23 de mar. de 2009

Novas regras contábeis impactam o lucro do Banco Cruzeiro do Sul

São Paulo, 23 de Março de 2009
A adesão antecipada à nova regulamentação do Banco Central (Resolução 3.553), que impede a apuração integral do resultado de cessão de carteiras de crédito no fechamento do negócio, foi um dos principais fatores a impactar o lucro do ano passado do Banco Cruzeiro do Sul, que ficou abaixo da estimativa de seus executivos de R$ 200 milhões de ganhos para o ano. Em 2008, a instituição registrou lucro líquido de R$ 178,91 milhões, uma queda de 24,2% comparativamente aos R$ 236,08 milhões do ano anterior. Excetuando despesas não recorrentes, o ganho ficou em R$ 191,4 milhões. Em 2007, ao contrário, o lucro foi impactado positivamente pela venda de participação na BMF & Bovespa, observa Luis Octavio Indio da Costa, diretor-superintendente do banco.
"Em termos recorrentes, provavelmente o lucro de 2008 ficou maior que o do ano anterior", afirma Indio da Costa, ressaltando que o impacto foi ainda maior já que o banco elevou a cessão de carteiras de crédito a partir do acirramento da crise financeira mundial, em setembro último, para assegurar maior liquidez. As despesas extraordinárias afetaram em especial o resultado do quarto trimestre, que ficou em R$ 1,1 milhão líquidos, para um lucro recorrente de R$ 17,3 milhões, 52,9% inferior ao do terceiro trimestre de 2008 e bem abaixo dos R$ 141,05 milhões de igual fase de 2007, ano em que o banco fez sua IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês). O lucro do período foi impactado também por marcação a mercado de títulos públicos e ações da Bovespa. Em 2008, a instituição verificou um retorno sobre o patrimônio líquido médio de 16,2%, ante 34,9% do exercício anterior. O patrimônio líquido ficou em R$ 1,06 bilhão ao final de 2008, alta de 2% em um ano.
No terceiro e no quarto trimestres o banco fez cessões de carteiras de crédito consignado, sua principal área de atuação, que atingiram R$ 1,48 bilhão, para instituições como o Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal e Banco Nossa Caixa, entre as principais. Assegurou contratos de cessão de R$ 150 milhões por mês, dos quais R$ 90 milhões com a Nossa Caixa, que não vencem antes do final deste ano, diz Indio da Costa. Por causa da crise, a cessão será a fonte mais importante de captação de recursos para 2009, afirma.
A carteira de crédito do Cruzeiro do Sul, incluindo as cessões, totalizou R$ 5,3 bilhões no encerramento do ano passado, um crescimento de 20,2% em 12 meses e queda de 1,2% em relação ao terceiro trimestre, reflexo da estratégia do banco de preservar a liquidez, reduzindo o volume de produção. A carteira de consignado (excluindo as cessões) somou R$ 2,88 bilhões, alta de 2,4% em um ano e queda de 16,1% ante o terceiro trimestre. Indio da Costa, contudo, acredita que a queda dos juros irá favorecer o mercado de consignado, que teve desacelaração em 2008. Apesar da crise, o executivo estima que o segmento possa registrar volumes semelhantes aos do ano passado, ou até maiores.
Outra aposta do Cruzeiro do Sul para este ano é o cartão de crédito consignado. Com mais de 1,22 milhão de clientes, sendo mais de 400 mil ativos, o valor financiado atingiu R$ 256,2 milhões, alta de 14,7% em relação ao terceiro trimestre e de 121,7% em um ano.
Diante da intenção do governo federal de assegurar o crédito no mercado por meio da compra de participações pelos bancos públicos, em especial a Caixa, de instituições financeiras de médio e pequeno portes, Indio da Costa diz que em momento algum o Cruzeiro do Sul foi sondado. "Genericamente" uma eventual oferta poderia até interessar ao banco, dependendo de como seria a gestão com os novos acionistas. "Se ele achar que o modelo operacional do Cruzeiro do Sul é confortável, é bom, interessa. No mínimo, uma boa conversa renderia. Mas se achar que não e o banco tiver que mudar muito e perder escala, não interessa."
Indio da Costa diz que um modelo de negócio que mais interessaria seria atrelado a uma grande linha de funding, para assegurar o crescimento rápido que o banco busca. "Não precisamos de mais patrimônio. Temos quase 21% de Basileia, o que nos dá bom espaço para crescer", afirma, observando que um acionista de peso traria com certeza novos investidores para o banco, mas não imediatamente. "É preciso tempo para o mercado saber que o casamento deu certo."
Fonte: Gazeta Mercantil (Iolanda Nascimento)

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