse caso, a Controladora Alfa, pode pagar bens ou serviços da Coligada Beta com ações?

21 de abr. de 2011

A dura realidade de quem presta serviços


Apesar da tirinha retratar especificamente a vida de um artista, não tenho dúvida que pessoas de outras áreas também sofram essa dura realidade.

Pensei em alguns profissionais afetados por esse fenômeno do “não custa nada para prestar um serviço”, mas sei que essa lista pode crescer muito.

  1. Blogueiro
  2. Consultor
  3. Arquiteto
  4. Advogado
  5. Contador
  6. Assessoria de imprensa
  7. Desenvolvedor
  8. Designer
  9. Palestrante
  10. Fotógrafos
  11. Tradutor
  12. Assistência técnica
  13. … (deixe sua sugestão nos comentários)
Fonte: Saiadolugar.com.br

Você trabalha de verdade?

Moral da história: Estamos em 2011, na era do lado-direito do cérebro; onde criatividade, iniciativa e visão são as características mais desesperadamente procuradas pelas empresas. O trabalho mudou, os problemas mudaram e é preciso ter uma cabeça do século XXI para entender que às vezes o que não parece trabalho pode render bons resultados lá na frente.

Fonte: Saiadolugar.com.br

Onde estão seus amigos?

Título da Tirinha: O tal do valor invisível (ou seria Intangível??)

Fonte: Aqui

Para que serve o Ebitda?

Usado isoladamente e sem critério, ele não é suficiente para analisar uma empresa!

Fonte: EXAME, texto de Cláudio Gradilone [E sabem de quando é o texto? Agosto de 2002! Continua bastante atual e relevante!]

Imagine dois motoristas de táxi que dirigem carros iguais, comprados no mesmo ano. Ambos trabalham no mesmo lugar e têm receitas e gastos semelhantes. A única diferença entre eles é que o primeiro guarda, todos os meses, 5% do que ganha para comprar um carro novo, ao passo que o segundo não faz essa poupança. Se um gerente de banco só tivesse essa informação financeira, como decidiria a qual motorista emprestar dinheiro? Ou, se fosse um investidor e tivesse apenas esse número em mãos, qual deles receberia o dinheiro?

Em termos bastante simples, essa questão resume a principal discussão que está ocorrendo neste momento em que os balanços têm sua validade contestada e os investidores relutam em comprar ações. Qual é o melhor método de avaliação de uma empresa? Contadores e investidores vêm debatendo se avaliar apenas o resultado operacional de uma companhia é suficiente para determinar a qualidade do negócio. Mais especificamente, o que os especialistas analisam é a capacidade de um indicador conhecido como Ebtida, sigla para o inglês de Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, de antecipar, sozinho, se uma companhia vai bater a concorrência ou se está fadada a freqüentar as colunas de falência dos cadernos de economia dos jornais.

Desde o começo dos anos 90, o Ebitda (pronuncia-se ebítida ou ebidá) vem sendo cada vez mais utilizado na hora de analisar uma empresa. "O Ebitda mostra o potencial de geração de caixa de um negócio, pois indica quanto dinheiro é gerado pelos ativos operacionais", diz Ariovaldo dos Santos, professor de contabilidade da Universidade de São Paulo e responsável pela elaboração do anuário Melhores e Maiores, de EXAME. "O que vem sendo discutido é até que ponto o Ebitda é suficiente como regra de decisão sobre o futuro de uma companhia."

Para compreender o Ebitda, também conhecido no Brasil pela pouco empregada abreviatura Lajida, não é necessário obter um diploma de contador. Ao contrário, é possível entender com base no exemplo inicial dos táxis, pensando neles como empresas dedicadas à prestação de serviços de transporte. Esse serviço gera uma receita, que são os pagamentos dos passageiros. Entre ela e o lucro líquido -- quanto cada taxista de fato levou para casa no fim do mês -- há diversos custos, que as normas contábeis separam por tipo para facilitar a análise do negócio.

O primeiro são os custos do serviço prestado. Entram nesse item, por exemplo, a gasolina e o óleo lubrificante. Subtraindo-se esse custo da receita de serviços, obtém-se o lucro bruto. Há outros custos além do dos serviços, mas eles não são constantes e por isso são contabilizados no item "outras despesas". No caso do táxi, um bom exemplo são os gastos eventuais com estacionamento. Outro componente do item "outras despesas" é um dos mais importantes para qualquer empresa, o endividamento. Se o motorista serviu-se de um financiamento para comprar o carro e tem de pagar juros e amortizar a dívida, esses gastos são contabilizados como despesa financeira. Subtraindo-se todas essas outras despesas do lucro bruto se chegará ao resultado operacional (que pode tanto ser lucro quanto prejuízo).

O Ebitda fica exatamente aqui, com a importante diferença de que ele não considera os gastos financeiros. "O Ebitda indica quanto dinheiro os ativos operacionais de uma companhia produzem", resume o professor Ariovaldo dos Santos. Há mais alguns passos entre o resultado operacional e o resultado final. Ainda é preciso contabilizar outras despesas, como a depreciação, que mede o desgaste do carro pelo uso. No fim de tudo é hora de acertar as contas com o Leão para chegar, finalmente, ao lucro líquido.

O dinheiro percorre muitas etapas desde a hora em que é registrado como faturamento até chegar à ultima linha do balanço. É possível ser muito flexível na hora de contabilizar as despesas financeiras e de depreciação. Na hora de pagar impostos, então, nem se fala, mesmo na hipótese de que tudo seja feito estritamente de acordo com as regras. "Há um grande espaço para interpretações entre o resultado operacional e o lucro líquido", diz Fernando Musa, diretor da consultoria americana Monitor Group, especializada em assessorar compradores e vendedores de empresas. "Mesmo que não haja irregularidades, o lucro pode variar muito de um ano para outro, dependendo das premissas de onde o contador partiu."

A estratégia de internacionlização das empresas, via aquisições no exterior, tornou a situação ainda mais complexa. As formas de contabilizar depreciação, dívidas e impostos só são comparáveis dentro de um mesmo país. Quando a economia se globaliza os mesmos números passam a mostrar informações muito diferentes. "No Brasil, a depreciação dos ativos pode ser contabilizada em até dez anos, ao passo que nos Estados Unidos esse prazo é muito menor", diz Ariovaldo. Para voltar aos táxis: um motorista americano teria de "trocar" contabilmente seu carro em intervalos muito mais curtos do que um taxista brasileiro, e seu lucro seria aparentemente bem menor. Além disso, seu táxi ficaria mais "velho" muito mais depressa que o do brasileiro.

Aplique-se esse raciocínio a uma fábrica completa, uma empresa de energia ou uma companhia de petróleo -- todas elas operações com milhares de partes interligadas e uma quantidade colossal de capital investido em equipamentos --, e dá para ter uma idéia aproximada de como é difícil avaliar, contabilmente, o valor de uma empresa em outro país. "Nesse aspecto, o Ebitda é um instrumento muito mais fácil de trabalhar", diz Musa.

Segundo Musa, o Ebtida não é afetado por variáveis específicas de cada país, como taxas de juro, regras de depreciação e, principalmente, as complexas diferenças entre as leis tributárias. Tudo isso torna muito mais difícil fazer qualquer projeção sobre os resultados futuros da empresa. "O Ebitda é uma variável operacional e muda pouco de ano para ano e de país para país", diz Musa. "Por isso, ele é uma ferramenta muito útil quando uma empresa resolve comparar-se com um concorrente ou globalizar suas operações."

Há outras vantagens. "O Ebitda permite usar o passado para estimar o futuro, o que é algo difícil na contabilidade", afirma Haroldo Mota, gerente financeiro e de planejamento da TIM Maxitel, empresa de telefonia celular da banda B de Minas Gerais. "Com ele, é possível conciliar as estimativas futuras de fluxo de caixa com o resultado obtido em exercícios passados." Segundo Mota, é por causa desse poder de análise que o Ebitda ganhou tanta relevância nos últimos anos. "No começo dos anos 90, quem fizesse uma palestra sobre a empresa e falasse de Ebitda não seria entendido por ninguém", diz ele. "Hoje ocorre o contrário, se você não falar do Ebitda é que ninguém vai entender."

A TIM Maxitel usa o Ebitda para estabelecer suas metas de resultado. As empresas de telefonia da banda B têm um Ebitda médio que oscila ao redor de 35% do faturamento. Ou seja, cada real de serviços de telefonia cobrados gera 35 centavos em caixa. "Nós usamos esse indicador na hora de estabelecer as metas de desempenho para o ano", diz Mota. A preferência explica-se porque o lucro depende de decisões que vão além da eficiência operacional. Por exemplo, se a TIM Maxitel -- que é uma sociedade anônima de capital fechado, sem ações negociadas em bolsa -- oferecerá um dividendo maior aos acionistas italianos que a controlam ou se investirá na expansão de sua área de cobertura. Além disso, o que interessa de fato é saber se a empresa será capaz de gerar caixa suficiente para investir, pagar as dívidas e ainda remunerar os acionistas, especialmente num setor que demanda tanto capital como o da telefonia celular.

Se há tantas vantagens, por que as críticas ao Ebitda? Voltemos ao exemplo dos táxis. Os dois motoristas compraram seus carros no mesmo momento, mas o primeiro reserva uma fatia de 5% do que ganha para substituir o carro e o outro não. Ambos têm receitas (as corridas) e despesas (o combustível) iguais. O resultado gerado diretamente pela principal atividade é equivalente: o Ebitda dos dois motoristas é igual.

No entanto, o primeiro taxista guarda dinheiro para trocar de carro. Ao fazer isso, ele está reconhecendo que o veículo que usa para trabalhar se deprecia e está se preparando para essa despesa. "Reservando uma parte da receita para trocar de carro, o primeiro motorista vai compensar a depreciação", afirma Ariovaldo dos Santos. "Mas seu lucro será menor no fim do mês."

Por isso, no curto prazo é mais negócio apostar no táxi cujo motorista não guarda dinheiro, pois seu lucro será maior e ele terá mais facilidade para pagar empréstimos e dividendos. O problema é que, depois de cinco anos, o taxista terá um carro usado e precisará tomar dinheiro emprestado para substituí-lo, elevando seu risco no longo prazo. "Essa diferença não aparece olhando-se apenas para o Ebitda", diz o professor Ariovaldo.

Foi essa imprecisão que gerou as resistência ao Ebitda como o indicador "definitivo" para avaliar a saúde de uma empresa -- o mais famoso desses críticos é Ram Charam, ex-professor da Harvard Business School e consultor de executivos como Jack Welch, da GE. "As empresas têm de voltar a indicadores mais básicos, como entrada e saída de dinheiro do caixa", escreveu recentemente Charam na revista Fortune. Segundo Eduardo de Oliveira, sócio responsável por finanças corporativas e reestruturação de empresas da consultoria Deloitte Touche Tohmatsu, a ênfase excessiva na geração de caixa levou a alguns dos maus negócios dos anos 90. "As pessoas começam a usar o Ebitda como se fosse uma medida exata de valor de empresa, mas ele é um instrumento que mostra, quando muito, se o negócio deve ou não ser analisado a fundo", diz Oliveira. Além disso, o Ebitda não considera o endividamento. "Isso não é um problema quando o capital é abundante e barato, pois a idéia é que é possível rolar qualquer dívida a um preço menor se a empresa for comprada por uma concorrente maior ou mais lucrativa", diz Oliveira. "Só que tudo muda quando o crédito está mais apertado, como agora."

Outros especialistas vão além. "O Ebitda não interessa tanto assim a um investidor minoritário de longo prazo, que está preocupado mesmo com a política de dividendos da empresa", afirma Sidney Ito, sócio da empresa de consultoria KPMG. "Não dá para seguir adiante numa negociação de compra ou em uma análise de investimento sem olhar outros fatores como o endividamento e a estrutura de capital da companhia."

Mercado para Contador em micro e pequenas empresas

Nas grandes ou nas pequenas organizações, o mercado de trabalho para a área de Contabilidade está superaquecido, mas exige qualificação e atualização!

Cresce o espaço para o contador em micro e pequenas empresas

Fonte: Jornal do Comércio - RS (20/04/2011)

O novo cenário da Contabilidade no Brasil trouxe consigo muitas oportunidades para os profissionais da área. A adoção das normas internacionais (IFRS), iniciada com empresas de capital aberto, começa agora a atingir as micro e pequenas empresas (MPEs). O contador Vagner Jaime Rodrigues, sócio da Trevisan Outsourcing, comenta a valorização do profissional contábil neste segmento.

JC Contabilidade - Qual é o espaço para a Contabilidade nas micro e pequenas empresas?
Vagner Jaime Rodrigues - O Brasil vem em um ritmo muito forte de transição das suas normas contábeis para o padrão internacional. Este processo tem como pano de fundo transformar a Contabilidade brasileira - hoje voltada principalmente para atender às exigências do fisco - para uma Contabilidade voltada para as decisões gerenciais dos usuários destas informações. Temos usuários externos que necessitam ter conhecimento da saúde financeira e econômica da empresa para tomadas de decisões quanto a investimentos e também usuários internos, efetivamente os gestores da empresa, que necessitam de informações sobre a rentabilidade, eficiência e eficácia da operação. A Contabilidade ganha espaço importante na vida dos gestores internos, passando a assumir efetivamente um papel de suporte às grandes decisões gerenciais.

Contabilidade - Houve um crescimento da importância do papel do contador neste segmento?
Rodrigues - Sim, ao mesmo tempo em que a Contabilidade ganha espaço junto aos gestores no sentido de ser uma ferramenta de suporte às grandes decisões, o contador também ocupa espaços mais importantes na organização. Quem efetivamente tem expertise de registrar e demonstrar, de forma organizada, as movimentações patrimoniais é o contador. Este profissional também está passando por uma transição de conhecimentos e responsabilidades. O novo perfil do contador exige noções de todas as áreas operacionais; ele passa a participar ativamente das decisões estratégicas, afinal, ninguém melhor dentro de uma organização que o contador para conhecer, com detalhes, a situação econômica e financeira da empresa. Ele deixa de ser um profissional que tinha como objetivos maiores cuidar da Contabilidade de forma a atender o fisco, para ser um profissional responsável pelas informações gerenciais que suportaram todas as decisões estratégicas da organização. Este é um grande momento para os profissionais de Contabilidade.

Contabilidade - O que o contador pode trazer de resultados para as MPEs que apostam na contratação destes profissionais?
Rodrigues - Desde que o contador absorva estas novas responsabilidades e assuma este novo perfil, a empresa para qual exerce a profissão só terá ganhos significativos. Veja que normalmente os empresários das MPEs não trazem no seu currículo conhecimento suficiente para entender os impactos das suas decisões no saúde da empresa. O contador passa a ser seu fiel consultor, demonstrando, de forma clara e padronizada, estes impactos. Os empresários da MPEs ganham em qualidade nas decisões tomadas, propiciando assim uma melhor lucratividade dos seus negócios.

Contabilidade - Quais são as características do trabalho do contador em MPEs?
Rodrigues - O contador passa a assumir um papel de consultor e orientador para as grandes decisões estratégicas a serem tomadas pelos empresários das MPEs. Neste tipo de empresa, é importante ressaltar, o atendimento acontece diretamente com o proprietário, levando a um relacionamento muito mais próximo. Isso exige que o contador seja mais paciente e capaz de levar exemplos ao empreendedor, uma vez que ele não possui o mesmo nível de conhecimento gerencial que um gestor de uma grande empresa.

JC Contabilidade - Como as micro e pequenas empresas estão percebendo a importância do trabalho do contador?
Rodrigues - Hoje as MPEs possuem facilidade maior de ir buscar recursos financeiros no mercado, por exemplo. Quando isso ocorre, é exigida uma série de demonstrativos contábeis e, a partir disso, surge a necessidade da figura do contador. O momento favorável que vive a economia brasileira dá maiores condições para que as micro e pequenas empresas cheguem a diferentes segmentos e, com a atuação de um contador, elas podem apresentar sua saúde financeira de forma organizada para diferentes clientes e fornecedores.

15 de abr. de 2011

Carreira e Ensino Superior

Extensa, mas bem legal a reportagem do Valor sobre o perfil e a perspectivas profissionais dos novos universitários no Brasil. Tem um depoimento de uma estudante de Ciências Contábeis.
Destaque para o depoimento de um estudante que diz que "Hoje em dia é muito fácil fazer uma graduação. Não uma boa faculdade, mas ter um diploma. Agora, o verdadeiro diferencial é ter pós..."
O estudante revela que a expansão do ensino superior não necessariamente foi acompanhado da qualidade dos instituições e dos cursos oferecidos. Será que é isso mesmo? O que o ensino superior tem agregado em termos econômicos e socioculturais aos estudantes?
Li uma reportagem um dia desses que dizia que o ensino superior tem agregado cada vez menos à vida das pessoas... É isso mesmo? Quais as razões? Será que a queda na qualidade têm contribuído para derrubar o status do ensino superior?

Nos caminhos do diploma
Matéria de Diego Viana, publicada no Valor Econômico - 15/04/2011

O professor José Carlos Pereira de Almeida aproveita o silêncio dos alunos, que vão tentando resolver exercícios de sala, para anunciar a data do exame de planejamento tributário, a matéria que ele ministra para o terceiro ano de contabilidade da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo. O exame será realizado na semana seguinte ao feriado de Páscoa. Sem surpresa, a notícia gera protestos nos alunos que planejavam viagens. Mas o professor dá uma justificativa: "Vocês vão ter quatro dias sem aula e sem trabalho para se preparar. Viram como sou bonzinho?"

O argumento é bem recebido por muitos dos estudantes, sobretudo aqueles que saíram diretamente do emprego, às 18h, para a aula, com início às 19h. O intervalo é curto demais para trocar a roupa ou completar os exercícios passados pelo docente na aula anterior. "Se o senhor tivesse chegado pelo menos um pouquinho atrasado, eu teria tido tempo de terminar", diz, para divertimento dos colegas, uma aluna que estava na sala uma hora antes do início do curso, resolvendo as perguntas. Ela veste uma jaqueta com o logotipo da empresa em que trabalha e admite que, da quinta questão em diante, a folha de exercícios está em branco.

Os cursos noturnos de universidades particulares são o universo mais representativo da expansão do ensino superior brasileiro nas últimas duas décadas, tanto em sua expressão meramente numérica - passou-se de 1,6 milhão de universitários no país em 1994 a 3,6 milhões em 2002 e 5,95 milhões em 2009 -, quanto em sua expressão econômica. No Brasil, um país com índice de alfabetização persistentemente baixo e ensino público de qualidade duvidosa, embora caminhe para a universalização, o diploma se configurou tradicionalmente como um símbolo distintivo das classes dirigentes. Na última década, os dados revelam uma mudança no quadro, ainda que tímida.

Os novos estudantes das universidades brasileiras vieram majoritariamente de outros universos socioeconômicos além das elites. Entre 2002 e 2009, a proporção de universitários oriundos das classes C e D, conhecidas também, respectivamente, como "classe média baixa" e "classe baixa", subiu de 45,3% para 72,4%. A cifra referente à classe D é mais notável: de 5% dos alunos apenas, passou-se a 15,3%. Apesar dos custos consideráveis com mensalidades, transporte e materiais, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que 76,6% das vagas universitárias brasileiras, em 2009, pertenciam a instituições de ensino particulares, que, com exigências menores de entrada, são acessíveis a jovens oriundos do sistema público de ensino. Graças a bolsas, ensino a distância e outros programas, esses jovens aproveitam a oportunidade: segundo a consultoria Data Popular, especializada em negócios voltados para as classes C e D, embora 37% dos jovens da classe C aspirem ao diploma universitário quando saem da escola, apenas 27% ambicionam uma vaga em universidades públicas e gratuitas.

"Se o senhor tivesse chegado pelo menos um pouquinho atrasado, eu teria tido tempo de terminar", diz a aluna que não fez todos os exercícios

Nem só de jovens recém-saídos do ensino médio vivem as universidades. Marcio Sebastião Pereira, aluno de administração no Centro Universitário Anhanguera, em São Paulo, tem 45 anos e uma história de vida característica de muitos trabalhadores da indústria. Filho de um eletricista de manutenção que trabalhou durante 25 anos nas indústrias Matarazzo e jamais passou da quarta série, seguiu os passos do pai, cortou os estudos aos 12 anos e foi trabalhar no setor de expedição de uma fábrica de produtos alimentícios. Hoje, é operador de empilhadeira para uma indústria de autopeças e entrevê a possibilidade de obter cargos melhores graças ao diploma universitário, em seguida à conclusão do ensino médio. "Gosto da área em que trabalho e vejo que existem muitas vagas sendo abertas para profissionais diplomados", conta Marcio. "Entrei no curso de logística e não ajudou muito, então agora estou na administração."

Como Marcio, muitos dos inscritos em cursos superiores almejam resultados práticos e rápidos no mercado profissional. O aumento proporcional das classes C e D na universidade acompanha a trajetória de ascensão social vivida no Brasil na última década. De acordo com dados do IBGE, a classe C, cuja renda está entre quatro e dez salários mínimos, passou de 37% da população brasileira em 2002 a 49,7% em 2009. Ou seja, obteve-se uma classe média com mais de 95 milhões de pessoas. Famílias até então excluídas dos principais benefícios da sociedade de consumo passaram a ter acesso, por meio de melhores salários e crédito mais abundante, a produtos de grife, eletroeletrônicos e viagens de avião.

A inserção no ensino superior, porém, tem implicações mais amplas do que o acesso ao consumo. Dentre os novos membros da classe média brasileira, aqueles que entram no ensino superior são, na maioria das vezes, os primeiros membros da família a chegar à universidade. Segundo a Data Popular, 68% dos jovens da nova classe média estudaram mais do que os pais. Esse dado expõe a importância do diploma para quem vê nele seja a possibilidade de galgar degraus na escala social, seja a garantia de manter os ganhos que a família já fez. "Esse estudante, cujos pais têm pouca educação e pouca perspectiva de ascensão social, que é o primeiro membro da família a chegar à universidade, cujos estudos exigem, muitas vezes, um sacrifício enorme da família inteira, não vai perder essa oportunidade que apareceu de jeito nenhum", afirma Renato Meirelles, especialista da Data Popular.

Pelo caminho dos estudos universitários, os brasileiros procuram todas as formas de melhoria socioeconômica. "O diploma não só dá acesso a uma vida melhor, mas ele também é uma garantia de que a pessoa não vai voltar às condições anteriores", diz Meirelles. O empreendedorismo é o que move o estudante de administração de empresas Pablo Ferreira da Paixão, colega de sala de Marcio. Ele conta que teve de começar a trabalhar em tempo integral ainda na adolescência, quando o pai se afastou da família e parou de oferecer qualquer tipo de contribuição. Aos 37 anos, Pablo é vendedor de uma corporação multinacional produtora de café, mas abriu há cerca de um ano sua microempresa, ao perceber uma oportunidade para lucrar com a comercialização de roupas para animais de estimação.

"Eu vinha adiando minha volta aos estudos, mas, com a empresa, resolvi tomar uma atitude", conta Pablo. "O trabalho e o estudo estão sempre em relação. Aplico tudo que aprendo aqui na minha empresa e aproveito minha experiência profissional para os trabalhos da faculdade." O novo microempresário confessa que, apesar de toda a experiência de trabalho que acumulou, não saberia como conduzir seu negócio sem o aprendizado recebido no ensino superior. "O relacionamento com os clientes melhorou muito, com os fornecedores também, tudo..."

As oportunidades do mercado profissional são a motivação mencionada por quase todos os universitários que falaram ao Valor. Mudar de emprego, conseguir um aumento e evoluir dentro de uma empresa são expressões citadas com frequência. Maria Aparecida Dias, de 46 anos, estuda com Marcio e Pablo. Ela trabalha no setor administrativo do escritório de advocacia em que o próprio marido é advogado. "Ele está se desenvolvendo na carreira. De vez em quando meu marido comenta como ele vai subindo e eu fico estagnada, porque não estudei tanto quanto ele. Foi por isso que me incentivou a entrar na faculdade pela primeira vez", conta.

Os estudantes percebem com muita clareza o aumento explosivo da oferta de emprego para trabalhadores com boa formação, aquilo que, do ponto de vista do empregador, é apelidado de "apagão da mão de obra qualificada". Segundo Renato Meirelles, a expansão do ensino superior é uma forma que o mercado encontrou para tentar contornar sua própria insuficiência de trabalhadores bem formados. "Agora não dá mais para tomar aquela cerveja de domingo, preciso ficar fazendo trabalhos para a faculdade. Parou de vez!", diz Pablo Paixão, misturando o orgulho e a lamentação. Ao tomar a decisão de sacrificar horas de lazer para se preparar para exames, o trabalhador procura preencher essas vagas e ganhar um salário melhor, o quanto antes. "Recebemos muitos alunos com uma ansiedade enorme. Eles querem ver a vida mudar depois de dois meses de aula, só. Como não acontece, muitos querem desistir. Meu trabalho é controlar essa ansiedade e mostrar que a persistência pode levar longe", diz a professora Alvani Guanaes, que leciona a disciplina de comportamento organizacional para a turma de Pablo, Marcio e Maria Aparecida.

Para o consultor Renato Meirelles, o primeiro membro da família a chegar à faculdade não perde a oportunidade de jeito nenhum

"Muitas pessoas entram na sala e se dão conta de que sempre tiveram trabalhos braçais. Elas se perguntam o que estão fazendo nesse ambiente tão diferente", diz a professora. A faculdade, portanto, não é necessariamente um ambiente acolhedor para quem perdeu o hábito de acompanhar aulas e fazer exames, ainda mais para pessoas que trabalham durante todo o dia e à noite precisam do deficiente transporte público brasileiro para estudar. Maria Aparecida conta que, nos primeiros meses, quase desistiu, mas recebeu apoio dos colegas. A ajuda mútua é apontada pelos alunos como uma força indispensável não apenas para manter a motivação, mas também para facilitar a inserção no mercado. "Os amigos da faculdade são o melhor currículo de todos nós", resume Juliana de Souza Nascimento, de 24 anos, colega de Pablo e Maria Aparecida. Kleber Silva de Oliveira, o mais jovem do grupo, com 19 anos, complementa: "Nossa classe é um mercado negro de currículos, todo mundo indica todo mundo para empregos. É gente conhecida, dá para confiar".

As características mais visíveis dos novos universitários são, por um lado, ter mais estudo do que os pais e, por outro, a ambição de crescimento socioeconômico. Essas são duas semelhanças que definem um universo de grande amplitude, onde cabe uma diversidade considerável de situações sociais e objetivos de vida. Na ponta mais afluente do espectro está a aspirante a contadora Silmara da Luz Barbosa Silva, de 20 anos, aluna do professor Pereira de Almeida na Universidade Cruzeiro do Sul. Silmara e sua família estão perfeitamente incorporadas à sociedade de consumo. A jovem completou o ensino médio em escola particular, ganhou um carro ao completar 18 anos e vive numa casa que pertence à família, no Capão Redondo, periferia da zona Sul de São Paulo, dentro de uma vila protegida por guarita e vigia. Seu pai, microempresário, é dono de uma pequena frota de caminhões. Ele soube aproveitar a prosperidade que o Brasil atravessa desde o início deste século, recorreu ao crédito - que passou de 25,8% do PIB em 2001 a 46,7% em 2010 - e conseguiu ganhos materiais e profissionais.

"Ele quita uma dívida e começa outra", conta Silmara, para quem o pai às vezes comete loucuras demais. "É dívida da empresa, dívida pessoal..." Mas o recurso a empréstimos é o meio mais simples e garantido para fazer o pequeno negócio crescer e a família consumir. "Alguns períodos foram complicados, mas agora, graças a Deus, a empresa está dando um pequeno lucro", diz a estudante.

Para a família de Silmara, a ascensão à classe C é fato consumado. De motorista de ônibus a microempresário, de morador de conjunto habitacional a proprietário de imóvel, a melhora econômica é considerável e se consolida culturalmente com a chegada da filha à universidade. Nem o pai, nem a mãe de Silmara, que trabalhou a maior parte da vida como costureira e hoje cuida da parte administrativa da empresa familiar, passaram da quarta série, mas colocar os filhos na faculdade sempre foi uma meta. Silmara escolheu a profissão que viria a estudar quando tinha 10 anos, por sugestão da mãe à menina que se interessava por matemática. Pelo bom desempenho nos exames de admissão, a jovem obteve uma bolsa de 75% da mensalidade, o que a poupa de desembolsar mais de R$ 1.600 todo mês.

Silmara repele com veemência a hipótese de herdar o espírito empreendedor do pai. Hoje estagiária numa empresa de equipamentos médicos, sua aspiração é ser efetivada para desenvolver uma carreira que dê segurança à família que pretende formar com o noivo, Renan Ribeiro, estudante de engenharia civil de 21 anos. Esse objetivo exigirá, como reconhece Silmara, uma pós-graduação, sob pena de ficar para trás diante de uma concorrência cada vez mais acirrada. "Hoje em dia é muito fácil fazer uma graduação", ela diz. "Não uma boa faculdade, mas ter um diploma. Agora, o verdadeiro diferencial é ter pós."

Na outra ponta do panorama universitário, Adolfo Pereira de Mendonça, aluno de nutrição da Universidade São Judas Tadeu, também em São Paulo, é responsável pela própria ascensão à classe média e à sociedade de consumo. Aos 28 anos, ele está no terceiro ano do curso, mas sua epopeia estudantil começou quando tinha 17 anos e percebeu que não chegaria longe com o que aprendeu na escola estadual em que estudou, no bairro Jardim Popular, zona Leste de São Paulo. "Todo mundo sabe como é a escola pública no Brasil... Não precisa estudar nada, não precisa aprender nada, todo mundo passa", diz Adolfo, que até então não gostava de estudar e preferia passar as tardes empinando pipas na rua.

"Hoje em dia é muito fácil fazer uma graduação. Não uma boa faculdade, mas ter um diploma. Agora, o verdadeiro diferencial é ter pós"

O rapaz acreditava que seu destino, como o dos vizinhos, seria terminar os estudos básicos e trabalhar pelo resto da vida em empregos que não exigem qualificação. Sua mãe o incentivava não a estudar, mas a trabalhar, principalmente depois que o pai foi morar no interior de São Paulo, ganhando a vida como garçom, e perdeu o contato com os filhos. Adolfo se inscreveu em um curso de auxiliar de escritório e foi contratado por uma grande empresa de advocacia paulistana.

Chamado para servir o Exército, Adolfo tomou gosto pelas atividades de cozinha e decidiu trilhar uma carreira em nutrição. Àquela altura, a universidade ainda lhe parecia fora do alcance, então ele se inscreveu na Escola Técnica Carlos de Campos para obter uma formação como técnico em nutrição. Ao mesmo tempo, inscreveu-se em cursinhos pré-vestibulares e trabalhou como atendente de telemarketing e vendedor em lojas de centros comerciais.

"No cursinho, eu tinha de recuperar o tempo perdido na escola. Foi a primeira vez que tive contato com matérias básicas, como matemática e história. Até ali, nunca tinha lido um livro, mas comecei a gostar de literatura", conta Adolfo. Foram três anos de cursinho. Ao fim de cada ano, o estudante prestava a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e os vestibulares de universidades públicas, isto é, gratuitas. Pagar pelo curso estava fora de cogitação. Ao encontrar uma faculdade privada que concede bolsas a movimentos camponeses, o jovem não hesitou em encontrar um para se filiar, embora tenha vivido a vida inteira na maior cidade do país. Nessa faculdade, porém, ele não passou.

Formado no curso técnico, Adolfo encontrou emprego no Hospital Regional de Osasco, distante duas horas de sua casa, num trajeto realizado diariamente em trem, metrô e ônibus. Na mesma época, inscreveu-se no ProUni (Programa Universidade Para Todos), pelo qual o Ministério da Educação (MEC) concede bolsas para estudantes de baixa renda. Ao abrir mão das universidades públicas, foi possível chegar à faculdade, usando a nota do Enem, a bolsa de 50% do ProUni (porque sua renda comprovada se situa entre 1,5 e 3 salários mínimos) e o resto financiado pelo Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), também do MEC. Ao inaugurar um projeto que leva adolescentes de escolas estaduais para conhecer a universidade, o estudante pôde dispensar o financiamento público, porque a própria instituição de ensino complementou sua bolsa.

Adolfo abre um sorriso envergonhado para dizer que, embora ainda faltem quase dois anos para a formatura, já tem uma renda superior à de seus pais. O conforto, porém, ainda passa longe. Além do trabalho e da faculdade, que consomem manhã, tarde e noite e eventualmente avançam pelo fim de semana, ele vendeu seu único bem, um fusca que lhe rendeu R$ 5 mil, para pagar um curso de inglês. "Hoje em dia ninguém consegue nada sem inglês", reconhece.

As deficiências que Adolfo identifica em sua educação estão no centro das preocupações dos empregadores, dos especialistas e das próprias universidades. Algumas, como a Universidade São Judas e o Centro Anhanguera, oferecem cursos específicos de recuperação dessas deficiências, particularmente em português e matemática. A professora Alvani Guanaes diz acreditar que as medidas são suficientes, se não para suprir a carência educacional de quem saiu do ensino público, ao menos para fortalecer capacidades cognitivas específicas necessárias para as profissões. "Embora a criança tenha muito mais facilidade de aprender, o adulto, quando aprende, sabe exatamente o que quer e tem muito mais interesse em aprendê-lo. Daí a eficiência da recuperação."

O professor Pereira de Almeida, que, além de lecionar, é proprietário de um escritório de contabilidade, enxerga a situação com menos otimismo. "As pessoas acham que vão recuperar na faculdade o tempo perdido de aprendizado, mas não vão, não. A coisa mais difícil, hoje, é encontrar profissionais qualificados. Eles saem da universidade ainda com muitos problemas", diz. Por mais que exista uma motivação mais forte em pessoas que dependem de bolsas para estudar e dos estudos para prosperar, a associação do esforço ao desempenho não é direta, como adverte o antropólogo George Zarur. "Eu gostaria que assim fosse, isto é, que os mais carentes fossem capazes, em massa, de superar pelo esforço suas limitações de formação. Isso pode acontecer em alguns cursos, mas não, por exemplo, nos integrais, mais difíceis e inviáveis para quem precisa trabalhar", diz.

O professor Pereira de Almeida relata que as turmas dos primeiros anos dos cursos têm muito mais alunos do que as turmas mais avançadas, a ponto de algumas unidades terem até 170 estudantes na sala de primeiro ano. "Não sabemos se alguém está ouvindo o que dizemos", diz o professor, "e a surpresa chega na hora de corrigir as provas". Os alunos menos comprometidos ou com maiores dificuldades para arcar com as despesas acabam ficando pelo caminho, deixando salas com 40, 20 ou até 15 estudantes apenas nos últimos anos.

As deficiências na educação trazidas do ensino médio público também desempenham um papel nesse índice de desistência. "Muitos estudantes têm como referência a escola pública, onde alguns professores mais faltam do que comparecem", afirma a professora Alvani Guanaes. "Alguns não têm referência do que é uma escola que tem livros, tecnologia, exigências de desempenho." Os problemas aparentemente insuperáveis do ensino público fundamental e médio brasileiro podem comprometer a expansão do ensino superior, principalmente no desenvolvimento da qualidade acadêmica dos formandos.

Renato Meirelles, da Data Popular, diz acreditar que pode ser positiva a expansão do ensino superior mesmo antes da melhora da escola pública. Para o consultor, o diploma universitário torna os pais mais exigentes quanto à qualidade da escola dos filhos. "Hoje, os pais das classes baixas não conseguem nem avaliar, nem acompanhar os estudos dos filhos, porque eles não têm referência da boa escola", afirma. "Com pais diplomados, o nível de exigência das escolas públicas tende a aumentar muito e, em consequência, também a qualidade."

14 de abr. de 2011

Informações por Segmento de Negócio

O texto a seguir traz algumas constatações práticas do que as empresas têm publicado em termos de informações por segmentos de negócios, prática de divulgação normatizada pelo Pronunciamento CPC 22 - Informações por Segmento (Correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – IFRS 8), aprovado pela Deliberação CVM nº. 582/2009 e Resolução CFC nº. 1.176/2009 (CFC - NBC T 19.25).

Lucro em detalhe
Texto de Fernando Torres, publicado no Valor Econômico em 14/04/2011

Novo padrão de contabilidade obriga as empresas abertas a divulgar alguma medida de lucro por segmento de negócios, o que facilita análise dos resultados.

O peso da siderurgia no resultado operacional da CSN caiu de 66% para 56% entre 2009 e 2010. A atividade financeira representou 20% e 25%, respectivamente, do ganho das varejistas de vestuário Riachuelo e Lojas Renner em 2010, e chegou a ser mais representativa que a venda de roupas para a Marisa.
Detalhes como esses sobre a origem do lucro das companhias são uma novidade desta safra de balanços, já sob a égide das normas internacionais de contabilidade, conhecidas como IFRS.
Acionistas e analistas têm agora uma valiosa informação, que até então a maioria delas mantinha guardada a sete chaves: o lucro obtido em cada segmento operacional.
Embora muitas empresas já tivessem o hábito de informar a receita registrada em cada área de negócio, era bem mais raro encontrar essa segregação de dados em medidas como lucro operacional ou até mesmo lucro líquido.
Já era conhecido, por exemplo, que o mercado externo é relevante nas vendas da BRF Brasil Foods (antigas Perdidão e Sadia). Agora, além da informação de que as exportações representaram 40% em 2010, sabe-se também que, em termos de lucro operacional, a contribuição foi menor, de 23% do total, o que revela uma situação mais difícil no mercado externo.
Além de mudar as contas do balanço patrimonial e do demonstrativo de resultados, a exigência de publicação de alguma medida de lucro por segmento operacional provoca também um aumento na quantidade de informações que devem ser divulgadas pelas empresas nas notas explicativas.
"Quanto maior o nível de abertura melhor", afirma Pedro Galdi, chefe da área de pesquisa e análise da corretora SLW. "A gente não tinha como fazer a análise por segmento antes. São dados internos da empresa", afirma.

Reginaldo Alexandre, presidente da regional São Paulo da Associação Nacional dos Analistas e Profissionais de Investimento de Mercado de Capitais (Apimec), lembra que algumas empresas já vinham divulgando dados como esses voluntariamente nos últimos anos, mas que em outros casos os analistas tinham que fazer "malabarismos" para tentar separar os resultados das empresas por área de negócio.
"Isso é bom para ver onde está a melhor economicidade e onde a empresa precisa atuar para aumentar a margem e o retorno para os acionistas", diz.
Mas os investidores não encontrarão essa informação em todos os balanços. Muitas empresas dizem que possuem apenas um segmento e por isso não têm informação para abrir. Entre as 25 maiores por valor de mercado, esse é o caso de Vivo, Telesp, Cielo e Tractebel. Entre aquelas que abriram as informações, o nível de detalhe dos dados também varia.
Nenhuma empresa é obrigada a ter diferentes áreas de negócio. O que o IFRS exige é que as companhias divulguem o lucro por segmento da mesma maneira que ele é apresentado ao principal tomador de decisões da empresa, normalmente seu presidente, para definir medidas estratégicas. Ao dizer que possui um único segmento, a companhia atesta que esse executivo não usa resultados segregados para tomar suas decisões.


Definição de segmento será verificada pela CVM
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vai verificar os critérios usados pelas empresas para definir seus segmentos ou para dizer que possuem apenas uma área de negócio, impedindo a divulgação de lucro de forma quebrada, conforme exigido.
"Nunca vi um cliente comentar: 'Essa informação por segmento é muito legal e vai ajudar o meu acionista'. O mais comum é ele dizer que não quer divulgar porque o concorrente vai se aproveitar dessa informação", resume Paul Sutcliffe, sócio de auditoria da Ernst & Young Terco. Segundo ele, o problema é que o IFRS foi feito num ambiente em que a maioria das empresas divulga balanços, o que não é o caso do Brasil.
Danilo Simões, sócio da KPMG, diz que já houve casos no exterior de o órgão regulador verificar relatórios apresentados ao conselho para saber como as informações eram tratadas.
Mas para ser classificado como um segmento, uma área de negócios deve ter receitas e despesas de forma independente. "Às vezes cada loja gera uma receita, mas as compras e o marketing são feitos em nível nacional", diz Sutcliffe.
A Telesp, que divulga receita de telefonia fixa, transmissão de dados e TV por assinatura, diz que "é preciso não confundir unidades geradoras de receita (ou produtos) com segmentos". A Oi considerou voz e dados um único segmento, mas separou as áreas de internet e TV paga.

Obrigações e burocracia nas empresas

Mais tempo para gerir a companhia

Estudo da consultoria contábil Fiscosoft indica que as companhias gastam mais de 200 horas mensais para adequar seus sistemas às constantes alterações legais.

Texto de Renato Carbonari Ibelli, publicado no Diário do Comércio-SP em 13/04/2011

A burocracia fiscal e tributária consome tempo e recursos valiosos das empresas brasileiras, como mostra pesquisa da consultoria contábil Fiscosoft. O estudo aponta que uma quantidade significativa de companhias gasta mais de 200 horas mensais para adequar seus sistemas de gestão às constantes alterações legais. Para tanto, muitas companhias precisam mobilizar mais de 15 profissionais para dar conta da tarefa. Ainda assim, pela complexidade nos processos, erros acontecem, acarretam multas ou recolhimento a maior de impostos.

O curioso é que, nos últimos anos, o fisco tem emplacado mecanismos para dar agilidade aos processos contábeis das empresas, como a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) ou o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped). Mas pelo resultado do estudo do Fiscosoft, parece que a complexidade só saiu do papel e entrou na era digital. "O Sped foi vendido como uma ferramenta que diminuiria as obrigações acessórias e as redundâncias (envio das mesmas informações para diferentes autarquias), mas isso não aconteceu ainda", diz Fabio Rodrigues, diretor da Fiscosoft.

O Sped dispensaria o contribuinte do envio da Guia de Informações e Apurações (Gia), por exemplo, mas ela continua obrigatória, juntamente com outras obrigações acessórias criadas com o Sped. "O que precisa haver é a simplificação do sistema tributário, mas essa mudança dependeria de uma reforma, que nunca sai do papel", diz Rodrigues.

O estudo ouviu 441 empresas. De acordo com 42,3% delas, acompanhar as alterações nas legislações tributárias é o que consome mais tempo. Já para 31% das entrevistadas a principal dificuldade é adaptar a legislação ao formato para alimentar os softwares de gestão. E são as discrepâncias nas legislações do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) que trazem as maiores complicações para as empresas. O tributo foi apontado por 59,2% das empresas como o mais complexo para se interpretar.

As peculiaridades do ICMS complicam a vida das empresas que fazem operação em mais de uma unidade da federação. E pelo estudo, 21,9% dos entrevistados têm de acompanhar as mudanças na legislação do tributo dos 27 estados.

Tal complexidade acarreta falhas no processo de atualização das empresas às alterações fiscais e contábeis. Erros nesse processo são comuns , segundo 50,4% dos ouvidos pelo Fiscosoft. Entre os problemas detectados destaca-se o uso indevida da substituição tributária, a aplicação incorreta das classificações fiscais e de alíquotas básicas da contribuição para o Programa de Integração Social e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Pis/Cofins) quando deveriam ser lançadas alíquotas diferenciadas.

Como consequência dos erros, 47,4% das empresas ouvidas recolhem tributos a mais. Isso, causado por diferentes problemas, tais como erros na determinação da base de cálculo ou o não aproveitamento dos créditos. Outro resultado do processo complexo é o recebimento de multas, apontado por 42,1% das corporações. Também reflexo de atrasos na entrega de declarações, recolhimento a menor de tributos ou aplicações indevida de incentivos fiscais.

O papel do contador no mercado de capitais

Reproduzo a seguir um texto que aborda as perspectivas do mercado de trabalho do contador. Registro que o Jornal do Comércio do RS têm divulgado com regularidade textos e interesse da área contábil e mostrando também as perspectivas profissionais. Parabéns ao Jornal.

O papel do contador no mercado de capitais
Texto de Luciane Costa, publicado no Jornal do Comércio – RS em 13/04/2011

Crescimento do setor abre oportunidades para profissionais da área contábil em diferentes atuações

Após 10 anos trabalhando em um escritório contábil, Gilson Costa decidiu traçar um novo rumo para sua carreira. Há dois meses, o contador tornou-se assessor de investimentos na sede de Novo Hamburgo da Magnum Investimentos. A oportunidade surgiu a convite da empresa devido à experiência dele como investidor na bolsa de valores, atividade iniciada no último ano, apesar de o interesse vir desde a faculdade. Costa aceitou o desafio motivado pelas expectativas de crescimento do mercado de capitais. "Estou trabalhando e acreditando no fortalecimento do mercado no Brasil, que ainda é pequeno em relação ao seu potencial", afirma Costa, referindo-se à possibilidade de aumento do número de investidores em função da estabilização da economia brasileira e da realização de grandes eventos esportivos no Brasil, como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016.
Tiago Prux, sócio e diretor de expansão da Magnum Investimentos, afirma que a expectativa de Costa em relação ao setor é válida, uma vez que o mercado de capitais volta a se recuperar após os efeitos da crise. "Entre 2008 e 2010, o número de investidores permaneceu estável, mas agora observamos mais empresas lançando ações na bolsa e mais pessoas querendo investir nelas", diz. Apenas na Magnum, que possui como um de seus focos de atuação a educação financeira, mais de duas mil pessoas realizaram cursos na área entre novembro de 2010 e março de 2011.
Prova também do momento favorável, segundo Prux, é o aumento do número de empresas operando no setor e apostando na diversidade de produtos. "Hoje as pessoas não procuram mais o banco como referencial de investimentos; empresas como a Magnum oferecem mais opções e informações sobre operações de renda variável e também fixa, como fundos imobiliários", comenta.
Estima-se que nos próximos anos o número de investidores no Brasil passe de 600 mil para 5 milhões e, para suprir essa nova demanda, é preciso a colocação de pessoal capacitado para atender à demanda, especialmente com habilidade em vendas e bom relacionamento interpessoal. "O perfil de quem trabalha no mercado de ações não precisa ser necessariamente técnico, mas é preciso que seja voltado para a área comercial", reforça Prux.
Costa está se adaptando a esse novo viés de trabalho, aplicando os conhecimentos adquiridos em sua formação como contador para diferenciar-se dos colegas oriundos de outras graduações. Ele aposta em sua visão mais abrangente de fluxo de capitais e de características desse mercado para conquistar espaço. Quanto às características da nova função, o contador vê como uma oportunidade de emprego diferente para a Contabilidade.
"O contador é responsável em transformar dados em informações valiosas para seus clientes; no mercado de capitais fazemos isso com foco em rentabilidade para eles, mostrando novos caminhos para seus investimentos", afirma.

Transparência de informações é prioridade
Quando a atuação do contador que trabalha com renda variável é dentro de um banco, o papel dele deve ser garantir que seja disponibilizado o maior número de informações para sócios da instituição e para analistas do mercado, de forma a fornecer os dados necessários para a decisão sobre a aquisição de títulos. Werner Kohler é superintendente-executivo da Unidade de Contabilidade do Banrisul, sendo o responsável pelo processo contábil do banco e também pelo fornecimento de subsídios para o departamento de relação com investidores. "Levamos dados para esse setor que faz contato direto com os analistas, mas somos decisivos também para auxiliar na interpretação desses números", comenta.
Kohler acredita que o papel do contador na área é fundamental para levar ao analista as práticas contábeis utilizadas pela empresa. "Fazemos um livro de dados no qual há o detalhamento de todas as carteiras, negócios, receitas e despesas do banco, de forma a garantir transparência para o investidor e para que ele entenda o ambiente onde atua a empresa, assim ele pode tomar uma decisão acertada quanto às ações. A transparência é cada vez mais fundamental para nosso trabalho", afirma Kohler.
Além da garantia de informações acuradas, o contador deve agora se preocupar também em fazer isso de forma adequada em relação às Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS). "Neste momento de globalização dos mercados, é papel do contador conhecer muito bem essas novas regras e oferecer aos investidores demonstrações financeiras comparadas a outras empresas do mundo", defende Kohler, lembrando que o investidor não escolhe o local onde aplicar seu dinheiro pelo país em si, mas pela solidez de suas empresas.
Kohler reforça a necessidade de atualização do profissional, uma vez que as principais decisões e discussões a respeito do IFRS vêm de outros países. Para isso é importante participar de cursos e formações, ter domínio da língua inglesa e estar alinhado com as entidades de classe do mercado no qual a empresa está inserida. "Para ser um agente de melhoria quanto a essas regras, o contador deve estar presente nas discussões que levam as sugestões de alterações para as entidades responsáveis".

Visão sistêmica abre espaço a profissionais
Uma das principais entidades de classe da área de mercado de capitais na região Sul tem à frente um contador. Marco Antonio dos Santos Martins é presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-Sul), além de professor da ESPM e da Faculdade São Francisco de Assis (Unifin) e sócio da J&M Investimentos.
Para ele, existe espaço para os contadores em várias funções devido à visão sistêmica desses profissionais. "O conhecimento aprofundado do funcionamento das empresas possibilita que eles ocupem posições como analista de investimentos, gestor de carteira e gerente de relações com investidores", explica.
A capacidade de comunicar dados financeiros ao mercado é a característica dos profissionais contábeis mais valorizada pelo setor. "O mercado de capitais dá importância à qualidade da informação recebida para tomada de decisão. Por falar e entender essa linguagem, o contador leva vantagem em relação a outros profissionais."
Como professor universitário, Martins tem observado também constante crescimento de interesse por parte dos estudantes em seguir carreira no setor. A motivação vem pela possibilidade de ganhos financeiros em um mercado em expansão, que oferece grande número de oportunidades. "Muitas universidades investem em disciplinas específicas, voltadas para administração financeira e análise das demonstrações contábeis", exemplifica, lembrando que compreender bem as demonstrações faz diferença em como elas podem influenciar nos resultados de uma empresa.

Seleção de mão de obra acontece ainda na graduação
A capacidade de absorção de mão de obra em um mercado que vive forte expansão tem sido percebida ainda na universidade. A contadora Mara da Silva Carvalho, supervisora de Contabilidade da Solidus Investimentos, foi contratada pela empresa dois anos antes de sua formatura. A profissional foi selecionada como estagiária e logo virou assistente, devido à valorização de uma experiência anterior com gestão financeira.
Hoje ela faz parte da equipe responsável por garantir relatórios diários e mensais das atividades da corretora e dos sete fundos que ela administra, destinados para a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) e para o Banco Central. "Para trabalhar na área é preciso bastante conhecimento sobre legislação em relação a estas duas entidades, que muda com frequência", explica.
Mara conta que, além da função voltada para resultados e operações da empresa, o setor de Contabilidade da Solidus atua também como consultor para alguns de seus clientes e seus contadores. "O mercado de capitais cresceu muito rápido, em período de Imposto de Renda muitos escritórios contábeis nos questionam sobre como declarar os valores obtidos na bolsa, por exemplo", conta.

Uma Contabilidade, vários lucros!

O problema dessa quantidade de medidas diferentes de lucro é o acionista/investidor questionar que o dividendo deve ser calculado com aquele que lhe parecer mais favorável!

Novo modelo traz cinco lucros para investidor

Matéria publicada no Valor Econômico em 11/04/2011 – Texto de Fernando Torres

Não bastassem as medidas gerenciais de resultado usadas pelas empresas nos comunicados ao mercado, a própria contabilidade passa a trazer uma profusão de "lucros" nos seus diversos demonstrativos. Há o lucro líquido, o abrangente, o das operações continuadas, o destinado aos sócios da controladora e o dos minoritários.
Para quem ainda não notou, o lucro líquido que aparece agora nos balanços não é comparável ao lucro líquido que se divulgava no Brasil até 2009. Conforme o padrão internacional, e ao contrário do que ocorria na regra contábil brasileira, o lucro líquido consolidado de uma empresa inclui o resultado que pertence aos acionistas minoritários de controladas.
O lucro que serve como base para pagamento de dividendos é aquele que aparece na demonstração como "atribuído aos acionistas da controladora". Esse dado é que de alguma forma pode ser comparável - apesar das mudanças contábeis - com o lucro líquido que se divulgava no passado no Brasil.
Segundo o professor Eliseu Martins, especialista em contabilidade e ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), todos essas medidas de lucro que aparecem nos demonstrativos contábeis agora já estavam lá antes das mudanças, embora com menos evidência do que no atual modelo.
Ainda segundo ele, as informações são dadas no mesmo nível e cada público pode escolher aquela que mais lhe interessa. Na opinião de Martins, por exemplo, o novo lucro líquido, que inclui o ganho pertencente a minoritários de subsidiárias, é melhor para acompanhar o desempenho da gestão. "Ele abrange o lucro referente a todo patrimônio que está sob controle da empresa da controladora", diz. Ele destaca também que essa medida tende a interessar mais aos credores, que querem saber se o conjunto da empresa vai bem ou mal e é bastante usada na Europa.
Já para o investidor que possui ações da companhia aberta a informação que mais interessa é o lucro atribuído aos acionistas da controladora, pois essa é a parte que lhe cabe e serve como base para os dividendos. Nos Estados Unidos, é a medida mais popular.
Em um exemplo, o grupo Pão de Açúcar controla a Casas Bahia, o que lhe permite apresentar na linha de receita todas as vendas da rede. Mas como o grupo detém apenas 50% das ações da Casas Bahia, metade do lucro obtido por essa controlada ficará com a família Klein, que possui os outros 50%, sem que os acionistas do Pão de Açúcar participem do resultado.
O lucro abrangente soma ao lucro líquido os efeitos que aparecem apenas no patrimônio, como ajuste de instrumentos financeiros disponíveis para venda. Já o lucro com operação continuadas exclui receitas e despesas ligadas a unidades que foram ou serão vendidas ou desativadas, por exemplo.

Papel e Responsabilidade da Auditoria

Qual o papel da auditoria nas organizações? A resposta pode parecer simples: emitir um parecer sobre as demonstrações contábeis, mas quais as consequências do trabalho da auditoria no mercado de capitais? Tem-se noticiado muitos escândalos envolvendo auditoria de empresas privadas e agora o discurso é que a auditoria é correta e não tem poder de polícia!

Auditorias não podem atuar como polícia, afirma IBRACON

Matéria publicada no DCI em 12/04/2011

As empresas de auditoria tiveram sua competência e até mesmo idoneidade colocadas em dúvida nos últimos meses, especialmente nos casos de rombos descobertos no Carrefour Brasil e no caso mais recente, das fraudes contábeis do Banco PanAmericano. Mas o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), mesmo sem comentar estes casos em especial, defende que o trabalho feito pelas auditorias no Brasil é correto.

Segundo Ana Maria Elorrieta, presidente da diretoria Nacional do IBRACON, as firmas de auditoria não têm poder de polícia. "Este trabalho é feito com base nas informações passadas pela própria empresa, e só ela mesma pode apurar se estas informações estão corretas ou não. Nós só podemos comunicar o Comitê de Auditoria ou o Conselho de Administração quando percebemos algum tipo de dado muito fora da curva do que percebemos nas empresas do mesmo setor", explica.

Ana Maria afirma que a própria legislação não permite que as empresas de auditoria e a IBRACON se manifestem sobre casos específicos. Mas quando questionada sobre os problemas descobertos nos balanços de empresas, especialmente as de capital aberto, a presidente do IBRACON responde com números. "São 16 mil balanços analisados todos os anos pelas empresas de auditoria, a maioria delas pelas maiores do País. Então o índice de erro é muito pequeno, o trabalho, de um modo geral, é bem feito".

A executiva afirma que as auditorias não têm poder para fiscalizar os indicadores das empresas. "Nós não temos poder de polícia. As informações são mantidas dentro das empresas, e os diretores e acionistas, por meio do conselho de administração, tomam as atitudes que acham devidas. Nosso dever é coletar os dados e comparar com outras empresas do setor. Se, por exemplo, uma empresa consegue lucro enquanto todas as outras registram prejuízo, vamos tentar saber a causa dessa diferença".

Ana Maria lembra ainda que fraudes contábeis não são episódios tipicamente brasileiros. "Tivemos vários casos em todo o mundo. Quando uma pessoa tem a intenção de cometer uma fraude, ela geralmente faz de um jeito que é muito difícil prevenir. E infelizmente, as empresas de auditoria podem fazer muito pouco".

No que diz respeito a concentração deste segmento, a presidente da IBRACON afirma que atuar como auditor não é fácil, nem barato. "Primeiramente há a questão da credibilidade, do tempo de atuação no mercado de uma empresa de auditoria. As empresas, principalmente as de capital aberto, levam muito em conta este lado. Depois, existe um custo muito alto por trás desta atividade", afirma.

Ela ressalta que as auditorias dependem muito da qualidade dos profissionais que atuam na análise dos números de uma empresa, o que demanda investimento alto e constante. "Você imagina que um novo profissional, por exemplo, passa por um mês de treinamento antes de começar a atuar efetivamente. Só isso já demanda um custo muito alto, já que esse profissional está sendo pago sem gerar um retorno imediato. Mas ele vai trabalhar dentro das empresas, então precisa estar muito bem treinado". Atualmente, o mercado brasileiro é dominado pela PricewaterhouseCoopers, KPMG e Delloite e Ernst & Young, conhecidas no mercado como "Big Four".

Mesmo com essa justificativa, Ana Maria afirma que o IBRACON tem um programa de incentivo para as pequenas auditorias. "Nós promovemos formação para os profissionais destas empresas, e achamos saudável uma competição maior. Mas é um objetivo de longo prazo, isso não acontece de um dia para o outro", finalizou a executiva.

“... nunca [...] plenamente maduro, nem nas idéias nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.” (Gilberto Freire)