Gente,
Divulgo aqui o texto a seguir com alguns comentários em homenagem ao Prof. Eliseu Martins pelas discussões feitas nesse semestre na disciplina Teorias do Lucro e da Avaliação Patrimonial, no PPGCC - FEA/USP. A inflação é coisa do passado!! Será mesmo? Não é preciso mais estudar correção monetária!! Tem certeza?
Ressurgimento da inflação traz de
volta debate sobre regras de contabilização
Texto
publicado no Valor Econômico em 05/05/2011, por Tony Jackson - Financial Times
As
perspectivas para a inflação no mundo desenvolvido podem ser turvas, mas em
algumas economias emergentes o quadro é comparativamente mais nítido. Considere
a Índia, com uma inflação estimada em 12,1% em 2010 ou a Argentina com 10,9%.
Isso
levanta uma questão interessante para as multinacionais do Velho Mundo que
estão se esforçando para construir sua presença nesses países. O que elas estão
fazendo para corrigir o efeito distorcedor da inflação local em suas
demonstrações de resultados?
Não
muito, ao que parece. As normas contábeis internacionais e americanas
especificam que a contabilização da inflação deve ser usada em subsidiárias em
países com hiperinflação – genericamente
definida como 100% em três anos, ou 26% acumulados ao ano [e se for 99%
ou ainda 98% ou algo próximo disso não existiria hiperinflação???]. A
única economia que satisfaz o critério é da Venezuela.
Em
outros países de inflação elevada, nenhuma ação é exigida. E de acordo com
auditores e empresas que consultei, nenhuma ação é tomada.
Isso
não deveria, talvez, surpreender-nos. As
distorções causadas pela inflação são, principalmente, para cima [O prof. Eliseu
Martins sempre defende que as distorções causadas pela não consideração na
Contabilidade das variações no poder aquisitivo da moeda são imensas].
Por que deveriam as empresas negar-se um modesto incremento no lucro, por
ilusório que seja, quando ninguém diz que elas têm de fazer correções?
Quanto
aos próprios países, a questão é outra. Alguns países latino-americanos estão
discutindo possíveis mudanças nas regras com o Conselho de Normas
Internacionais de Contabilidade (IASB, na sigla em inglês). O conselho deverá
incluir a contabilização da inflação entre as questões para discussão nos
próximos 12 meses.
Há
basicamente três vias pelas quais a inflação afeta os valores apresentados:
depreciação, estoques e ativos/passivos financeiros.
A
primeira é óbvia. Se você depreciar uma máquina durante sua vida de cinco anos
por seu custo, mas o preço de uma máquina nova dobrar, seu lucro resultará
inflado.
Estoques
são menos óbvios, mas possivelmente, mais importantes. Para calcular o lucro
bruto é preciso conhecer o custo dos materiais consumidos. Ou seja, tudo que é
comprado durante o ano mais estoques iniciais – que são consumidos durante o
período – menos os estoques finais, não consumidos.
Disso
resulta que um aumento nos custos de estoques incrementará os lucros
reportados. Mas, ao mesmo tempo, isso reduz o dinheiro em caixa.
Em
meados da década de 1970, quando a inflação de preços ao consumidor no Reino
Unido ficou em torno de 25%, a inflação dos custos industriais estavam mais
próximos de 50%. As empresas ficaram sujeitas a grandes ônus tributários sobre
lucros inexistentes e o governo introduziu apressadamente isenções sobre
valorizações de estoques para evitar falências.
Próximo
item: ativos e passivos financeiros. Evidentemente, o efeito líquido da
inflação sobre devedores e credores pode ser positivo ou negativo, conforme o
balanço patrimonial.
Os
efeitos sobre o patrimônio são mais sutis. As empresas precisam ter certeza de
que, ao pagar dividendos, não estejam, na realidade, distribuindo capital. A
solução óbvia é indexar esse capital. Mas a questão é qual índice usar.
Para
itens em caixa, o índice de preços ao consumidor é suficientemente bom. Mas a
taxa de inflação referente a ativos físicos, como vimos no exemplo britânico
dos anos 1970, pode ser bastante distinta, e o valor dos ativos físicos,
evidentemente, afeta o cálculo do patrimônio.
Então,
como poderiam ser as novas regras para contabilização da inflação? No Reino Unido
na década de 1970, toda essa ideia foi tão controvertida que no momento em que
uma norma contábil foi finalmente formulada, a inflação tinha cedido.
A
natureza dos argumentos, naquela época, poderia, então, servir como
advertência. Para muitos contadores ortodoxos, a ideia de abandonar a
contabilidade histórica de custos era um anátema. Eles preferiam falsidade
precisa a verdade imprecisa.
Quem
pensa que essa atitude dissipou-se deveria lembrar a hostilidade generalizada
ainda gerada por regras mais recentes relativas à marcação de ativos
financeiros a mercado. Imaginemos aplicar esse princípio a hardware e software,
e compreenderemos como fica o cenário.
Tendo
em vista as complexidades, o resultado provável é que os números serão
ajustados por um simples índice de preços ao consumidor, como segundo as regras
atuais para economias hiperinflacionárias. O resultado seria rudimentar, mas
poderia ser o preço para obter uma adesão generalizada. E, afinal de contas,
algo precisa ser feito. Tomados como uma categoria, os países emergentes podem
não chegar a 100% de inflação em três anos. Mas o percentual atual é de 28%
para a Argentina, 35% para a Índia e 36 na Rússia.
Quem
pensa que, nesses casos, custos históricos representam a realidade está se
iludindo. Um exame superficial das contabilidade gerencial das companhias
multinacionais mostra que elas não trabalham com tais custos históricos. A
questão é se elas compartilham a realidade com seus proprietários.
Faz
30 anos que Warren Buffett descreveu a inflação como sendo uma “gigante
lombriga empresarial… que simplesmente limpa o prato”. Não estamos de volta à
década de 1970, mas não custa nada tomar precauções.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua participação é muito importante para as discussões de ideias contábeis e outras mais. Obrigada!