Olá pessoal (leitores, amigos, seguidores...)
Uma das coisas que gosto de fazer aqui é comentar textos que saem na imprensa envolvendo matérias da área de Contabilidade. Um pouco da minha visão e entendimento sobre o que andam publicando.
Mas imagino que tenham notado a frequência mais escassa de posts. Isso tem uma razão, e alguns já sabem: Doutorado! Estou trabalhando muito para a qualificação do meu projeto de tese. E isso consome muito tempo, pois tenho muita, muita leitura para fazer... além das aulas semanais na graduação, pesquisas, orientações e do resto da vida para viver!!!
Quero ir partilhando coisas que for descobrindo durante o processo de elaboração da minha tese. Mas farei isso na medida do possível.
Não comentarei esse texto, mas destaquei os trechos que considerei mais interessantes. Se quiserem comentar, discordar, concordar, acrescentar, estejam à vontade!
Aguardem um post com o balanço do segundo ano de Doutorado! Ufa!!
Investidores terão
que se acostumar com republicações
Fonte: Valor Econômico, por Fernando
Torres (29 Nov. 2012)
A figura
equilibrada do balanço patrimonial, que se manifesta por meio da igualdade
obrigatória entre a soma de ativos de um lado e passivos a patrimônio do outro,
cria a ilusão para muitos de que a contabilidade é uma ciência exata. Mas ela
nunca foi. E está ainda mais longe de vir a ser.
Agora que o Brasil
adotou as normas internacionais de contabilidade, os agentes de mercado que
lidam com demonstrações financeiras terão que se acostumar com o aumento da
frequência de discussões sobre práticas e critérios contábeis - e também com
reapresentações de balanços. "Ninguém mais tem a palavra final",
afirma Sergio Romani, sócio-líder de auditoria da Ernst & Young Terco.
Isso ocorre tanto
porque o arcabouço regulatório é uma novidade para todos, que ainda estão se
adaptando aos conceitos, mas também pelo fato de o IFRS ser baseado em
princípios, e não em regras específicas e detalhadas.
Seja pelo pouco
tempo de prática, ou mesmo por questões culturais, contadores e auditores
brasileiros ainda estão dando os primeiros passos na arte de fazer julgamentos
sobre métodos contábeis.
Essa possibilidade
de interpretações e conclusões diferentes sobre eventos econômicos semelhantes
torna mais difícil a vida de preparadores, auditores, investidores e
reguladores.
Não por acaso,
estão mais comuns os casos de reapresentação de balanços, de ajustes
prospectivos relevantes por mudanças de estimativas e de reclassificação retroativa
de contas, no momento em que a empresa apresenta números de um novo exercício.
A lista de
empresas de capital aberto que tiveram que fazer alterações nos balanços nos
últimos anos é grande. Por erros em estimativas, diversas empresas do setor
imobiliário tiveram que ajustar seus balanços, com destaque para Gafisa, PDG e
Brookfield. Em outros tantos casos, o motivo teve relação com a interpretação e
aplicação dos princípios do IFRS, como ocorreu com BrasilAgro, Energisa,
Inepar, Lojas Americanas, Marfrig, Minerva, Rossi, Sabesp e Telebras, para
citar alguns casos.
As reapresentações
podem ocorrer tanto de forma espontânea como por determinação da Comissão de
Valores Mobiliários (Quadro no final da página).
As estimativas,
imprecisas por natureza, sempre fizeram parte da contabilidade, como na
provisão para perdas com inadimplência ou na constituição de reservas contra
eventuais derrotas em processos judiciais. Segundo o Aulete, uma estimativa é
uma "avaliação prospectiva de algo, que se faz com base nos dados
disponíveis no presente".
Assim, os dados
que as empresas apresentam na demonstração de resultados não podem ser
confundidos com a realidade perfeita e objetiva das coisas. Eles são apenas uma
aproximação. A melhor possível, na visão da companhia.
Nem mesmo o
auditor externo, contratado para dar um parecer sobre o balanço, assegura que
as informações ali divulgadas são 100% reais e verdadeiras. Eles dizem, no
máximo, que a empresa seguiu as regras contábeis e que os dados
"representam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a situação
patrimonial da empresa" naquela data. E sempre confiando na boa fé dos
administradores da empresa, esses sim responsáveis pelas informações
apresentadas.
Investidores podem
se sentir desconfortáveis com essa aparente falta de segurança. Mas é assim que
as coisas funcionam hoje em todos os mercados desenvolvidos.
Numa adaptação do
velho ditado, se não é perfeito com os auditores, seria muito pior sem eles.
Mas se sempre
houve espaço para discussões sobre práticas contábeis, é inegável que as
dúvidas aumentaram desde que o Brasil adotou, em 2010, o padrão contábil IFRS,
usado em mais de cem países pelo mundo, incluindo todos da União Europeia.
Alguns críticos do
IFRS dizem que esse é um dos pontos fracos deste padrão contábil, na medida em
que ele abre espaço para que uma mesma regra seja interpretada de forma
diferente em países distintos ou mesmo entre empresas do mesmo setor, no mesmo
país.
Essa difusão de
práticas constou como um dos alertas no extenso relatório preparado pela
Securities and Exchange Commission (SEC), elaborado dentro do processo de
decisão do órgão regulador americano sobre a adoção ou não do IFRS nos Estados
Unidos, que ainda está pendente de uma definição.
Mesmo para os
defensores do IFRS, essa diversidade na aplicação das regras será resolvida
apenas em parte. Algumas interpretações divergentes devem desaparecer com o
tempo, conforme as empresas se acostumem com as regras e o mercado crie
referências de melhores práticas para seguir.
Outro conjunto de
diferenças seria permanente, e se justificaria exatamente pelas peculiaridades
de uma empresa, ou da visão da administração sobre o modelo de negócios.
No comentário que
fez para o anuário feito pela Fipecafi e pela Ernst & Young sobre o segundo
ano do IFRS no Brasil, o professor de contabilidade Eliseu Martins diz que o
padrão internacional é "mais informativo", por convergir mais com o
resultado econômico das empresas. Como cada companhia funciona de uma forma,
ele diz que "uma das consequências desse tipo de mudança é o surgimento de
diferenças entre métodos de mensuração adotados por parte das empresas".
Com base nos dados
do documento, de 328 páginas analisando a aplicação de cada norma contábil, ele
cita diferenças nos métodos e taxas de depreciação e também no critério para
registro de ganhos e perdas atuariais.
Richard Sexton,
sócio líder global de auditoria da PwC, admite que um dos grandes desafios que
a contabilidade é enfrentar a obsessão do mercado por um único número, que é o
lucro por ação. Para ele,
entretanto, é perfeitamente razoável que contadores cheguem diferentes pontos
dentro de um intervalo aceitável. "O que não significa que um está errado
e outro certo", afirma, destacando, entretanto, que é preciso que haja
transparência sobre o que foi feito.
Até mesmo por
considerar que existe esse intervalo, Sexton fala com cautela em relação às reapresentações
de balanços. "A republicação pode ser positiva para se corrigir um erro.
Mas [em número excessivo] também podem reduzir a confiança do mercado",
afirma.
Ele cita os casos
dos ganhos e perdas atuariais com fundos de pensão, cujos cálculos dependem de
inúmeras premissas assumidas pela administração. Para Sexton, não adianta
querer exagerar na precisão dos cálculos, porque isso não seria útil para
ninguém.
Como já disse uma
vez o professor Martins, o IFRS permite que a empresa mostre sua cara.
Segundo Ana María
Elorrieta, ex-presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil
(Ibracon) e sócia da PwC, isso exigirá também do público leitor. "O
investidor tem que ser mais sofisticado para usar a informação na tomada de
decisão".
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