25 de jan. de 2011

Aspectos Econômicos do Big Brother Brasil

Recomendo a leitura desse texto do Prof. Jorge Eduardo Scarpin, do Blog Contabilidade, Finanças e Atualidades, em que o professor faz uma análise econômica do Reality Show Big Brother Brasil. Bem mais do que apresentar os conflitos e exibições de personagens "pseudo-reais", com perfis previamente definidos e "midiaticamente' desejáveis, o programa existe para gerar caixa e equivalentes de caixa. Mas como defendiam alguns autores de textos de Teoria da Contabilidade e Contabilidade Financeira que li durante o Mestrado, essa é a tendência: "o caixa é o rei".

Aspectos Econômicos do Big Brother Brasil

Início de ano e somos "brindados" com mais uma edição do reality show mais famoso da TV brasileira, o Big Brother Brasil em sua décima primeira edição, sendo conhecido mais carinhosamente como BBB 11. Acho este programa um dos fenômenos de análise mais interessantes da TV brasileira, seja do ponto de vista econômico quanto social.

Acho algo fantástico sobre o BBB 11. É um programa que ninguém assiste, mas quase todo mundo sabe o que se passa nele. Será que não assistem mesmo ou será que existe uma certa "vergonha" em dizer que assiste? Quando eu era criança (década de 80), havia um programa, em Londrina-PR, que passava na hora do almoço, chamado Cadeia. Pelo nome, já devem saber do que se trata, era um programa pioneiro do estilo "mundo cão", onde Datena e Cia perderiam de goleada (para quem não conhece, entrem neste link do youtube - http://www.youtube.com/results?search_query=cadeia+alborghetti&aq=0). O que eu achava mais engraçado é que ninguém assistia o Cadeia, mas todo mundo sabia o que se passava nele porque, parafraseando Mano Brown, o primo do cunhado do meu genro assistiu e me contou, ou a empregada doméstica que trabalha em casa liga a TV e eu assisto. O fato prático é que, por anos a fio, seu programa, apresentado pela antiga retransmissora da TV Bandeirantes, depois CNT, era líder absoluto de audiência no horário. Penso que um fenômeno assim acontece com o BBB 11. E não é só isto, o BBB é um programa com altíssima reverberação na imprensa escrita via web, basta ver a quantidade de portais que abrem páginas especialmente dedicadas a este fim, tais como MSN, Uol, Terra etc. e que devem ter uma altíssima audiência.

Quais as conseqüências de tanta audiência e, principalmente, de tanta mídia espontânea? O primeiro é o aumento do Ibope, consolidando a TV Globo como líder de audiência, principalmente numa época pobre de programas, com as suas principais estrelas dos programas da faixa de horário pós novela em férias. E o segundo argumento é puramente financeiro. O BBB é um programa relativamente barato, muito mais barato que uma novela, por exemplo, pois o cachê dos "atores" é irrisório (falam em R$ 500,00 por semana) e mesmo o prêmio final é ínfimo (sei que é muito dinheiro, mas é menos do que o custo de uma semana de gravação de uma novela, por exemplo) e vende todas as cotas de patrocínio a um preço bem elevado. Apesar de não divulgar valores, estima-se que seja um dos maiores, senão o maior, faturamentos da casa.

Sendo um programa que traz retornos financeiros altíssimos para a emissora, temos que considerar alguns fatores que norteiam o programa, afinal, a TV segue a lógica econômica já de algum tempo. Vamos pontuar aqui alguns fatores.

1. O BBB é um programa que espelha a sociedade brasileira. FALSO. E é óbvio que é falso. A sociedade brasileira não tem este percentual imenso de gente sarada e bonita, assim como não tem um percentual tão grande de jovens e de homossexuais, por exemplo (e longe de mim aqui dizer que o programa não deveria tê-los, acho extremamente interessante, do ponto de vista mercadológico). E, por que então não refletir a sociedade brasileira no programa? Simples, porque isto é chato. Imagine juntar pessoas com mais idade, de diferentes classes sociais, gente bonita e feia em um mesmo programa. O resultado seria um programa sem emoção, seria um experimento científico, não um programa de entretenimento. E aqui vale a ressalva: nunca o BBB se intitulou como experimento científico, afinal, experimento científico é chato e maçante, precisamos ficar levantando amostras, comparando com padrões ou controles, fazer testes, comparar, verificar se não cometemos erros, transcrever resultados, analisá-los etc. Entretanto, pode-se utilizar o BBB para analisar padrões e comportamentos pessoais, mas isto é assunto lá para o tópico 3.

2. O que acontece na casa é fielmente apresentado aos telespectadores. FALSO. E aqui também é algo fácil de explicar. Encarem o BBB como uma novela. Em uma novela há um script que normalmente é mudado em virtude de aceitação ou não do público. Quantos casos já vimos que uma personagem que começou principal e morreu no meio do caminho ou virou secundária e vice-versa? No BBB é igual. Se o público mostra simpatia por um participante, a edição tende a mostrar coisas positivas dele ou tende a colocá-lo em evidência. E outra coisa, toda obra televisiva que se preze tem que ter o mocinho e o bandido, onde um dos dois vence no final. Se o BBB tem necessariamente um vencedor, por que não haveria o mocinho e o bandido? É muito mais fácil torcer pelo mocinho ou pelo bandido do que pelo Senhor João Ninguém. E isto é algo que a Rede Globo também nunca escondeu: o BBB é um programa de entretenimento, é a tal "novela da vida real".

3. Será o BBB realmente a "novela da vida real"? Aqui também é FALSO. Apesar da produção não dar ordens expressas para fulano ser bonzinho, para o casal se separar ou namorar, a casa é conduzida segundo regras e padrões. Os participantes da casa são guiados a terem comportamentos que o "Grande Irmão" (referência a George Orwell e meio que inspiração do programa) determina. Aqui podemos avaliar o programa do lado social e psicológico. Muitas vezes os participantes se comportam como cobaias em experimentos científicos, talvez até como os cachorros de Pavlov. Afinal, para que a bebida nas festas? E neste ano tem a figura do tal sabotador. Apesar de não saber exatamente como funciona, por não ser um aficionado, mas ter uma pessoa para prejudicar os outros muda o comportamento do grupo perante todos, pois vai haver sempre a desconfiança mútua que há algum falso entre eles, ou seja, os participantes serão guiados a serem mais desconfiados, a fazerem mais conchavos para saber quem os está sabotando, vai haver traições, pois uma sabotagem é um tipo de traição, ou seja, os participantes serão guiados a terem comportamentos que o público aprecia.

4. A votação do BBB é séria e idônea? Em minha opinião, VERDADE. E tenho uma plena convicção disto não porque ache a Rede Globo uma empresa ética acima de tudo etc etc etc. É uma razão econômica. Se ficar evidenciado que a votação é uma fraude, o programa será tachado de fraudulento e as empresas não irão querer ter sua imagem vinculada a um programa fraudulento. Ou seja, é melhor ter um participante que eu não gosto muito no programa e perder um participante "atrativo" do que perder milhões de reais com a fuga de patrocínio.

Enfim, muitos gostam, a maioria diz que não, mas o BBB é um programa que caiu como uma luva na programação da Rede Globo, principalmente no seu aspecto econômico. Entra uma receita muito grande no período de "entressafra" dos programas noturnos da casa a um custo muito baixo. Em virtude disto, vai estar nas nossas casas por muitos anos ainda, até que a receita de patrocínio caia a um nível que não seja mais atrativo economicamente para a emissora. E um conselho para os que não gostam. Praticamente 100% das TVs hoje em dia apresentam um dispositivo chamado "controle remoto", use-o sem moderação.

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