4 de fev. de 2009

O que esperar das ações de bancos em 2009

Valorização dos papéis depende da solução dos problemas do sistema bancário dos EUA e da continuidade da expansão do crédito no Brasil
Por João Sandrini (02.02.2009)

As ações dos grande bancos brasileiros foram castigadas pela crise do subprime no ano passado. Apesar de não haver nada semelhante às hipotecas de segunda linha no mercado de crédito brasileiro, a derrocada de gigantes financeiros globais como o Citigroup, o Bank of America e Royal Bank of Scotland incentivou investidores estrangeiros a vender ações de bancos em todo o planeta, incluindo os do Brasil. Os papéis despencaram até 51% (no caso do Banco do Brasil) nos últimos 12 meses mesmo em um momento de efervescência do mercado de crédito brasileiro, que teve em 2008 seu maior crescimento em mais de uma década (impressionantes 31,2%).
Ninguém espera que a volatilidade do preço das ações dos bancos no exterior deixe de influenciar as cotações das instituições brasileiras ao menos enquanto o presidente americano, Barack Obama, não encontrar uma solução para sanear o setor financeiro. Muitos analistas acreditam que o setor bancário está insolvente e precisaria de uma ajuda do governo de 1 trilhão a 1,5 trilhão de dólares. Montante que deverá ser acrescido a a cada dia que passa, já que a qualidade das carteiras de crédito dos bancos americanos só vai parar de se deteriorar quando o preço dos imóveis começar a reagir e o desemprego estancar.
Analistas, no entanto, esperam que as ações dos bancos brasileiros passem a refletir neste ano também o cenário econômico interno. O problema é justamente que a pujança observada no mercado de crédito no ano passado não se repetirá em 2009, com o desaquecimento da economia, o aumento do desemprego e o crescimento da inadimplência. Esse novo cenário já começou a ser vislumbrado nos dados mais recentes de crédito divulgados pelo Banco Central. Em dezembro, o crédito cresceu mais lentamente e a inadimplência avançou. A corretora do Itaú - que trabalha de forma independente ao banco Itaú - diz ter uma "visão negativa" dos resultados dos bancos no quarto trimestre e também no início deste ano. O Bradesco é o único grande banco a já ter apresentado seu balanço anual ao mercado. O lucro do quarto trimestre teve uma queda de 27%, para 1,6 bilhão de reais. A corretora Ativa afirmou que o resultado é negativo por já mostrar os efeitos do aumento da inadimplência sobre os ganhos.
2009
Em relatório, os analistas Boris Molina e Henrique Navarro, da corretora do Santander, estimaram um crescimento do volume de crédito de 15% neste ano - ou menos da metade dos 31,2% de 2008. O resultado será puxado pelo crédito a empresas, já que, com a crise, os bancos internacionais continuarão a restringir empréstimos para companhias de países emergentes como o Brasil. Já o crédito a pessoas físicas - que rende ganhos maiores para os bancos deve ser afetado pelo crescimento do desemprego e pela queda da confiança do consumidor. O Santander prevê que a taxa média de desemprego suba de 7,9% em 2008 para 9,2% em 2009, o que tende a reduzir as compras a prazo.
Inicialmente a redução dos juros básicos da economia brasileira pelo Banco Central não deve ser suficiente para reanimar o consumidor. O BC derrubou a Selic em 1 ponto percentual no mês passado e a expectativa da maior parte dos analistas é de que os juros se situem entre 10% e 11% ao ano ao final deste semestre. Enquanto os financiamentos habitacionais poderão avançar com a queda da Selic, a expectativa do Santander é de que haja um crescimento mais tímido do crédito para a compra de automóveis e empréstimos consignados. A explicação é que, com a alta da inadimplência, os bancos devem reduzir o prazo de empréstimos, o que terá impacto direto na venda de veículos. Já os financiamentos habitacionais são subsidiados por regras que incentivam a utilização dos recursos da caderneta de poupança e não devem enfrentar maiores restrições dos bancos.
Para o Santander, o governo já começou a reagir, encorajando os bancos estatais (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil) a colocar mais crédito à disposição dos clientes e a reduzir juros. No quarto trimestre, por exemplo, os bancos públicos aumentaram suas carteiras de crédito em 12,9% enquanto que, nos privados, a alta foi de apenas 2,5%. A corretora diz que, apesar dos esforços do governo, o spread bancário (ganho com operações de crédito) tende a continuar alto pelo menos enquanto as taxas de inadimplência continuarem a subir. O Santander prevê que a taxa média de inadimplência nos empréstimos cresça de 4,5% no ano passado para 5,6% em 2009. Esse crescimento não é considerado "alarmante" pela corretora porque o spread bancário cresceu em 2008 - o que garante uma boa margem de lucro aos bancos. Além disso, a queda da Selic pode permitir que as instituições mantenham seus spreads mesmo reduzindo os juros bancários. Mas as marcas da crise serão sentidas. "Acreditamos que 2009 será um ano mais desafiador, com menor expansão dos empréstimos e crescimento da inadimplência", diz o Santander.

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