O
texto a seguir traz comentário de dois professores com os quais tive o
privilégio de ter aulas no PPGCC FEA/USP em 2011: Eliseu Martins e Alexsandro
Broedel Lopes. Eles emitem uma opinião crítica, expressando que a tão falada
"mudança" em decorrência da adoção das normas IFRS não aconteceu de
maneira plena.
Uma
das discussões que sempre levantamos nas aulas e momentos de estudo é que a
flexibilidade das normas causaria prejuízos á comparabilidade entre as
informações contábeis de diferentes empresas.
Mas na opinião do Prof. Eliseu Martins, a existência no passado de
regras específicas usadas de forma generalizada acabava criando uma
"comparabilidade enganosa" entre os balanços de empresas distintas.
Segue
o texto para leitura!
Balanços (ainda)
pro forma
Texto
de Fernando Torres - Valor Econômico - 05/12/2011
Passado
praticamente um ano da adoção completa do padrão contábil internacional IFRS
pelas companhias abertas do Brasil, prossegue a resistência de se aplicar o
preceito da essência sobre a forma nos balanços. "Ainda se nota a
influência fiscal nas práticas contábeis", diz Alexsandro Broedel, diretor
da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), citando como exemplo o prazo de depreciação de máquinas e
equipamentos das empresas. Mesmo sendo
explícito que a perda de valor desses bens deva ser registrada conforme sua
vida útil econômica, a maior parte das empresas optou por manter as antigas
taxas fornecidas pela Receita Federal. Veículos passam a valer zero no
balanço após cinco anos, máquinas e equipamentos duram de cinco a dez anos e
imóveis são depreciados a uma taxa anual de 4%. Broedel destaca que a prática
foi mantida mesmo com o Fisco tendo deixado claro que as empresas poderiam
seguir usando sua tabela só para fins tributários. Segundo o diretor do órgão
regulador, a autarquia pretende atuar para que a regra do IFRS sobre esse ponto
seja cumprida, o que pode gerar questionamentos às empresas sobre o motivo da
manutenção das taxas. De acordo com o
professor Eliseu Martins, especialista em contabilidade, "o lado bom"
de um padrão contábil baseado em princípios, como o IFRS, é que ele permite que
as empresas "mostrem a sua cara". Assim, diz ele, uma
transportadora que usa os caminhões quase que ininterruptamente e faz pouca
manutenção não precisa depreciar os veículos no mesmo prazo que uma concorrente
que faz um uso mais moderado dos caminhões. Para Martins, a existência no passado de regras específicas usadas de forma
generalizada acabava criando uma "comparabilidade enganosa" entre os
balanços de empresas distintas. Broedel disse que a CVM estará de olho
também na aplicação mais ampla do conceito de que a essência deve prevalecer sobre a forma nos balanços. Nesse
aspecto, um dos pontos de atenção é a classificação de instrumentos financeiros
como dívida ou dentro do patrimônio, que recentemente motivou o pedido de
republicação do balanço da Energisa. "Rato
que nasce no forno não vira bolinho", disse Broedel, durante palestra
em evento organizado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) em São
Paulo, na sede da BM&FBovespa.
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