6 de out. de 2010

Sobre estatísticas, eleições e pesquisas

Umas reflexões no meio da manhã...

O texto a seguir faz uma crítica à divulgação de pesquisas durante as campanhas eleitorais que me mostram equivocadas quando da divulgação do resultado das eleições. Mais gritante do que o resultado do pleito presidencial de 2010 foi o que ocorreu na eleição para governador da Bahia em 2006: Pesquisa Ibope 30/09/2006 1º Turno - Paulo Souto (DEM) - 50% | Jaques Wagner (PT) - 26% | Se pesquisa ganhasse eleição Paulo Souto era o atual governador da Bahia, no entanto Jaques Wagner (PT) ganhou a eleição no 1º turno e nesse pleito do último domingo se reelegeu.

Ainda faço uma extensão ao estágio das pesquisas na área de Ciências Contábeis apresentadas nos mais relevantes congressos da área no país (Congresso USP de Contabilidade, Congresso ANPCONT, Congresso EnANPAD, ...). Temos visto uma “forçação de barra” no que tange a inserir testes estatísticos de qualquer forma nas pesquisas apresentadas e, não raro, em muitos trabalhos nota-se que o pesquisador transfere toda ou grande parte da responsabilidade dos resultados da pesquisa a um número na última linha ou coluna de uma tabela, sem se comprometer em dar uma contribuição ou fazer uma explanação menos “quantitativista” que contribua para o entendimento dos resultados da pesquisa pelos leitores.

Porém no Congresso EnANPAD 2010 que ocorreu de 26 a 29 de outubro, no Hotel Windsor – Barra da Tijuca, em que tive a oportunidade de participar, a Profª. Ilse Maria Beuren (FURB/SC), considerada uma das maiores pesquisadoras em Contabilidade do Brasil, também fez uma crítica a essa tendência/realidade, defendendo a necessidade de uma maior reflexão por parte dos pesquisadores da área de Ciências Contábeis para não utilizar o método pelo método no desenvolvimento de seus trabalhos.

Embora não possa e nem queira subtrair a relevância dos métodos quantitativos para as pesquisas científicas de qualquer área do conhecimento, inclusive em contabilidade, registro desde já minha concordância com o pensamento do Roberto Campos (aqui adaptado por mim) exposto no texto abaixo do Prof. Lino: as estatísticas podem ser como o biquíni: mostrar muito, mas esconder o essencial.

Mas segue o texto do prof. Lino Martins!

Eleições: Como mentir com as estatísticas

Foi pensando no noticiário sobre as pesquisas eleitorais e o grave erro cometido pelos Institutos durante a campanha ou a boca de urna que o titular deste Blog lembrou-se do livro How to envolva with statistics (como mentir com as estatísticas) de Darrel Huff, onde são discutidos diversos casos do mau uso da estatística, com ênfase em gráficos mal intencionados.

Tais erros fazem com que os destinatários da informação tenham a percepção geral de que o conhecimento estatístico é intencionalmente mal usado, encontrando maneiras de interpretar os dados que sejam favoráveis de acordo com os interesses episódicos e, porque não dizer, financeiros.

Um dito famoso, ao que parece de Benjamin Disraeli, é: «Há três tipos de mentiras: mentiras pequenas, mentiras grandes e estatísticas».

Ao escolher (ou recusar ou modificar) uma certa amostra, os resultados podem ser manipulados. Lawrence Lowell (decano da Universidade de Harvard) escreveu em 1909 que as estatísticas são «como alguns pasteis, são boas se se sabe quem as fez e se estamos seguro dos ingredientes utilizados».

Se é verdade que modernamente a informação é uma commodity nada mais justo que nossas autoridades, sempre tão ciosas dos direitos difusos, determinem auditorias especiais com o objetivo de aprofundar estudos sobre o assunto para averiguar de que modo a realidade pode ser distorcida por intermédio da alteração das escalas de uma tabela ou por intermédio da comparação de números de bases diferentes e outras formas de enganar pessoas menos atentas. E para dar um exemplo hipotético relacionado com o processo eleitoral: – fazendo pesquisa em locais que, por coincidência, estão relacionados com as agendas dos candidatos ou partidos contratantes.

Finalmente, uma frase atribuída a Roberto Campos: “as estatísticas são como o biquíni: mostram muito, mas escondem o essencial”.

Texto do Prof. Lino Martins da Silva, que tive a honra de ter como meu co-orientador na dissertação de Mestrado publicado em seu Blog.

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