4 de mai. de 2009

Juros menores e alta na provisão afetam lucro líquido da Caixa

Por Iolanda Nascimento

São Paulo, 4 de Maio de 2009
A política de praticar juros menores, as despesas extraordinárias e o aumento da provisão contra crédito de liquidação duvidosa foram os principais fatores que derrubaram em 48,22% o lucro líquido da Caixa Econômica Federal (Caixa) no primeiro trimestre de 2009. O banco público registrou no período ganhos de R$ 452 milhões, comparativamente aos R$ 873 milhões apurados entre janeiro e março do ano passado. Bolivár Tarragó Moura Neto, vice-presidente de gestão de ativos da instituição, disse que a decisão do banco de reduzir por quatro vezes a taxa de juros no trimestre, para estimular o crédito nesse cenário de crise e em consequência a atividade econômica, pesou nos números.
Também pesaram no desempenho os R$ 400 milhões com "outras despesas operacionais" (não recorrentes), que incluem, por exemplo, efeitos do Plano de Saúde Caixa que não existiam em igual intervalo do ano passado. O aumento de R$ 360 milhões - passou de R$ 365 milhões no primeiro trimestre de 2008 para R$ 725 milhões este ano - no provisionamento contra crédito de liquidação duvidosa também contribui para a queda.
Entretanto, o executivo
observou que a elevação das provisões decorreu do crescimento do volume de empréstimos e financiamentos e não dos índices de inadimplência que, acima de 90 dias, caíram 0,8 ponto percentual na carteira comercial e 0,25 ponto percentual na carteira habitacional. "Em ambiente de crise e de retração da atividade é de se esperar um aumento da inadimplência, mas na Caixa isso não ocorreu, o que mostra a qualidade da carteira e a política acertada de risco e de expansão na concessão, mas com responsabilidade." Na pessoa jurídica, o índice de inadimplência na Caixa, para dívidas vencidas há mais de 90 dias, ficou em 2,17% do total do saldo; na pessoa física, em 5,77%; e no financiamento habitacional, em 1,88%, disse. Do total, 70,6% dos financiamentos do banco neste início de ano estão classificados nas faixas AA a B (consideradas de risco muito baixo), ante 67,9% verificados no primeiro trimestre de 2008.
O executivo ressaltou que o grande destaque da Caixa no trimestre foi o crescimento da carteira de crédito, com alta de 52,2% em um ano e de 11,4% sobre dezembro - no final de março o saldo das operações atingiu R$ 89,2 bilhões. As contratações e os repasses totalizaram R$ 29,9 bilhões, 60,6% a mais em comparação com o mesmo período do ano passado, sendo que para o crédito comercial (pessoas físicas e pessoas jurídicas) foram liberados R$ 21,2 bilhões; para habitação, R$ 7 bilhões; e para saneamento, R$ 1,7 bilhão. Tarragó Moura Neto disse que a carteira de crédito comercial cresceu 65% em 12 meses, para R$ 33,4 bilhões.
No segmento de pessoas jurídicas, o estoque de crédito da instituição foi a R$ 17,6 bilhões, valor que mais do que dobrou - aumento de 104,5% - em um ano e avançou 16,4% em relação ao último trimestre do ano passado. O saldo de pessoas físicas apresentou uma evolução de 36,2% no comparativo anual e de 15% em relação a dezembro, atingindo R$ 15,8 bilhões em março. "Foi um avanço muito forte, bem acima do crescimento do mercado. Nosso crédito vem crescendo mais do que o esperado."
As novas contratações de crédito imobiliário, afirmou, também mais que dobraram, com alta de 110% sobre igual período do ano passado, para R$ 7 bilhões. O desempenho elevou a carteira de financiamento habitacional para R$ 49,2 bilhões em março, 9,1% superior ante dezembro e 45,2% maior comparativamente ao primeiro trimestre de 2008. Na última quinta-feira, quando apresentou os resultados trimestrais em São Paulo, a Caixa aproveitou a oportunidade para divulgar também um balanço do programa "Minha Casa
, Minha Vida", plano habitacional do governo federal. Segundo o banco, 580 municípios já manifestaram o desejo de participar do programa e 218 já assinaram o termo de adesão. "Somente nos primeiros 18 dias do plano nacional de habitação, 268 projetos de obras foram apresentados ao banco, o que garante a construção de 50.648 moradias, num investimento de cerca de R$ 3,6 bilhões", informou.
As captações da Caixa também subiram no trimestre. Os depósitos foram a R$ 232,9 bilhões, alta de 21,3% em um ano e de 6,7% em relação a dezembro. Os depósitos a prazo somaram R$ 53,3 bilhões e os depósitos à vista, R$ 12,5 bilhões. O saldo da poupança alcançou R$ 95,8 bilhões, com alta de 21,1% ante março de 2008. Os fundos de investimentos administrados pela instituição foram a R$ 87,5 bilhões, com captação líquida de R$ 3,7 bilhões, alta 39,3% em relação ao trimestre de 2008.
Tarragó Moura Neto avalia como excepcional a performance dos fundos da Caixa em um período em que esse mercado se deteriorou com a migração dos recursos para o certificados de depósitos bancários. "A Caixa tem uma gestão muito boa em fundos de renda fixa e é muito forte também no mercado de fundos de varejo." Conforme o executivo, com o desempenho o banco passou de uma fatia de 5,77% para 7,35% do mercado brasileiro de fundos de investimentos.
CaixaPar
O vice-presidente da instituição afirmou que a CaixaPar, braço da Caixa recém-criado para administrar participações de outras empresas adquiridas pelo banco, já está plenamente constituída e tem analisado atentamente algumas oportunidades no mercado. Segundo o executivo, o foco da CaixaPar é o segmento financeiro, principalmente bancos que possam agregar negócios nos quais a instituição não é tão forte e que tenham atividades complementares. "Mas ainda não temos negociação
alguma encaminhada." A Caixa fechou o trimestre com ativos totais de R$ 312,5 bilhões e o patrimônio líquido de R$ 13 bilhões, alta de 22,8% e 15%, respectivamente, em um ano.

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