24 de mai. de 2009

A divulgação dos balanços contábeis e a Bolsa

Balanços acendem a luz amarela do pregão

Por Daniele Camba - 15/05/2009
Com indicadores externos menos negativos, a bolsa brasileira teve forças para interromper a sequência de três pregões consecutivos de queda. O Índice Bovespa caiu durante a manhã, mas reverteu o movimento, fechando em alta de 1,58%, aos 49.446 pontos. Apesar do pregão com final feliz, a safra de balanços do primeiro trimestre acendeu a luz amarela de que a situação não é tão bonita como o rali de alta da bolsa das últimas semanas insistia em mostrar. Os números bastante negativos dos primeiros três meses do ano endossam a tese de que é importante ter cautela com a acentuada valorização recente das ações.
Ontem, o mercado ficou especialmente com o pé atrás com os balanços de siderurgia. O setor não é o único da bolsa, mas um dos mais importantes, com empresas de grande porte cujas ações têm boa participação dentro do Ibovespa. Usiminas e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) divulgaram seus números e a maioria dos analistas não gostou muito do que viu. A CSN teve lucro líquido de R$ 369 milhões, uma queda de 52% ante os R$ 767 milhões no primeiro trimestre do ano passado. Mesmo assim, a companhia conseguiu manter a margem do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (o Lajida) em 28%, o que foi considerado um ponto positivo por alguns analistas. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da CSN caíram ontem 0,65%.
Mas a grande decepção ficou por conta da Usiminas. A companhia registrou prejuízo de R$ 112 milhões ante um lucro de R$ 712 milhões no mesmo período de 2008. Já a margem Lajida despencou de 35% no primeiro trimestre do ano passado para 12% agora. As vendas totais caíram 44% comparadas com o mesmo período de 2008 e 28% ante o trimestre anterior. Em seus relatórios sobre as empresas, a Link Investimentos afirma que os números da CSN vieram muito fracos, mas dentro das expectativas, enquanto que os da Usiminas surpreenderam negativamente, vindo abaixo do esperado.
O resultado foi imediato no pregão. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) série A da Usiminas caíram 3,92%, a maior queda do Ibovespa no dia, e as ordinárias se desvalorizaram 1,93%. "A Usiminas teve uma destruição de margem mais forte do que a CSN; os preços dos produtos da Usiminas caíram mais e ela ainda teve questões operacionais, como aumento das despesas comerciais e com vendas, que não se esperava e que acabaram deteriorando o seu resultado", diz o analista da Link Leonardo Alves.
Ele recomenda que os investidores fiquem fora não só dos papéis da Usiminas, mas de todo o setor de siderurgia, que decepcionou bem neste início de ano. "As ações já subiram bem antecipando a recuperação econômica que deve começar a partir do fim deste ano, e agora devem cair, na esteira desses números tão ruins", diz Alves. No ano, as ON da CSN acumulam alta de 50,25% e as PNA da Usiminas sobem 23,50%. A Fator Corretora recomenda aos investidores apenas manutenção dos papéis da Usiminas e da CSN, com preço-alvo de R$ 32,21 para dezembro deste ano para as ações da Usiminas e de R$ 31,28 para as da CSN. Em relatório, a corretora afirma que a dificuldade na diluição do custo fixo foi determinante para o prejuízo da Usiminas no primeiro trimestre.
Dentro de siderurgia, o destino da Gerdau também preocupa bastante os analistas, principalmente o seu endividamento. Anualizando o Lajida de R$ 600 milhões do primeiro trimestre, a siderúrgica terá R$ 2,4 bilhões de Lajida em 2009 ante uma dívida na casa dos R$ 10 bilhões. "O mercado já trabalha com a ideia de os credores chamarem a companhia para renegociarem os termos dessas dívidas", diz Alves, da Link. A conta não fecha Com os resultados ruins do primeiro trimestre, fica difícil acreditar que os números serão sensivelmente melhores no segundo trimestre. Portanto, vale a pena ter um pouco de cautela com o otimismo acentuado que provocou o recente rali de alta da Bovespa. "Nas teleconferências com os analistas, os próprios executivos das companhias demonstram preocupação com os resultados dos próximos trimestres", diz o diretor de uma gestora independente de recursos. "A euforia da bolsa não casa com a apreensão deles (dos executivos), a conta não fecha", completa ele.

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