Desafio da sustentabilidade com redução de custos
Texto de Marcelo Leme publicado no Financial Web em 11/06/2010
Em artigo, consultor explica o impacto dessa situação dentro das empresas
A economia em nosso país ora se apresenta de forma estável ora em crise, sejam por fatores externos ou internos que podem desestruturar o consumo interno e o poder de compra, principalmente dos produtos produzidos internamente.
O tema da sustentabilidade se apresenta como uma forma das empresas superarem eventuais crises existentes, como por exemplo, através do resgate e concretização dos princípios éticos e de valores que devem orientar os negócios. Além de ser um instrumento pelo qual atitudes, estratégias e inovações que são implementadas nas empresas, sustentabilidade dá resultados concretos e se traduz em práticas e procedimentos de trabalho. Diminui custos, reduz riscos, principalmente futuros, evita desperdícios, melhora relacionamentos entre as partes interessadas e gera lucros e dividendo aos acionistas.
Estrategicamente, a partir do momento que o Presidente da empresa quer que sua empresa se torne sustentável, todas as práticas que são implementadas passam a se tornar estratégia da empresa em seu core business, e consequentemente seguem o conceito do triple bottom line, direcionando seu crescimento através das ações sociais, ambientais e econômicas em sua essência.
É possível associar sustentabilidade com redução de custos, e algumas empresas já perceberam isso. A título exemplificativo temos o caso da Nike, que em uma linha de produtos utiliza matéria-prima como algodão plantado num raio de até 300 quilômetros da sua unidade industrial. Além de reduzir o custo e as emissões do transporte de longa distância, acaba por fomentar o trabalho local. Outra empresa que aderiu ao greening foi a UNILEVER que inovou em uma de suas linhas de cosméticos criando uma embalagem mais fina, economizando, segundo a empresa o equivalente a 15 milhões de embalagens tradicionais.
A GE é outro exemplo de sucesso, e tornou-se benchmarking de inovação e sustentabilidade. Seu presidente, Jeffrey Immelt, anunciou em 2007 uma nova linha de produtos com o selo Ecomagination. A estratégia da empresa foi incorporar a sustentabilidade ao ciclo tradicional de inovação, em vez de criar novos sistemas de gestão. Resultado, em apenas dois anos a receita dos produtos verdes cresceu três vezes mais que a média de vendas da empresa para os produtos tradicionais. Em 2006, foram US$ 11,5 bilhões. Foi nessa ocasião que Immelt afirmou “green is green” numa clara alusão às notas verdinhas de dólar. Essa expressão ganhou destaque na mídia e percorreu o mundo servindo de inspiração para outras companhias.
Mas então, como podemos medir a verdadeira redução de custos? De fato, inicialmente quando é realizado um mapeamento na empresa nos aspectos sócio-ambientais, em seus três pilares básicos e através das ramificações de outros assuntos a serem analisados, existem indicadores que nos demonstram, em cada uma das matérias, as fases em que a empresa se encontra e para que rumo esta deve seguir a fim de que consiga galgar e trilhar cada vez mais os caminhos existentes da sustentabilidade.
E o que são indicadores? Simplificando o conceito, indicadores são unidades que permitem medir o desempenho de atividades, produtos entre outros interesses.
Assim, o indicador de sustentabilidade é uma unidade de medida, um elemento informativo de natureza física, química, biológica, econômica, social e institucional – representado por um termo ou expressão que possa ser medido, ao longo de determinado tempo, a fim de caracterizar ou expressar os efeitos e tendências e avaliar as inter-relações entre, por exemplo: os recursos naturais, saúde humana, qualidade ambiental (dos ecossistemas), dentre outros aspectos com o afinco de estreitar o alinhamento e harmonizar os entendimentos nos aspectos econômicos, ambientais e sociais.
Existem algumas formas e ações, que reduzem os custos internos, que podem ser utilizadas na prática, após o mapeamento ser realizado na empresa, tais como:Marketing Interno: criar campanhas envolvendo os colaboradores para que estes tragam idéias para o seu negócio, deixando claro que os mesmos serão reconhecidos e premiados por atuações destacadas conforme iniciativas apresentadas.
Aspectos legais: que a empresa tenha conhecimento básico dos direitos e deveres inerentes ao negócio. Por exemplo, na área ambiental responde pelo dano aquele que direta ou indiretamente contribuiu para a degradação, quer seja, a responsabilidade é objetiva, independe de culpa do causador do dano.
Diante de tais conhecimentos, certamente haverá minimamente alguma redução nos eventuais gastos desnecessários.
Outros aspectos importantes que permeiam a redução de custos e aumento do lucro seriam: como obter mais investimentos dos seus investidores? Como conseguir boas taxas de financiamentos e, principalmente, ter sua empresa reconhecida pelos seus clientes como uma empresa verde?
Bancos, como por exemplo, o Banco Nossa Caixa de Desenvolvimento, concedem financiamentos às empresas que apresentam um projeto que a viabilidade econômica seja condizente com a linha de crédito oferecida, e que principalmente tenham por base a sustentabilidade.
Todas as empresas que buscam reduzir seus custos com base nas ações sustentáveis, consequentemente acabam valorizando seus ativos intangíveis, que podem se transformar facilmente em vantagem competitiva ao mercado que estas estão inseridas.
Neste sentido, tudo está perfeitamente de acordo com a lógica do mercado, porque emprestar dinheiro para empresas que têm equipamentos modernos (com menor risco de acidentes e multas), funcionários motivados (com menos processos trabalhistas, menor custo de atração e manutenção de talentos) e programas de redução de consumo de energia e matérias-primas (que reduzem custos operacionais), sai certamente menos oneroso à instituição financiadora.
O autor ex-vice-presidente da IBM canadense e diretor da The Natural Step, Bob Willard, publicou no livro The Sustainability Advantage, em 2002, os benefícios de uma empresa ao adotar os princípios de sustentabilidade socioambiental. Comenta em seu livro, um aumento potencial no lucro de 38% e um benefício na produtividade em 8%.
Ainda assim, este mesmo autor contabilizou algumas reduções de custos conforme sua pesquisa: na produção (como energia, água, matérias-primas);nas despesas na administração (como energia e materiais de consumo);nos riscos ao negócio (onde proporciona menores taxas de financiamento e leasing); nos riscos jurídicos (como multas por infrações ambientais, processos trabalhistas, Termos de Ajuste de Conduta; na valorização do profissional (baseado em menores custos de captação, manutenção e treinamento e em maiores facilidades em atrair talentos); dentre outros.
Se uma empresa, ao adotar valores intangíveis de sustentabilidade socioambiental, tem potencial para aumentar o lucro em até 38%, a produtividade em até 8%, e consequentemente diminuir os custos internos tanto na produção quanto administrativamente, parece claro que a implementação de sustentabilidade gera lucros e ajuda a diminuir os custos.
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