9 de jan. de 2009

Auditoria das "big four" movimenta mercado

São Paulo, 9 de Janeiro de 2009 -
As quatro principais empresas de auditoria e contabilidade com atuação no Brasil terão muito trabalho pela frente no ano que começa. Além de auxiliarem o processo de convergência contábil das companhias locais, Ernst &Young, PricewaterhouseCoopers, Deloitte e KPMG também terão de adequar-se à lei 11.638. Como são consideradas pela nova legislação como empresas de grande porte - aquelas cuja receita bruta anual supera R$ 300 milhões -, terão de passar a ter seus balanços auditados por uma empresa independente. A obrigatoriedade deve movimentar o mercado de auditorias do País. Empresas médias deverão disputar a prestação de serviço para as concorrentes "gigantes". Afinal, o grupo das quatro maiores não deve contratar uma semelhante para fazer o trabalho. Nenhuma delas quer revelar à rival suas estratégias de negócio.
Uma das que mais pode se beneficiar da nova necessidade das gigantes é a BDO Trevisan. "Estamos no jogo. Temos estrutura e capacidade técnica para dar conta do trabalho. Temos tratado informalmente com essas empresas para deixar claro que queremos e temos o interesse em participar do processo", confirma o presidente da BDO, Eduardo Pocetti.
A empresa é uma das que mais tem crescido no mercado local. Faturou R$ 97 milhões em 2008, resultado 32% superior ao ano anterior. "Meu desejo é crescer em dois anos o suficiente para ser qualificado pela lei como empresas de grande porte. Quando isso acontecer, terei prazer em precisar ser auditado", brinca Pocetti.
Outra firma que acredita ter condições técnicas de disputar a concorrência para auditar uma das "big four" é a Directa, empresa-membro da Directa Alliance. Tendo como clientes empresas como Itaú e Petrobras, considera-se à vontade para apresentar uma proposta para executar o serviço. "Trabalhamos em parceria com algumas das maiores em diversas ocasiões", lembra o presidente da Directa, Ernesto Gelbcke.
A Gazeta Mercantil procurou outras importantes empresas do ramo de auditoria no País - casos de Terco Grant Thornton e Boucinhas & Campos - para saber qual o interesse em participar do processo para auditar as "big four". De acordo com a Terco, na essência, toda empresa que atingir mais de R$ 300 milhões em faturamento deverá ser auditada. No entanto, em sua avaliação, ainda não existe uma definição clara sobre como ficará o conceito "conjunto de sociedades", no qual as auditorias estão enquadradas legalmente.
Já a Boucinhas & Campos não atendeu à solicitação da reportagem. O porta-voz da companhia está em período de férias.
No entanto, empresas bem menores e com menos tempo no mercado crêem poder reinvindicar espaço para atuar como auditores das gigantes. "O fato de ter clientes de outro perfil e não ser concorrentes diretos delas nos dá um grau de independência maior", afirma Marco Antonio Papini, diretor da Map Auditores, cuja receita no ano passado alcançou R$ 2 milhões. A empresa é associada à norte-americana CPA Associates International, uma das 20 maiores do mundo.
Em busca do ideal
De qualquer forma, é consenso no setor que para as empresas menores tirarem do páreo suas principais concorrentes, o desafio será grande para mesclar a escolha à qualidade do trabalho. "Somos especialistas em pareceres de auditoria e sabemos as dificuldades que vamos encontrar", reconhece o presidente da Deloitte, Juarez Lopes de Araújo. A empresa já está em pleno processo de busca pelo serviço. A análise de empresas será feita pelo seu Conselho de Administração. E deve evoluir nos próximos meses.
Goelbcke, da Directa, afirma que, embora possa parecer estranha em um primeiro momento, a auditoria das auditorias é positiva. "É comum que, fora do Brasil, muitos bancos ou agências de financiamento exijam que uma firma de auditoria seja auditada para se habilitar e participar de processos e concorrências", diz.
Papini, da Map, vai além: "Tanto se fala de transparência e, em um momento como esse, não é adequado que as empresas de auditoria queiram ficar fora. Talvez, algumas estejam mais preocupadas por terem de gastar dinheiro com o processo", critica.
A transparência está no espírito da lei 11.638, que obriga as empresas de grande porte e as listadas em bolsas de valores a obterem um parecer independente de auditoria. Entretanto, alguns altos executivos do mercado consideram que sua obrigatoriedade trará problemas práticos e algum mal-estar no setor. "Não há dúvidas de que a lei irá melhorar o nível de divulgação de dados financeiros das empresas no Brasil. De qualquer maneira, são muito difíceis de evitar algumas espécies de conflito de interesses e de uma empresas ficar conhecendo detalhes sigilosos e estratégicos da companhia que irá auditar", queixa-se uma fonte que falou na condição de anonimato.
Questão de mercado
Mesmo despertando alguma polêmica, o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) não projeta que a questão impeça as "big four" de encontrar boas opções para realizar um processo de auditoria de seus demonstrativos contábeis. "Temos certeza, inclusive, de que a questão não é de competência do Ibracon. Cabe às firmas decidirem esse processo internamente. Cada uma à sua maneira e de acordo com o que considerar mais adequado", afirma Francisco Papellás, que presidiu a entidade até o final do ano passado.
Em sua avaliação, as empresas de auditoria com necessidade de buscar os serviços de um auditor independente terão várias opções para fazê-lo. "O mercado tem a capacidade de absorver tranquilamente essa demanda. Há muitas boas empresas", pondera.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)
(Luciano Feltrin)

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