9 de fev. de 2011

A insanidade tributária

Não é ao projeto do advogado mineiro Vinícios Leôncio, de reunir num único livro toda a legislação tributária em vigor no País, que se aplica a qualificação de "verdadeira insanidade" dada pelos amigos a sua empreitada. Ela se aplica, de fato, e com precisão, ao conteúdo da obra. Monstruosamente extensa, detalhista demais, exigente em excesso e em constante modificação e ampliação, a legislação tributária brasileira - formada por um cipoal que começa nas normas constitucionais e se estende por leis, decretos, portarias e instruções normativas, editados continuamente nos três níveis de governo - exaure o contribuinte, confunde-o, exigindo dele um ingente trabalho para entender e cumprir todas as regras e, mesmo assim, o deixa vulnerável à ação implacável dos fiscais dos órgãos arrecadadores. É uma verdadeira insanidade.

É assustador o resultado do material do trabalho de quase duas décadas do advogado mineiro, mostrado na reportagem de Eduardo Kattah publicada domingo pelo Estado. Sua intenção era apresentar, de maneira explícita, o tamanho e a complexidade da legislação tributária, com todas as normas federais, dos 26 Estados, do Distrito Federal e dos mais de 5 mil municípios. Quando pronto, o livro terá 43,2 mil páginas, cada uma com 2,2 m de largura e 1,4 m de altura, e pesará 6,2 toneladas - com registro assegurado no livro Guinness de recordes.

Todo mundo sabe que a legislação brasileira é muito extensa, mas ela nunca teve visibilidade concreta, justificou o advogado. E sua ideia foi "mostrar para a sociedade o tamanho da legislação de um país que edita (em média) 35 normas tributárias por dia útil".

Outros tributaristas vêm, há tempos, mostrando o caráter caótico das regras tributárias brasileiras, formadas por mais de 3 mil normas federais, além de milhares de normas estaduais e municipais.

A extrema complexidade do sistema tributário impõe aos contribuintes um enorme trabalho para cumprir integralmente as normas. O aumento da eficácia e da amplitude do trabalho dos agentes fiscais dos três níveis de governo, por sua vez, resulta em mais pressão sobre as empresas para o cumprimento estrito de todas as regras e das obrigações acessórias.

O resultado prático mais danoso dessas pressões e desse sistema caótico já é conhecido internacionalmente - o alto custo da burocracia tributária. Na mais recente pesquisa anual realizada pelo Banco Mundial sobre a facilidade de realização de negócios, a Doing Business, o Brasil ocupa a 129.ª posição entre 183 países. Na América Latina, está à frente apenas de Equador, Bolívia, Venezuela, Haiti, Suriname e Honduras.

O pior resultado do País está no item "procedimentos para o pagamento de impostos", em que ocupa a 150.ª posição. Segundo a pesquisa, os empresários brasileiros arcam com o custo de 2.600 horas anuais para cumprir as obrigações tributárias. Na América Latina e no Caribe, o gasto médio é de 385,2 horas por ano; nos países de renda alta que integram a OCDE, a média é de 194,1 horas anuais.

Em recente trabalho sobre os custos do sistema tributário, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) observou que, com a edição constante de novas normas, o governo se vê obrigado a abrir concursos para mais e mais fiscais e funcionários da Receita e as empresas, a inchar mais e mais seus departamentos contábeis e jurídicos.

O aumento dos custos, para atender a um número cada vez maior de exigências tributárias, acaba sendo transferido para os clientes, o que resulta em pressão sobre os preços. Nem assim os contribuintes se sentem seguros, pois, com as mudanças frequentes das normas e com o aumento do rigor do Fisco na interpretação delas, nunca se tem certeza de que todas as obrigações estão sendo cumpridas.

Além disso, o prazo para o recolhimento de tributos é, muitas vezes, menor do que o concedido pelas empresas para o pagamento do bem ou serviço vendido, o que as força a obter financiamento para pagar impostos.

E tudo isso sem falar no aumento ininterrupto da carga tributária nos últimos anos, que torna cada vez mais difícil a atividade econômica no País.

Fonte: O Estado de S. Paulo (08/02/2011)

Um comentário:

  1. Olá Boa tarde.

    Meu nome é Gilcelina Mendes, sou estudante de Adm.
    No momento estou estagiando em uma pequena empresa prestadora de serviços,onde eu faço algumas distinções entre despesas, custos e receitas de um modo bem simples.
    Porém preciso encontrar uma maneira de analisá-los para assim poder identificar se a empresa está apresentando lucro ou prejuizo, de uma maneira mas ampla do que simplesmente apurar receita menos despesas,em busca de um conhecimento maior encontrei o seu blog, e gostaria muito de lhe fazer algumas perguntas.

    -Foi me orientado a apurar as despesas e custos mensais e mesmo que faturado um valor maior apenas adicionar a planilha de despesa o que realmente entrou em caixa ex: faturou-se R$ 100.000,00 porém os clientes pagaram apenas R$ 60.000,00 (Regime caixa)

    - E em uma segunda planilha apurar também as despesas e custos mensais e adicionar o que foi faturado no mês posterior, mesmo se não recebido ex: operei com um total de despesa para efetuar tais trabalhos no mês de março R$ 150.000,00 de despesas porém as notas serão emitidas no mês seguinte R$ 200.000,00 faturado. Ou seja eu tive que banca as despesas nos mês de março (salario,transporte, alimentação) para só reculperar esse dinheiro com os lucros no mês seguinte. (Regime Competência)

    QUAL SERIA A MELHOR FORMA DE ANALISAR A RENTABILIDADE, A LUCRATIVIDADE E SOLVÊNCIA DESSA EMPRESA, NESSES 2 CASOS.
    QUAL SERIA O LUCRO REAL E A SITUAÇÃO REAL DESSA EMPRESA?

    Aguardo resposta na esperança de alguma orientação da senhora.

    grata pela atenção
    Gilcelina

    ResponderExcluir

Sua participação é muito importante para as discussões de ideias contábeis e outras mais. Obrigada!

“... nunca [...] plenamente maduro, nem nas idéias nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.” (Gilberto Freire)