Há dois dias, durante uma aula inicial da disciplina
Contabilidade Internacional em um curso de pós graduação lato sensu, eu discutia com os alunos o panorama da convergência às
chamadas normas internacionais de contabilidade.
Durante as minhas falas, acabei fazendo um paralelo entre a
atual disponibilidade de informações financeiras em padrões menos díspares e a
redução de barreiras ao acesso a uma série de outras coisas quem permeiam a
nossa vida.
E por que esta associação?
Quando eu era adolescente, lá em Feira de Santana-BA, era
também uma fiel e apaixonada leitora das obras do Machado de Assis.
Certo! Mas o que o Machado de Assis tem a ver com Contabilidade Internacional?
Certo! Mas o que o Machado de Assis tem a ver com Contabilidade Internacional?
Nada!
É que, quando eu lia as obras machadianas pelos idos de 1995-6-7...,
ainda não tínhamos acesso tão fácil e imediato quanto hoje a textos, imagens,
fotografias, informações, comparações... E em um desses livros, o Machado de
Assis, vivendo pelas ruas da então capital federal descrevia as ruas do Rio de
Janeiro: a Rua do Ouvidor, a Rua da Quitanda, o Passeio Público, o Catete... A descrição do Machado me despertou o desejo de conhecer estas ruas.
Naquela época não existia Google Maps, ou Google Earth, nem computadores
portáteis e smartphones que mostrassem imagens em questão de segundos, em que
se pudesse conhecer estes e outros lugares sem ter que estar neles. E eu estava a mais de 1500 km de distância.
Quando eu me mudei para o Rio de Janeiro, pude me
familiarizar com as ruas e lugares cantados em prosa pela experiência do
Machado de Assis, eu precisei visitar os lugares. Atualmente, os recursos
tecnológicos nos permitem conhecer o mundo de dentro de casa, nos permitem
visitar o museu do Louvre em Paris mesmo sem nunca ter cruzado o Atlântico.
Mas voltando às Normas Internacionais de Contabilidade...
Digamos que o objetivo ideal de produzir um conjunto de normas
internacionais de contabilidade é conhecer as empresas de diversos países do
mundo, seu desempenho econômico-financeiro, sua composição patrimonial, sem ter
necessariamente que ir nestes países, sem ter que estudar um emaranhado de
normas e entender peculiaridades da estrutura legal, institucional e tributária
de cada um destes países...
Assim como a Rua do Ouvidor ou o Passeio Público, a
informação está logo ali, em uma linguagem menos distante, não precisa cruzar o
Atlântico.
Mas até que ponto o conjunto de normas IFRS emitidas pelo IASB
podem realmente ser consideradas Normas Internacionais de Contabilidade?
Se me permites uma observação, este "objetivo ideal" é o declarado pelos próprios standard-setters. Qual é o objetivo "real" destas normas é uma questão que merece investigação e discussão mais profundas, a meu ver. Não podemos simplesmente "comprar" o discurso dos standard-setters sem submetê-lo a uma análise crítica.
ResponderExcluirUm primeiro aspecto que não deveria ser negligenciado, a meu ver, são os interesses da própria profissão contábil (ou talvez de alguns segmentos dentro da profissão) em promover normas internacionais. Até que ponto elas também não visam criar oportunidades comerciais para contadores?
ExcluirPaulo, eu falei 'objetivo ideal' exatamente por isso. Estávamos discutindo as reais motivações por trás do processo de convergência e o atores que exercem forte influência sobre este processo. Um dos destaques foram as grandes firmas de auditoria, cujos interesse em normas mais padronizadas é indiscutível.
ExcluirA priori eu acredito que os interesses profissionais da classe contábil possam ter um papel menor no processo de convergência, pela representatividade relativamente baixa no board consultivo do IASB, em detrimento da maior influência de outros atores do mercado.
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