A matéria trata de um estudo inovador e muito interessante: a busca de entender o cérebro humano nas decisões econômicas, contábeis, adminstrativas, de investimentos... Na matéria foi denominada de Neuroeconomia, mas já existe também a Neuroaccounting! No III Congresso ANPCONT (Associação
Nacional do Programas de Pós Graduação em Ciências Contábeis) realizdo em São Paulo, foi apresentado o trabalho NEUROACCOUNTING: MODELANDO A TOMADA DE DECISÃO EM AMBIENTESCONTÁBEIS. Mas já existem diversas outras publicações sobre o tema no exterior e também pesquisas em andamento no Brasil sobre o assunto.
Neuroeconomia
busca desvendar a cabeça do investidor
Matéria de
Nikhil Hutheesing ( Bloomberg) publicada no Valor Econômico em 12/09/2011
John Coates, um
pesquisador sênior de neurociências e finanças da Universidade de Cambridge,
tem uma teoria. Ele diz que haveria menos bolhas e crashes no mercado de ações
se mulheres e homens mais velhos conduzissem a maioria dos negócios. "Há
menos diversidade no mundo financeiro que no militar", ironiza ele.
"Em Wall Street, temos uma parcela da população - homens jovens -
conduzindo os pregões. Isso leva a um comportamento extremo: eles ficam
selvagens."
Isso não é bom
para as ações. Tal comportamento provavelmente contribuiu para o crash da
internet em 2000 e o crash de 2008-2009, alimentado pelas hipotecas subprime.
Portanto, Coates, que passou 12 anos negociando derivativos de renda fixa para
o Goldman Sachs e o Deutsche Bank em Nova York, está agora examinando os
hormônios dos operadores, em busca de pistas sobre o grau de risco que as
mulheres e os operadores mais velhos se dispõem a assumir.
Em 2007 Coates
dirigiu-se a um pregão e recolheu repetidas vezes amostras de saliva de 250
operadores, a maioria homens jovens. Ele constatou que no período da manhã,
quando seus níveis de testosterona estão altos, a confiança dos operadores
também é alta. Na medida em que fazem negócios bem-sucedidos, seus níveis de
testosterona sobem ainda mais, levando a lucros na parte da tarde.
Os homens jovens
começam a se sentir infalíveis, assumindo um comportamento cada vez mais
arriscado, como comprar ações a preços sobrevalorizados. Mas, em algum momento,
testosterona demais e um excesso de julgamentos equivocados levam os mercados a
níveis de alta insustentáveis. Então o ciclo termina. As ações sobrevalorizadas
sofrerão um crash e os níveis de testosterona voltarão ao normal. "A
testosterona é a molécula que explica a exuberância irracional", afirma
Coates. "Uma certa quantidade de testosterona pode ser saudável, mas o
excesso pode levar a uma bolha."
Para a maioria
dos pesquisadores que trabalham com a neurociência, o "Santo Graal" é
descobrir como regenerar os neurônios do cérebro. Tal feito ajudaria os
cientistas a acabar com doenças como o mal de Parkinson e o mal de Alzheimer.
Mas outros estão usando as técnicas desse campo em crescimento nas finanças
comportamentais, que por si só é uma mistura de economia com psicologia. O
resultado é um novo campo chamado neuroeconomia, que tenta explicar como as
pessoas gerenciam riscos e por que elas sempre tomam decisões irracionais.
A importância
das emoções não é nenhuma novidade. Benjamin Graham, considerado o pai do
"value investing", certa vez disse: "Os indivíduos que não
conseguem dominar suas emoções estão mal adaptados para lucrar com o processo
de investimento". Mas as principais teorias do campo hoje conhecido como
finanças comportamentais foram desenvolvidas por Richard Thaler, professor de
economia e ciências comportamentais da Booth School of Business da Universidade
de Chicago, e Daniel Kahneman, da Universidade Princeton, cujos trabalhos sobre
essas questões, com o falecido Amos Tversky, lhes renderam o Nobel em Ciências
Econômicas em 2002.
Kahneman e
Tversky constataram que as pessoas sofrem mais com a perda de dinheiro do que
sentem prazer ganhando dinheiro. Portanto, elas tendem a se agarrar a ações
perdedoras, ao invés de vendê-las e evitar uma perda maior.
A
irracionalidade também pode assumir a forma de um afeiçoamento emocional a um
determinado ativo. R. J. Weiss, o fundador de 26 anos do blog Gen Y Wealth,
recentemente postou que foi pego em uma armadilha de comportamento. Quando seu
avô faleceu, ele herdou ações que eram negociadas a US$ 25. As ações caíram
para US$ 20, US$ 10 e depois para US$ 5, mas Weiss não conseguiu se desfazer do
presente que recebeu do avô. Finalmente, em abril, ele vendeu as ações por US$
3,04, arcando com uma perda de 90%. "O tempo todo que o mercado caía eu
sabia que manter as ações era a coisa errada a ser feita, mas eu não conseguia
vendê-las", escreveu Weiss.
Dan Ariely, um
economista comportamental do Massachusetts Institute of Technology (MIT), diz
que as pessoas precisam ser cautelosas com essa irracionalidade, e que talvez
seja até mesmo preciso estabelecer mecanismos que impeçam as pessoas de agir de
maneira imprudente. "Sabemos que precisamos criar um mecanismo que impeça
as pessoas de enviar mensagens de texto pelo celular enquanto estão
dirigindo", afirma Ariely. "Mas, no mercado, não estamos levando em
conta o caráter humano, e isso está nos levando para o mau caminho."
Primeiro, porém,
os neuroeconomistas precisam entender o papel da emoção nas tomadas de
decisões. Brian Knutson, um neurocientista da Universidade Stanford, e Camelia
Kuhnen, uma professora de finanças da Kellog School of Management da
Northwestern University, rastreiam os cérebros dos investidores enquanto eles
tomam decisões de compra e venda. Eles constataram que os investidores com o
maior apetite pelo risco aumentam a atividade cerebral em uma área chamada
núcleo acumbente. Esta é a parte que é ativada em um animal quando ele encontra
comida, ou em um predador quando ele parte para uma caçada.
Ao mesmo tempo,
há um aumento da dopamina, responsável pela sensação de bem-estar. Ela inunda
nosso cérebro quando antecipamos algo prazeroso ou excitante como ouvir música,
fazer sexo ou pular de paraquedas. Um aumento da dopamina pode levar os
investidores a adotar comportamentos de risco.
Os investidores
que são mais avessos ao risco - e menos inclinados a comprar uma ação em grande
demanda - mostram um aumento da atividade em uma parte diferente do cérebro, a
ínsula anterior, que tem um papel muito importante em emoções como ansiedade e
dor. Ela é a parte que é ativada quando sentimos o cheiro de um ovo podre ou o
silvo de uma cobra. "Ao desconstruir os motivos que levam os investidores
a ficarem entusiasmados, e por que eles fazem o que fazem, vamos desenvolver
ferramentas que poderão ajudar as pessoas e tomar decisões melhores",
afirma Knutson.
Uma das
ferramentas em que Knutson está trabalhando é uma maneira de ajudar a impedir
os investidores de se tornarem vítimas de fraudes financeiras. Knutson, cujo
trabalho é bancado pela Financial Industry Regulatory Authority (FINRA), está
usando a tecnologia de imagens cerebrais para ver o que acontece quando os
investidores são seduzidos por golpistas. Ele diz que pode parecer que as
vítimas são simplesmente pessoas ignorantes. No entanto, pode ser que as
vítimas sejam pessoas cujos cérebros ficam tão animados com os ganhos em
potencial que não conseguem evitar a tomada de risco. Ou talvez essas vítimas
não sintam medo. Suas constatações poderão levar a uma ferramenta para
salvaguardar os investidores.
Para onde tudo
isso vai? Talvez um dia investidores e operadores tenham um dispositivo
biométrico conectado aos seus computadores. Ele poderá escanear o córtex
pré-frontal do cérebro, determinar os níveis de testosterona e medir a
quantidade de suor nas palmas das mãos em microssegundos, antes de alertar você
para não fazer determinado negócio. Ou as pesquisas atuais poderão resultar em
medicamentos que tornarão as pessoas mais racionais.
"Dentro de
poucas décadas, medicamentos que reforçam o desempenho serão uma parte
integrante de nosso mundo", afirma Hersh Shefren, professor de finanças
comportamentais da Santa Clara University. "No momento isso é ficção
científica, mas a ficção científica sempre acaba virando ciência."
Neuroeconomia + Psicologia Econômica (Vera Rita), conseguem mapear o consumo por investimentos! Muito bom! Profa. Rosana Zenezi Moreira
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