Valor Online (02/09/2009)
Por Danilo Fariello
O efeito positivo do aumento de capital que a União deverá fazer na Petrobras pode ter efeito limitado na meta de elevar a capacidade financeira da empresa. Para o diretor da agência de classificação de risco de crédito Fitch Ratings, Jose Luis Villanueva, a cessão de direitos será considerada bem intangível no balanço da companhia e, portanto, não aumentará a sua capacidade de alavancagem.
O executivo mexicano, que fica em Nova York, não considera necessário que a capitalização da Petrobras no curto prazo, ao menos que se alterasse o plano de investimentos de US$ 174 bilhões até 2013. Mas, para ele, com a perspectiva de capitalização, surgiram mais pressões negativas do que positivas para a análise de crédito da empresa, hoje em BBB. "A contribuição do governo à Petrobras é certamente um ativo para o balanço, mas é de muito difícil avaliação financeira", comenta. Para ele, portanto, no modelo proposto ao Congresso, esses ativos não entrarão na conta de capacidade de endividamento da empresa.
O governo deverá injetar na companhia títulos da dívida pública federal a valor de mercado. No entanto, o complexo plano prevê que, concomitantemente a esse depósito, a Petrobras use esses ativos para adquirir direitos sobre a exploração de reservas no pré-sal. Do ponto de vista do governo, essa operação casada seria neutra para a dívida pública, porque ao mesmo tempo que emitisse títulos para injetar na companhia, receberia os mesmos recursos pela cessão de direitos de exploração. Mas, para acionistas minoritários, que terão de investir dinheiro próprio para manter sua parte na capitalização, e empresas concorrentes na exploração do pré-sal, o preço a que essas reservas deverão ser cedidas da União à estatal ainda deverá ser alvo de muita discussão.
A precificação dos recursos potenciais na reserva do pré-sal será dada por certificadoras reconhecidas pelo mercado. Tanto a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), como a própria Petrobras deverão contratar empresas para fazer a avaliação. Também acionistas minoritários poderão fazê-lo, para se certificar ou discordar do acordo entre União e empresa. No entanto, como a capitalização deverá ocorrer em até um ano após a aprovação do projeto de lei, haveria ainda muito tempo e muita incerteza para a precificação. A perspectiva de revisão desses preços em 24 meses, com acerto da diferença entre União e Petrobras - com qualquer uma das partes pagando à contraparte sobre aumento ou queda dos preços - pode trazer uma variação ainda maior ao balanço da companhia.
Segundo um gestor de fundo de pensão, essa variação poderá trazer impacto contábil de mesma monta da variação cambial em empresas com alto endividamento. Por exemplo, podendo criar um lucro ou prejuízo contábil à empresa conforme elas for atualizada. Como demora tempos para empresa e órgãos reguladores se certificarem do verdadeiro potencial das reservas, quanto mais cedo a capitalização for proposta nesses meios, menor tenderá a ser o aumento de capital. Para tanto, comenta um analista, basta ver que em quase dois anos após a descoberta do primeiro campo na nova camada, em Tupi, informações específicas sobre seu potencial ainda são escassas.
Segundo apresentação do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, na precificação das reservas serão considerados: as estimativas do volume de óleo nos campos, a curva de produção, os investimentos necessários, os custos, a taxa de desconto pelo risco, o ambiente fiscal (o que inclui alteração nas participações governamentais, o grau de conhecimento ou desenvolvimento das reservas e o cenário para o preço futuro do petróleo). Auro Rozembaum, analista que acompanha a Petrobras na Bradesco Corretora, tem insegurança com relação à eficiência do modelo. "O prazo de 24 meses para reavaliação também é um horizonte muito curto para qualquer tipo de reavaliação, porque a comercialização do petróleo do pré-sal não deve decolar antes de 2015." Além disso, trata-se de volume muito grande de reservas a precificar. Para termos de comparação, 5 bilhões de barris corresponde a 6,7 anos da produção prevista para a empresa em 2009.
Teme-se que, quanto mais cedo ocorrer a capitalização e, por consequência, maiores forem as incertezas, menor seria o preço atribuído aos recursos potenciais do pré-sal. Negociações envolvendo direitos de exploração de reservas são comuns em empresas internacionais, segundo a Petrobras, e oscilaram entre US$ 1,83 e US$ 15,95 por barril estimado no ano passado. Se a capitalização por parte do governo equivaler a 5 bilhões de barris - limite máximo - a preço de US$ 10, isso significará mais de US$ 50 bilhões no balanço.
A despeito da precificação das reservas, o impacto positivo do modelo de capitalização, para Villanueva, da Fitch, seria se investidores minoritários participassem do aumento de capital com dinheiro. Se o governo colocar US$ 50 bilhões em títulos e todos os minoritários acompanharem a União, isso poderia significar algo próximo de US$ 100 bilhões a mais no caixa da Petrobras, já que a União possui 32,2% do capital social da empresa. Esse dinheiro poderia beneficiar a situação financeira de forma objetiva e imediata. "Melhoraria o nível de caixa da empresa para fazer frente ao seu plano de investimentos e reduziria a necessidade de endividamento."
Por Danilo Fariello
O efeito positivo do aumento de capital que a União deverá fazer na Petrobras pode ter efeito limitado na meta de elevar a capacidade financeira da empresa. Para o diretor da agência de classificação de risco de crédito Fitch Ratings, Jose Luis Villanueva, a cessão de direitos será considerada bem intangível no balanço da companhia e, portanto, não aumentará a sua capacidade de alavancagem.
O executivo mexicano, que fica em Nova York, não considera necessário que a capitalização da Petrobras no curto prazo, ao menos que se alterasse o plano de investimentos de US$ 174 bilhões até 2013. Mas, para ele, com a perspectiva de capitalização, surgiram mais pressões negativas do que positivas para a análise de crédito da empresa, hoje em BBB. "A contribuição do governo à Petrobras é certamente um ativo para o balanço, mas é de muito difícil avaliação financeira", comenta. Para ele, portanto, no modelo proposto ao Congresso, esses ativos não entrarão na conta de capacidade de endividamento da empresa.
O governo deverá injetar na companhia títulos da dívida pública federal a valor de mercado. No entanto, o complexo plano prevê que, concomitantemente a esse depósito, a Petrobras use esses ativos para adquirir direitos sobre a exploração de reservas no pré-sal. Do ponto de vista do governo, essa operação casada seria neutra para a dívida pública, porque ao mesmo tempo que emitisse títulos para injetar na companhia, receberia os mesmos recursos pela cessão de direitos de exploração. Mas, para acionistas minoritários, que terão de investir dinheiro próprio para manter sua parte na capitalização, e empresas concorrentes na exploração do pré-sal, o preço a que essas reservas deverão ser cedidas da União à estatal ainda deverá ser alvo de muita discussão.
A precificação dos recursos potenciais na reserva do pré-sal será dada por certificadoras reconhecidas pelo mercado. Tanto a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), como a própria Petrobras deverão contratar empresas para fazer a avaliação. Também acionistas minoritários poderão fazê-lo, para se certificar ou discordar do acordo entre União e empresa. No entanto, como a capitalização deverá ocorrer em até um ano após a aprovação do projeto de lei, haveria ainda muito tempo e muita incerteza para a precificação. A perspectiva de revisão desses preços em 24 meses, com acerto da diferença entre União e Petrobras - com qualquer uma das partes pagando à contraparte sobre aumento ou queda dos preços - pode trazer uma variação ainda maior ao balanço da companhia.
Segundo um gestor de fundo de pensão, essa variação poderá trazer impacto contábil de mesma monta da variação cambial em empresas com alto endividamento. Por exemplo, podendo criar um lucro ou prejuízo contábil à empresa conforme elas for atualizada. Como demora tempos para empresa e órgãos reguladores se certificarem do verdadeiro potencial das reservas, quanto mais cedo a capitalização for proposta nesses meios, menor tenderá a ser o aumento de capital. Para tanto, comenta um analista, basta ver que em quase dois anos após a descoberta do primeiro campo na nova camada, em Tupi, informações específicas sobre seu potencial ainda são escassas.
Segundo apresentação do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, na precificação das reservas serão considerados: as estimativas do volume de óleo nos campos, a curva de produção, os investimentos necessários, os custos, a taxa de desconto pelo risco, o ambiente fiscal (o que inclui alteração nas participações governamentais, o grau de conhecimento ou desenvolvimento das reservas e o cenário para o preço futuro do petróleo). Auro Rozembaum, analista que acompanha a Petrobras na Bradesco Corretora, tem insegurança com relação à eficiência do modelo. "O prazo de 24 meses para reavaliação também é um horizonte muito curto para qualquer tipo de reavaliação, porque a comercialização do petróleo do pré-sal não deve decolar antes de 2015." Além disso, trata-se de volume muito grande de reservas a precificar. Para termos de comparação, 5 bilhões de barris corresponde a 6,7 anos da produção prevista para a empresa em 2009.
Teme-se que, quanto mais cedo ocorrer a capitalização e, por consequência, maiores forem as incertezas, menor seria o preço atribuído aos recursos potenciais do pré-sal. Negociações envolvendo direitos de exploração de reservas são comuns em empresas internacionais, segundo a Petrobras, e oscilaram entre US$ 1,83 e US$ 15,95 por barril estimado no ano passado. Se a capitalização por parte do governo equivaler a 5 bilhões de barris - limite máximo - a preço de US$ 10, isso significará mais de US$ 50 bilhões no balanço.
A despeito da precificação das reservas, o impacto positivo do modelo de capitalização, para Villanueva, da Fitch, seria se investidores minoritários participassem do aumento de capital com dinheiro. Se o governo colocar US$ 50 bilhões em títulos e todos os minoritários acompanharem a União, isso poderia significar algo próximo de US$ 100 bilhões a mais no caixa da Petrobras, já que a União possui 32,2% do capital social da empresa. Esse dinheiro poderia beneficiar a situação financeira de forma objetiva e imediata. "Melhoraria o nível de caixa da empresa para fazer frente ao seu plano de investimentos e reduziria a necessidade de endividamento."
Na visão da Fitch, o processo de capitalização da forma como está moldado eleva ainda o risco político da empresa, porque pode representar um retrocesso em relação ao efeito positivo sobre o crédito das medidas orientadas ao mercado implantadas nos últimos anos, assim como às melhoras na governança.
Fonte: CFC Notícias
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