Quem
disse que a informação contábil não tem relevância no mercado de capitais? De
tanto discutir esse tema nas aulas de Teoria Avançada da Contabilidade nesse
semestre, qualquer resquício de uso da informação contábil e seus
desdobramentos no mercado indica que toda a teoria do value relevance não é em vão.
A Olympus e uma das maiores fraudes
contábeis do mundo corporativo
Companhia é acusada de rombo de mais de US$ 1 bi, FBI está
investigando o caso e suas ações correm o risco de serem canceladas na Bolsa de
Tóquio - o que pode ser pior?
Texto de Daniela Barbosa – Exame.com (02.12.2011)
Parecia uma queda comum de CEO, quando, no dia 14 de
outubro, a Olympus comunicou a saída de Michael Woodford da presidência. Na ocasião,
a companhia alegou que o executivo não respeita a cultura organizacional da
empresa, construída em 92 anos de história, e desrespeitava também uma premissa
muito valorizada no Japão: a hierarquia.
Sabe-se que CEOs são demitidos todos os dias de pequenas ou
grandes corporações, o movimento é considerado comum, desde que haja uma
justificativa plausível para o fato.
Um detalhe, entretanto, no caso da Olympus, despertou a
atenção do mercado, pois Woodford estava há apenas duas semanas no cargo, tempo
muito curto para se chegar a uma decisão tão radical – a despedi-lo –, como fez
o conselho de administração da Olympus.
O mercado desconfiou, as ações começaram a despencar e,
para piorar a situação, Woodford foi proibido de falar em nome da companhia e convidado
a deixar o país. Alguma coisa estava errada, o executivo, então, decidiu
esclarecer os fatos e o pesadelo da Olympus começou.
O caso
A verdade é que o executivo havia proposto a abertura de
um inquérito para investigar quatro aquisições feitas pela Olympus durante os
anos de 2006 e 2008, que não faziam muito sentido para os negócios da
companhia, além dos valores exorbitantes pagos por elas. Woodford não pode
contribuir com mais informações, pois foi afastado da empresa antes de
conseguir descobrir outros detalhes.
Analistas e investidores, desconfiados com a história,
começaram a fazer pressão para que a companhia explicasse as aquisições “sem
fundamento”. Neste meio tempo, as ações da Olympus já tinham desvalorizado
quase 50% na bolsa de Tóquio e a companhia acumulado perdas de mais de 1,3
bilhão de dólares.
Investigação
Pressionada, a Olympus confessou que havia pagado a uma
assessoria cerca de 490 milhões de euros para que ela intermediasse as
aquisições que custaram ao cofre da Olympus quase 700 milhões de euros em
meados dos anos 2000. As explicações, no entanto, mais uma vez não
convenceram e a Polícia Federal do Japão e o FBI, dos Estados Unidos, tiveram
que entrar na história.
Com a entrada da polícia no caso, o que não fazia muito
sentido começou a ter mais lógica. A verdade é que as aquisições feitas
durante os anos de 2006 e 2008 foram apenas para disfarçar as fraudes
financeiras que a companhia esteve envolvida na década de 90, segundo apontam
as investigações.
Durante mais de dez anos, a Olympus teria mascarado
resultados financeiros negativos em seus balanços e, segundo estimativas do
mercado, as perdas podem ter chegado a mais de 1 bilhão de dólares.
Pode ser pior
Mas o problema não termina por aí. Há rumores também que
a empresa tenha ligação com o crime organizado japonês e que a cifra de 1
bilhão de dólares, na verdade, pode ser cinco vezes maior. As investigações
são embrionárias e nada de concreto sobre assunto foi provado ainda.
Após o escândalo, a Olympus afastou os executivos envolvidos
na fraude contábil, entre eles, Tsuyoshi Kikukawa, presidente do conselho e
substituto de Woodford no posto de CEO. A companhia também criou dois
comitês de investigação para que outros detalhes do caso sejam revelados.
Como se não bastasse, a companhia corre o risco agora de
ter suas ações deslistadas da Bolsa de Tóquio, caso não divulgue seus
resultados financeiros até o dia 14 de dezembro.
Futuro
Ainda não é possível saber qual o futuro da Olympus. Especialistas
desse mercado, ouvidos pela imprensa internacional, afirmam que a única saída
da Olympus é ser vendida. Mas há quem acredite em outras
possibilidades. Woodford, por exemplo,
lançou uma campanha, nesta semana, para ter seu emprego de volta e de quebra
resgatar a companhia do buraco.
A possibilidade até parece não ser uma má ideia, uma vez
que o executivo é tradicionalmente conhecido por ter construído uma carreira de
30 anos dentro Olympus liderando aquisições e consolidando a companhia por toda
a Europa e Estados Unidos.