Prévia de adoção do IFRS sugere aumento do lucro
Entre as cem maiores companhias abertas brasileiras não financeiras, 29 adotaram as novas regras contábeis antecipadamente. Os números são de estudo feito pela Ernst & Young Terco. Na amostra existente até agora, o lucro líquido aumentou em 57% dos casos, enquanto houve estabilidade em 14% e queda em 28%. Quando se olha o patrimônio líquido, o resultado foi mais equilibrado. A nova regra gerou incremento de PL para 46% das empresas e redução em 43%. Entre as empresas que tiveram aumento no lucro, em 44% dos casos a alta foi maior do que 10%. Nos casos de baixa, o impacto foi menor, com 37% dos casos com efeito negativo maior do que 10%.
Questionado sobre o que leva as empresas a se antecipar à exigência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que obriga a publicação do balanço de acordo com as novas normas somente a partir das demonstrações financeiras do exercício fechado de 2010, Sutcliffe diz que elas o fazem porque já estão bem organizadas, com segurança sobre os números e critérios usados, ou ainda, diante da relevância do ajuste, para acabar com as dúvidas do mercado sobre o impacto nos resultados e no patrimônio.
Esse é o exemplo, segundo ele, das empresas de papel e celulose. As três maiores do setor, Fibria, Suzanoe Klabin, já publicaram os números conforme as novas regras. Todas tiveram elevação significativa no patrimônio líquido, que subiu 83%, 79% e 98%, respectivamente. O registro a valor justo das florestas e também do imobilizado explica boa parte da diferença.Já no resultado, o impacto não foi uniforme. Enquanto na Fibria houve uma expressiva melhora, a mudança foi praticamente neutra para a Suzano e reduziu em 24% o lucro da Klabin no período de janeiro a setembro de 2009.
A Fibria teve a maior diferença, com a última linha do balanço do primeiro trimestre de 2009 saindo de um prejuízo de R$ 5,8 milhões para lucro líquido de R$ 1,26 bilhão. O reconhecimento pelo valor justo da participação de 12,5% que a empresa possuía na Aracruz antes da incorporação justifica o ajuste.Na outra ponta da tabela, a empresa com maior impacto negativo em termos de resultado no estudo da Ernst & Young Terco foi a OGX, empresa de petróleo de Eike Batista. O prejuízo dos nove primeiros meses de 2009 subiu de R$ 33 milhões pela regra anterior para uma perda de R$ 119 milhões com o IFRS.
A explicação está no pagamento baseado em ações, que é bastante relevante na empresa - ainda pré-operacional - e passou a ser registrado no resultado.Ao comentar o ritmo de adoção das novas regras, o sócio da EY destaca que, na amostra de cem empresas observadas, cerca de 20 não tinham como se antecipar por conta de discussões que ainda ocorriam entre auditores e empresas sobre a melhor interpretação das normas.
Esse é o caso das incorporadoras imobiliárias e também de empresas que atuam com concessões públicas, como as de energia elétrica e operadoras de rodovias e ferrovias.As discussões terminaram na semana passada, e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) deve publicar, em breve, após aprovação da CVM, duas orientações sobre os temas.
As demais 50 empresas, de acordo com o sócio da EY, poderiam ter usado a nova regra, mas preferiram aguardar. "Não é grande surpresa. Antecipar é um luxo. Todo mundo está correndo, ninguém previu o trabalho que esse projeto ia dar", afirmou Sutcliffe, acrescentando que a maior parte delas já está com quase tudo pronto.
Mas ele diz que existem ainda dois outros grupos de empresas. O primeiro é formado principalmente por empresas de segunda linha, que estão na fase final para terminar o trabalho. O segundo grupo reúne as empresas retardatárias, menores, que ainda nem começaram a avaliação das novas normas contábeis. "O administradora da empresa pensa, 'não tenho ativos biológicos, nem fundo de pensão, não pago opções de ações' e cruza os dedos para não ter problemas", diz ele.Além do efeito no resultado e no patrimônio líquido, Ramon Jubels, sócio de auditoria da KPMG, destaca que o IFRS muda a maneira de a empresa apresentar seus resultados ao investidor. "A exigência de se divulgar os resultados por segmentos, por exemplo, é uma mudança enorme", afirma. Segundo ele, não houve resistência das empresas ao novo padrão contábil, apenas discussões técnicas sobre algumas normas.
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