Essa frase fica por minha conta: Estudo aponta que
muitas empresas apresentam notas explicativas "para inglês ver" em
seus relatórios anuais...
Companhias revelam 23% das informações exigidas
Texto de Fernando Torres, para o Valor Econômico (10 Dez. 2012)
Se existe um
consenso entre as empresas brasileiras sobre o processo de adoção do padrão
internacional de contabilidade ao longo dos últimos anos, esse consenso é que os
balanços ficaram maiores, principalmente por causa das chamadas notas
explicativas, que agora têm muito mais o que explicar.
Mas será que ao
aumentar o texto dos balanços as empresas estão cumprindo as normas? Um estudo inédito apresentado em seminário da Escola de
Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP),
revela que as empresas estão divulgando menos de 25% das informações requeridas
pelo IFRS.
Pesquisadores
de três universidades fizeram uma extensa pesquisa analisando os balanços e as
notas explicativas de 366 empresas (foram excluídas as instituições
financeiras) [Incrível como todo mundo faz isso! Já
virou cultura e todos justificam que todo mundo faz!]. Eles mapearam que, nos 28 pronunciamentos
contábeis (CPCs) que tratam do que deve ser informado pelas empresas aos
acionistas, está prevista a divulgação de 683 itens.
Com base nisso,
calcularam um índice de cumprimento de
divulgação das informações. A primeira conclusão foi de que o índice
médio de cumprimento foi de 16%, com a empresa que mais divulgou informações
atingindo o nível máximo de 36%.
Mas os
pesquisadores consideraram que esse resultado poderia estar mal dimensionado,
já que considerava todos os 28 pronunciamentos, que muitas vezes podem não se
aplicar às empresas. Se uma norma específica não afeta uma companhia, não faria
sentido exigir que ela divulgasse as informações pedidas.
Foi feito então
um segundo cenário, em que foi calculado o índice de cumprimento de informações
apenas em relação aos CPCs que se aplicavam à aquela empresa. Nesse caso, a
média de atendimento subiu a 23%, com o máximo alcançando 45%.
A professora
Edilene Santos, da FGV, uma das coordenadoras da pesquisa, diz que é
compreensível que as empresas estejam numa fase de aprendizado, mas ao mesmo
tempo "não dá para considerar bom" um índice geral abaixo de 25%.
"Se fosse com meus alunos, todos estariam reprovados", compara ela,
que fez o estudo em parceria com a professora Vera Ponte, da Universidade
Federal do Ceará, e da professora Maisa Ribeiro, da USP de Ribeirão Preto, além
de ter contado com a colaboração de alunos do mestrado e da graduação das
universidades envolvidas.
Para ela,
portanto, as empresas tem dois problemas para se resolver. "As notas
explicativas estão grandes demais. Mas não estão informando o que é pedido pela
norma", diz Edilene.
Segundo a
professora, muito do crescimento das notas se deve ao fato de as empresas
copiarem trechos dos CPCs, o que não é necessário. "As empresas tem que
tentar fazer notas menores, mas que realmente informem", diz.
O estudo fez
também compara se o índice de cumprimento das divulgações variava conforme
alguns critérios, como nível de governança, porte, existência de papéis
listados em bolsas no exterior e tamanho do auditor.
Estudo mostra,
no entanto, que se o tema é mais importante para a empresa, o nível de
transparência sobe
De forma geral,
as empresas que integram os níveis diferenciados de governança corporativa
divulgam mais informações que as companhias do segmento "tradicional".
Mas chamou atenção da professora Edilene que o Novo Mercado, tido como o mais
alto em termos de governança e transparência, apresentou um índice de 26%, em
comparação com um indicador de 31% das empresas listadas no Nível 1.
Foi possível
identificar também que as 50 maiores empresas divulgam mais informações que as
demais companhias.
Da mesma forma,
o fato de a empresa ter papéis listados no exterior ou ter os balanços checados
por uma das quatro grandes do setor de auditoria - PwC, Deloitte, Ernst &
Young Terco e KPMG - têm correlação positiva com o nível de transparência (detalhes
no gráfico).
Mas ainda que
existam variações relevantes a depender do grupo de empresas, os índices gerais
médios de cumprimento de divulgação não passam de 31% em nenhum dos cortes.
Diante do baixo
índice, os pesquisadores decidiram levar em conta o parágrafo 31 do CPC 26, que
diz que a "a entidade não precisa fornecer uma divulgação especifica,
requerida por um Pronunciamento Técnico, Interpretação ou Orientação do CPC, se
a informação não for material".
E a conclusão
foi positiva a esse respeito. Se o tema é mais importante, as empresas divulgam
mais informações sobre ele.
Para chegar a
essa conclusão, o estudo avaliou com mais detalhe o nível de cumprimento do CPC
37, que era de divulgação obrigatória para todas as empresas, exatamente por
exigir informações sobre o impacto da adoção inicial do IFRS no lucro e no
patrimônio, entre outros dados.
Entre as 366
analisadas, 67 não divulgaram a reconciliação do lucro, 69 disseram que não
houve impacto, 92 reportaram uma redução e 138, um aumento no lucro reportado.
Segundo o estudo, foi apurado um índice de cumprimento de 45% para as empresas
que não tiveram efeito no lucro e de 71% para as que reportaram um impacto no
lucro, fosse ele positivo ou negativo.
Diminuindo a
amostra para aquelas que tiveram impacto maior de 10% no resultado líquido
(para cima ou baixo), num total de 131 companhias, o índice de cumprimento
ficou parecido, em 72%. Nesse ponto, entretanto, a professora Edilene ressalta
que apenas 11 empresas divulgaram todas as informações exigidas. "O índice
de 72% é boa notícia, mas teoricamente devia ser 100%."
Fui a este seminário ontem, e pela primeira vez vi ser chamada a atenção para uma questão fundamental, e que costuma ser ignorada nas pesquisas sobre disclosure: a relevância.
ResponderExcluirNo debate que se seguiu à apresentação houve um consenso de que estes dados iniciais da pesquisa podem ser "misleading", se não se fizer uma ponderação da materialidade, nas DFs de cada empresa, dos itens de divulgação avaliados.
E o que mais me surpreendeu foi que o principal defensor deste ponto de vista, além do Prof. Eliseu Martins, foi o representante da CVM que estava no encontro.
Legal,Paulo! Gostaria de ter ido. Você sabe se tem relatório disponível com a pesquisa completa?
ResponderExcluirEu acredito que não. Pelo que entendi o evento foi só uma prévia, as autoras ainda irão publicar a pesquisa, só não sei se em periódico ou em algum outro lugar.
ExcluirObrigada!
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