Sistemas ruins? Fatores inadequados? Prazos muito longos ou curtos? Formulários mal planejados?
Por Wagner Siqueira
Um sistema ruim pode ser trocado por outro melhor. Os fatores podem ser ajustados e adequados às características da organização e da natureza do trabalho dos profissionais objetos da avaliação. Os prazos podem ser modificados, negociados, encurtados ou estendidos. Os formulários podem ser mais bem concebidos e dimensionados em termos de cor, tamanho, campos e números. As dimensões de avaliação podem sofrer tratamento estatístico. No entanto, corrigir essas distorções significa tentar acertar os efeitos e não as causas da má avaliação. Persiste a dificuldade fundamental: a má avaliação decorre do mau avaliador.
As decisões do avaliador sobre o desempenho de seus subordinados, bem como as de outras pessoas, dentre elas o próprio gerente do avaliador, são calcadas na combinação que tenham quanto à realidade e à teoria. São decisões decorrentes da interpretação do que é observado, à luz do que se acredita. Na maioria das suas decisões, os avaliadores estão razoavelmente cientes dos conceitos que utilizam na interpretação dos fatos. No entanto, na interação humana a teorização parece bem mais implícita ou até mesmo inconsciente. As teorias sobre o comportamento humano que adotam parecem muito diversas das que praticam sobre o mundo objetivo dos recursos materiais, tecnológicos e financeiros das organizações.
Todos nós, ao que parece, tendemos a fazer generalizações sobre o ser humano, e isso é especialmente importante para distinguir o que é “prático” do que é apenas “teórico”, simples suposição sobre a natureza humana destituída de qualquer embasamento científico.
As suposições gerenciais podem expressar teorias deformadas da realidade, preconceitos ou discriminações, mas, no entanto, atenderem à necessidade de generalizações teóricas que sirvam de base à pratica. A teoria psicológica é tão necessária ao avaliador, que lida com problemas humanos, como as teorias eletrônicas, elétricas ou mecânicas ao profissional que se ocupa das máquinas e computadores. Sem teoria o técnico não pode identificar o que está errado quando o equipamento não funciona. Sem qualquer espécie de teoria psicológica, o avaliador não pode atribuir significação ao desempenho dos seus subordinados, nem será capaz de predizer os comportamentos das pessoas na efetivação de mudanças nas políticas e normas da organização.
Assim, para tornar-se mais objetivo na sua ação gerencial, o avaliador precisa conscientizar-se das suas suposições sobre a natureza humana na situação trabalho, legitimando as que devam ser preservadas e realmente adotadas, e minimizando as que se mostrarem disfuncionais, falsas ou construídas pelo preconceito, a discriminação ou a experiência equivocada.
Os programas de avaliação de desempenho implantados na maioria das organizações têm a sua legitimidade e validade contestadas porque enfocam essencialmente os detalhes técnicos e subestimam um fator que deveria ser alvo de maior preocupação: o avaliador.
A avaliação de desempenho é um processo natural e espontâneo, tem origem na interação entre pessoas que, por trabalharem juntas, vão normalmente avaliando-se, julgando-se, criticando-se fazendo juízo uns dos outros. A formalização desse juízo, com método, visa a dotar esse processo natural de um grau mínimo de racionalidade, mesmo que se reconheça que ele é, em si mesmo, intrinsecamente subjetivo.
Portanto, é fundamental que à ação gerencial sejam incorporadas as habilidades necessárias para a educação dos subordinados por meio da correção dos desempenhos insatisfatórios e do desenvolvimento ainda maior dos satisfatórios ou excelentes.
O juízo de valor que a avaliação de desempenho comporta costuma também suscitar uma resistência natural à assimilação de críticas e muita desconfiança quanto à pertinência dos instrumentos utilizados. Tais restrições muitas vezes são perfeitamente apropriadas, pois se originam da heterogeneidade das teorias que as inspiram e da utilização de pressupostos inteiramente subjetivos dos avaliadores sobre o comportamento do ser humano na situação de trabalho.
A heterogeneidade e as pré-concepções tornam ainda mais graves os vícios de avaliação praticados pelos avaliadores. Esses vícios devem ser conscientizados e evitados pelos que participam do processo, sob pena dos seus resultados serem desastrosamente comprometidos.
Fonte: Portal Administradores.com
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