9 de mar. de 2009

Para elas, nada de crise!

Redução de doação não preocupa escolas de negócio
Do Valor Online
06/03/2009
No Brasil, as doações para as escolas de negócios de primeira linha começaram em 1960. O dinheiro vem de ex-alunos ou grandes empresas como Vale, Cemig e Itaú. Em algumas escolas, a verba de doações chega a mais de R$ 6 milhões por ano e é escoada para bolsas de estudo, reformas de salas, compra de equipamentos e criação de núcleos de pesquisa. Pelo menos até agora, nenhuma instituição acredita que a corrente de donativos vai se romper por conta da crise. 'Estamos buscando um volume de doações até acima do valor obtido no ano passado', afirma Elson Valim, diretor da Fundação Dom Cabral.
No Ibmec São Paulo, em 2007, o total das doações atingiu cerca de R$ 800 mil, distribuídos para um fundo de bolsas e patrocínio de salas. No ano passado, esse valor caiu para R$ 122 mil e em 2009, a instituição espera arrecadar R$ 500 mil. Para a gerente de relacionamento institucional do Ibmec-SP, Camila Du Plessis, ainda é cedo para dizer se a recessão vai afetar a generosidade dos doadores. 'A captação de recursos pode sofrer com a retração econômica, mas também é prejudicada pela pouca compreensão da importância da doação', analisa. 'Doar significa investir em resultados e impulsionar o desenvolvimento.'
O Ibmec-SP recebe doações para programas de bolsas de estudos desde 2004. No ano seguinte, iniciou uma campanha de patrocínio para ambientes na escola, como salas de aula, biblioteca, corredores, auditório e salas de professores. Hoje, mais de 100 alunos recebem bolsas e 21 espaços são patrocinados por companhias como Itaú, BM&FBovespa, Gerdau, Grupo Abril, Votorantim e Suzano Holding.
'Se as empresas deixarem de investir, contaremos com o apoio de pessoas físicas e da comunidade de ex-alunos', explica Camila.. A escola já graduou mais de 7 mil estudantes.
Na Fundação Dom Cabral, as doações chegam desde a década de 1990. A lista de parceiros inclui o Banco Alfa, Andrade Gutierrez, Fiat e Souza Cruz. Em 2007, o montante chegou a R$ 4,5 milhões, subiu para R$ 6,7 milhões em 2008 e a expectativa é alcançar R$ 7 milhões em 2009.
'Contamos com o apoio de antigos colaboradores e a crise global não vai interferir no fluxo de doações', acredita Valim. Se a estimativa falhar, o plano B do diretor é recorrer a financiamentos para tocar ações de pesquisa e desenvolvimento. No ano passado, parte do dinheiro angariado foi para núcleos de estudo em gestão de empresas e para a construção de um centro de conhecimento em gestão. 'O Brasil deveria ter uma política de incentivos fiscais para as doações às pesquisas nas escolas, como ocorre nos Estados Unidos.'
Para o advogado José Ricardo Martins, sócio do escritório Peixoto e Cury Advogados e especialista em sustentabilidade, é recomendável que as empresas se aproximem das instituições de ensino porque os alunos poderão tornar-se possíveis colaboradores. 'Ao firmar parcerias, elas contribuem para a formação de uma mão-de-obra qualificada.'
Segundo Martins, as doações no Brasil são geralmente usadas para construir e equipar salas, bibliotecas e laboratórios, além de bancarem pesquisas. 'Alguns contratos promovem cursos de especialização, em que as corporações cobrem os custos da iniciativa e têm suas marcas divulgadas'. Há, ainda, patrocínios de equipamentos, como computadores e projetores, que estampam o nome dos doadores.
De acordo com o advogado, em determinados casos, conforme o tipo de empresa, escola e doação, há a possibilidade de a doadora abater o valor cedido ou parte dele do imposto de renda. 'Uma empresa que trabalha com declaração de lucro real e faz uma doação na forma de recursos financeiros para uma entidade com título de utilidade pública pode ter abatimentos.'
Em 2007, o grupo lançou o programa Amigos do Ibmec, destinado a concentrar doações e patrocínios de empresas e pessoas físicas. Entre os participantes estão o Santander/Real, a Vale e o grupo Totvs, que apadrinham salas de aula. Já a Embratel colaborou com a criação de um centro de empreendedorismo no Ibmec Rio, inaugurado há um ano. 'Nos últimos dois anos, recebemos cerca de R$ 1,5 milhão em doações.'
Na PUC-SP, foram contabilizadas, entre 2000 e 2007, doações de empresas com valores entre R$ 5 mil e R$ 100 mil, em dinheiro, equipamentos e serviços. O valor total não foi divulgado.
Para o economista Paulo França, autor do livro 'Captação de Recursos para Projetos e Empreendimentos', se o dinheiro minguar com a turbulência dos mercados, a saída das escolas é lembrar às empresas que as doações sempre terão um impacto de marketing positivo. 'Os doadores poderão conquistar o público que frequenta as escolas.'
No Instituto Coppead de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, empresas nacionais e multinacionais patrocinam estudos e pesquisas há mais de 30 anos. 'Como o foco da captação é associado a ações de longo prazo, como pesquisas e bolsas, os contratos são assinados por, no mínimo, dois anos', garante Eva Pontes, assessora de desenvolvimento institucional do Coppead. 'Não prevemos diminuição de valores em 2009.'
Na Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), considerada a pioneira no garimpo de recursos entre escolas de primeira linha, há 143 empresas e 255 ex-alunos na pasta de doadores. O programa de obtenção de verbas para bolsas de estudo começou em 1960 e as doações são destinadas a projetos de infraestrutura, fundo de bolsas para a graduação e patrocínio de eventos.
'O volume de doações permaneceu constante nesses últimos anos e não deverá haver reduções significativas em 2009, graças à nossa estrutura de relacionamentos', assegura Zilla Bendit, coordenadora da assessoria de desenvolvimento institucional da FGV-SP. Em 2001, a instituição montou o Clube de Parceiros GV, que reúne patrocinadores como os bancos Itaú, Bradesco e Safra.
Na PUC-RJ, os bancos Santander e Icatu estão entre as empresas que apóiam projetos de ensino e pesquisa. O valor das doações em 2007 alcançou R$ 3 milhões, foi para R$ 2 milhões no ano passado e deve se manter este ano.
'Uma eventual retração nas doações não impactará na saúde financeira da instituição', afirma o vice-reitor administrativo Luiz Scavarda. A universidade conta com receitas provenientes de pesquisas e anuidades e não congelou investimentos. No final de 2009, corta a fita de um prédio financiado por meio de um convênio com a Petrobras, completamente dedicado a estudos na área de petróleo.


Fonte: Globo.com (PEGN)

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