30 de abr. de 2009

Será que ainda vai dar para comemorar o Dia do trabalho?

Por Gilberto Guimarães
Crise. O momento é de grandes e rápidas mudanças. O que dava certo antes já não funciona mais. O mercado já não cresce com a velocidade e na forma como crescia antes. As organizações estão obrigadas a mudar. Recessão, fusões, modernizações tecnológicas, integração, necessidade de inovar em produtos e serviços, pressão, etc... Estes processos acabam gerando novas formas de trabalho, novos sistemas, novas formas de fazer negócios, novas competências e, uma nova organização das pessoas, mas infelizmente, parece que muitas delas não se adaptam ou passam a não ter mais lugar na nova estrutura.
Em resumo, desemprego.
Um grande número de pessoas tenta separar suas vidas em duas partes distintas: A Vida Pessoal e a Vida Profissional. Esta separação em dois mundos parece significar que o ser humano aplica regras e procedimentos diferentes de acordo com a parte da vida na qual ele se encontra e que não vive sentimentos ou emoções de mesma natureza.
Parece que esta imagem encontra suas origens no início de nossa era. A palavra trabalho corresponde em latim a “trepalium”: instrumento de tortura. A palavra “trepalium” tornou-se também o lugar de tortura e de sofrimento e, com a adoção da religião cristã, o local de reparação de faltas pelo sofrimento. "Ganharás a vida com o suor do teu rosto" e Deus nos expulsou do Paraíso. O trabalho torna-se, então, meio de reparação frente à culpa.

As pessoas declaram trabalhar para ganhar sua vida, ganhar dinheiro. O trabalho traz renda e meios de consumo. O trabalho se inscreve numa troca econômica ligada à contribuição dada.
O trabalho garante uma estruturação do tempo, e dos tempos de vida cotidiana, fornecendo especialmente pontos de referência e uma organização do pensamento.
O trabalho permite atividades regulares, ou seja, habituais e repetitivas, que se sabe executar. Isto desenvolve e garante a auto-estima
O trabalho permite oportunidades de interações sociais, e oferece possibilidades de ampliação do campo de experiências relacionais. O trabalho está intimamente associado a Vida Social e Pessoal.
O trabalho implica em ações coletivas e permite uma contribuição individual dando o sentimento de ser útil à sociedade, transcendendo as preocupações pessoais.
O trabalho é a oportunidade de manifestar e desenvolver as capacidades, habilidades e competências, a criatividade e as qualificações. Oferecendo a possibilidade de uma atualização do conhecimento.
O trabalho alimenta o sentido de sua identidade, da imagem e da auto-estima. O trabalho é, portanto, fonte de identidade pessoal.
A situação de desemprego, de não trabalho, é sempre vivida como frustrante, mesmo quando existe uma renda, uma indenização.
Concluindo, o ato de trabalhar é muito mais que uma simples relação econômica. O trabalho é o meio de se encontrar e manter a saúde e o equilíbrio, físico e mental. Cada um trabalha com a intenção de obter renda, de contribuir para as trocas econômicas e culturais. Os hábitos asseguram que as pressões e obrigações evoluam a ponto de transcender as preocupações pessoais e participem do desenvolvimento do indivíduo, reforçando a construção do seu EU. O trabalho fornece referências de tempo, distância e do pensamento. O trabalho traz, finalmente, a cada um, a possibilidade de administrar suas angústias de vida e de morte, ajudando a construir sua saúde mental e equilíbrio. Quanto mais forte for sua saúde mental, mais o indivíduo terá a possibilidade de funcionar de maneira harmoniosa, agradável, eficaz, e encarar com tranqüilidade situações difíceis e se restabelecer após o acontecido, estabelecendo um equilíbrio leve e adaptável que absorverá uma parte as agressões.
O trabalho é fundamental. Em conseqüência, a perda do trabalho é seguramente uma das maiores sensações de perda e desamparo vividas pelo ser humano. Esta perda pode causar um profundo desequilíbrio pessoal, social e familiar. Castigo, tortura é, na verdade, não ter trabalho, é não ter emprego.

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“... nunca [...] plenamente maduro, nem nas idéias nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.” (Gilberto Freire)