O texto a seguir aborda a atuação do Grupo Latino Americano de Normas de Informação Financeira (GLENIF)
na defesa de uma norma mais adequada que oriente a correção monetária, quando
se verificar perda relevante do poder aquisitivo da moeda. Impossível não
lembrar das aulas de Teorias do Lucro e da Avaliação Patrimonial, com o Prof.
Eliseu Martins. Saudades daquelas manhãs de quinta-feira regadas a chocolate!
Latinos querem
corrigir balanços
Por
Fernando Torres - Valor Econômico - 04/01/2012
Logo na primeira
oportunidade em que os países latino-americanos se organizaram para apresentar
propostas para reformulação do padrão contábil internacional IFRS, apareceu
entre as prioridades um tema que é mais do que conhecido na região: o efeito da inflação nos balanços.
Escolados no
assunto, os países da América Latina consideram inapropriada a regra atual do
IFRS sobre esse assunto.
Representantes
do Grupo Latino Americano de Normas de Informação Financeira (GLENIF)
defenderam mudanças nessa regra há três semanas em Londres, onde fica a sede do
Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB, na sigla em inglês),
órgão que edita as IFRS. Integrantes do GLENIF, Brasil, México e Argentina
também manifestaram de forma independente suas preocupações com o tema.
No Brasil, havia
correção monetária integral dos balanços até 1995, ano seguinte à criação do
Plano Real. A inflação acumulada desde então atinge 172%.
Editada em 1989,
a norma atual do IFRS sobre contabilidade de inflação, chamada de IAS 29,
permite a correção de contas no balanço somente em economias consideradas
hiperinflacionárias. E um dos itens da regra diz que isso seria
caracterizado quando a inflação atinge 100% num período de três anos [Olha a regra!!!! E se for 99,99%????]. Outra característica que evidenciaria a
hiperinflação, segundo esse pronunciamento, é o uso generalizado pela população
de um país de uma moeda estrangeira estável para dar preço a bens e produtos
[Esse ponto já é mais subjetivo, passível de
julgamento].
O Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC), órgão responsável pela edição das normas IFRS
no Brasil, nem chegou a traduzir o IAS 29 para o português, diante das
características previstas no pronunciamento - que não se aplicariam ao Brasil
de hoje -, e por conta do tempo apertado durante o processo de transição do
padrão contábil. [Já
comentei aqui nesse Blog sobre o processo a queima roupa que foi a convergência
no Brasil]
Em documento
enviado ao IASB em resposta a um processo de consulta sobre quais devem ser as
prioridades do órgão global nos próximos anos, o CPC disse, a respeito desse
tema, que "a experiência passada no Brasil revela que uma inflação em
um nível muito menor (por exemplo, de 3% a 5% ao ano) produz impacto
significante no retorno do investimento, na posição financeira e na performance
de uma entidade".
O GLENIF foi na
mesma linha e pediu tanto a retirada dessa referência aos 100% como a
possibilidade de se corrigir os balanços caso os usuários das informações
financeiras "considerem que a perda do poder de compra de uma moeda foi
relevante durante determinado período".
Atualmente,
entre os países da América Latina, apenas a Venezuela se enquadra na característica
prevista no IAS 29.
Sem correção dos
balanços em um país que vive com inflação relativamente alta, o patrimônio
líquido das empresas tende a ficar subavaliado, o que distorce indicadores que
usam essa conta como referência, como as métricas de retorno e de
endividamento. Outra distorção se refere ao imposto sobre o ganho de capital
quando da alienação de um investimento, que usa o patrimônio como base de
cálculo.
A apresentação
do GLENIF em Londres foi feita por Ricardo Lopes Cardoso, professor da FGV e da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), que foi coordenador do primeiro
grupo técnico do GLENIF, que tratou exatamente da apresentação de sugestões
para a agenda futura do IASB.
Como ouvintes
estavam o presidente do IASB, Hans Hoogervorst, além de outros três membros da
diretoria do órgão, formada por 15 pessoas.
"O IASB tem
conhecimento de que diversos países com histórico de inflação relevante não
estão contentes com o pronunciamento atual", afirmou Cardoso.
Ele conta, no
entanto, que notou, na sessão de perguntas e respostas, que o IASB não quer
soluções prontas, que poderia ser o caso apenas se não existisse uma norma em
vigor sobre o tema. "Eles querem que a gente deixe claro quais os
problemas do IAS 29 e quais as alternativas, partindo da regra que já
existe", disse.
A visão do GLENIF,
diz Cardoso, é de que não basta baixar o sarrafo dos 100% de inflação em
três anos. "É preciso também melhorar a metodologia (de correção). Mas
como cada país desenvolveu domesticamente sua solução, talvez cada um queira
crer que sua saída é melhor que a do outro."
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